O apelo do amor

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ERA UMA MADRUGADA fria. A cidade de Gimpo não era silenciosa e isso o ajudaria a entrar despercebido. Jungkook espiou por trás da árvore; na mão segurava firme sua arma, o brilho prateado era refletido na luz do luar.

Sua respiração era visível aos olhos.

Não havia nenhum sinal de que algum morador estava acordado. Lembrava bem dos recados de Namjoon: "uma garota, a mulher e o maldito". Todos deveriam ser mortos e então ele receberia seu dinheiro.

Vestia-se de preto, e se não fossem as luzes da cidade, fundiria-se com a noite. Cauteloso, saiu agachado de seu esconderijo e foi até a entrada da casa, tirando da cinta de armamento a cópia da chave que tinha feito há cinco horas, logo depois do contrato. Abriu e deslizou a porta devagar. Deu o primeiro passo para dentro e atentou-se a tudo em seu redor.

Acendeu a lanterna com mira exata. Procurava por qualquer dispositivo perigoso que pudesse impedi-lo de continuar. Nada. Aquilo só revirou-lhe o estômago. Seja quem fosse o condenado, não parecia esperto o bastante; provavelmente era mais um daqueles que enganavam a família ao dizer que tinham uma vida "normal", ganhando dinheiro honestamente.

Ainda assim, todo o cuidado era pouco para um assassino. Entrou no que deveria ser a sala e viu, deitada no sofá, uma garota. Ela era magrela e com dedos finos, os quais agarravam a coberta sobre a boca enquanto dormia tranquilamente.

Era um péssimo momento para ela.

Destravou a arma e mirou para atirar em sua primeira vítima, mas assim que iria apertar o gatilho, os olhos da garota abriram e encontraram-se com os dele. Brilharam docilmente enquanto ela não despertava de fato a consciência, percebendo logo em seguida que era um estranho que estava em sua casa.

Por que não havia atirado ainda?

— Quem é você? — perguntou finalmente, assustada.

Jungkook engoliu em seco. Por que não apertava o maldito gatilho? Era algum tipo de encanto? Namjoon não havia dito que ela era tão bonita assim.

— Meu Deus... Vo-Você está armado...! — murmurou, arregalando os olhos de medo.

A garota rolou do sofá e caiu no chão, arrastando-se para trás sem sequer tirar os olhos da arma apontada em sua direção. Tremia em receio, sem saber o que fazer. Pensou que eram seus últimos minutos de vida.

— P-Por que está fazendo isso? — gaguejou.

O assassino abaixou a arma e dessa vez era ele quem tremia. Que diabos foi isso? Quantas haviam sido as vezes em que viu a vida se desfazer em sua frente por suas próprias mãos e nunca hesitara... até aquele dia. Não queria matá-la. Não queria perder aquela visão.

Seja quem fosse aquela garotinha jovem, jamais poderia feri-la.

O rapaz até guardaria a arma enquanto ambos não conseguiam deixar de se olhar — ela com medo evidente e ele intrigado —, caso um estrondo não houvesse chamado-lhes a atenção.

A porta ao lado se abriu, batendo contra a parede. Um homem fora do peso voou na direção do invasor, gritando insanamente algo como "fique longe da minha filha!" sem parar. O conflito corporal poderia ter durado mais tempo, porém um segundo estampido mais alto que o anterior deixou Dosu Kang imóvel, levando-o a cair de costas no chão.

Sua camisa branca marcou o sangue, que derramou-se pelo piso de madeira.

O tiro fora certeiro. Jungkook nunca errava.

Nos braços do inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora