E então eu desperto e mal consigo abrir os olhos. Tudo parece girar e tem algo errado. Tento abrir os olhos, tento, com todas as forças, mas não consigo. Fico desse jeito por mais uns segundos. Ou seriam minutos? Não estava conseguindo compreender a passagem de tempo muito bem.
Tento abrir os olhos novamente e eles continuam parecendo grudados. Que estranho. Seria um sonho? Sonho não, um pesadelo talvez. Mas não consigo me lembrar de ter pego no sono, de ter ido ao dormitório? Onde eu fui? Onde estou? Muitas perguntas se passaram pela minha cabeça, que ficava cada vez mais rodando.
De repente sinto alguma coisa estranha no braço, algo bem áspero. Áspero e molhado. Começo a entrar em pânico, tento mexer meus braços e não consigo. Tento contar até dez e, com muita força de vontade, consigo abrir um olho. Percebo que estou sentada, no chão. Tento virar os olhos na direção do braço, mas uma vertigem muito forte invada minha cabeça.
Foco em um ponto na minha frente e percebo que aquela parede cinza me parece familiar... O dormitório. Ok, estou no dormitório. Posso ter caído ali? Mas porque eu estava ali? Não conseguia me lembrar. Então escuto alguém me chamando.
- Olivia, é você?
Tento olhar para cima, em busca da voz que chama meu nome, mas só consigo olhar para o lado e perceber que a coisa áspera no meu braço era um gato, enorme e preto, me lambendo. Me assusto com isso e dou um pulo, afastando o gato de mim, que fez um "miau" bem alto e afetado. Em seguida, quase perco o equilíbrio, mas sou segurada pela pessoa que estavam me chamando.
- Olivia, é o Marlon - ele espera um minuto antes de perguntar - o que aconteceu? está tudo bem?
Marlon? Que Marlon? Demora cerca de um milésimo de segundo para associar ele como o namorado de uma colega de classe. Ao perceber que não falo nada, ele pergunta:
- Você bebeu quanto? Você está cheirando a bebida alcoólica. Abro a boca para dizer que isso é impossível, porém Marlon logo emenda:
- Ok, você definitivamente bebeu alguma coisa. Vou te levar pro seu quarto.
Ele me puxa até a entrada do meu quarto, enquanto somos seguidos por um "miau" afetado e para na frente da porta, bate várias vezes até que Audrey abre a porta com uma cara de "quem me acordou no meio da noite?". Mas assim que me vê ela solta um grito e diz:
- Olivia, o que aconteceu?
Ela dá espaço para que Marlon entre no nosso dormitório e me coloque sob a cama. Ela começa a fazer mil e uma perguntas para ele, que não sabe o que responder, apenas que me encontrou sentada na entrada dos dormitórios, sendo lambida por um gato. Que situação ein, Olivia? Mas não consigo pensar por muito mais tempo, logo minha cabeça começa a rodar novamente e me vejo pegando no sono. Não lembro de ter sonhado, mas assim que acordo e abro os olhos, com a maior enxaqueca já sentida na face da terra, me vejo frente a frente com Audrey, Claire, Timothy e Zac, que estão me observado, com olhos apreensivos.
Tento me sentar, mas minha cabeça ainda está girando. Audrey corre para perto de mim e diz que não preciso me levantar. Acho impossível não levantar com todos aqueles olhos virados para mim, então faço muita força e me encosto na parede.
- Liv, como você está se sentindo? - Zac pergunta, apreensivo.
- Melhor do que você imagina, juro! - tento descontrair e dar risada, mas isso só faz com que minha enxaqueca aumente ainda mais.
- Você claramente não está bem - diz Audrey, tentando soar o mais educada possível.
Então segue-se um silêncio horrível. Timmy e Zac parecem estar olhando para o nada, enquanto Audrey e Clare trocam olhares preocupados. Começo a entrar em pânico, afinal alguma coisa está acontecendo e eu não consigo me lembrar de nada que aconteceu na noite passada. Nada além do gato e de ser encontrada por alguém. Espere, e o gato?
- Onde está o gato? - eu pergunto.
- Que gato? - quis saber Timothy e Zac
- O gato que estava te dando um banho essa noite? - perguntou Audrey.
- Talvez devêssemos chamá-lo - indagou Timothy - bom, podemos concordar que seu cheiro no momento não é dos melhores e talvez - ele tossiu - você precise de um.
Audrey, Clare e Zac lançaram olhares de "cala boca" para ele, mas Olivia teve que compreendê-lo, o cheiro dela realmente não estava bom, ela fedia a bebida alcóolica forte, whisky, ou quem sabe tequila.
- Olivia, querida - disse Audrey - você se lembra de alguma coisa?
- Minha cabeça está latejando, mas não consigo me lembrar de nada - eu disse, voltando a me desesperar.
- Qual é a última que você se lembra? - perguntou Clare.
- Hmm, acho que a última coisa que me lembro - fiz força para conseguir lembrar - é de que acordei na entrada dos dormitórios - suspirei um pouco - e logo escutei a voz de alguém e vim parar aqui. Lembro da cara da Audrey quando ela abriu a porta do nosso dormitório de madrugada.
- E você não lembra de nada, nadinha? - quis saber Zac.
- Não, minha cabeça parece que vai explodir, mal consigo associar que vocês estão aqui - eu disse.
Todos se entreolharam, com bastante receio antes de Audrey dizer:
- Liv, você saiu daqui dizendo que ia na casa do Theo, acabar com tudo. Você não se lembra de ter ido para lá ou de ter ido para outro lugar?
Antes que eu pudesse pensar em responder, quase que por mágica, todos os celulares tocaram. Todos. Nos entreolhamos por um momento, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Então eu disse:
- Alguém poderia, por favor, ver o que é? Não sei onde meu celular está e creio que se eu começar a me mexer muito, tenho grandes chances de cair...
Eles continuaram trocando olhares por um segundo, até que Zac levou a mão ao bolso e tirou o celular de lá. Não demorou nem 10 segundos pro rosto dele mudar de feição e ele gritar
- EU... VOU...MATAR...AQUELE...DESGRAÇADO - ele urrava de ódio enquanto falava.
Audrey deu um pulo e foi em sua direção, bem a tempo de Timothy olhar por sob os ombros de Zac e falar:
- Somos dois entao - ele disse, com a cara fechada.
Audrey e Clare finalmente conseguiram acesso ao celular e ficaram brancas como papel. Olharam para mim e falaram, juntas:
- Eu sinto muito Liv, você realmente não merecia isso...
Fiquei tordoada, tudo começou a girar, mas consegui pegar o celular da mão de Audrey antes que ela pudesse me impedir. Assim que olhei não consegui acreditar. Fui tomada por um desespero, seguido de uma raiva que nunca tinha sentido antes. Aquele cafajeste. Aquele idiota. Aquele babaca.
Theo. No seu storie, para todo mundo ver, estava eu, em semi nudes. Com cara de bêbada. Como eu não me lembrava de nada disso?
Antes que eu pudesse abrir a boca, Zac olhou para mim e disse:
-Posso acabar com ele, Olivia?
- Se você não for, eu vou - emendou Timothy, puxando o amigo pelo braço e saindo do dormitório.
Clare estava possessa de raiva também e seguiu os dois pisando duro e dizendo entredentes "vou acabar com ele".
Audrey parecia estar tão brava quanto os três, e querendo acabar com Theo também, porém sabia que nunca poderia abandonar a amiga em uma situação como aquela. Ela ficou trocando o peso entre os pés por um bom tempo até dizer:
- O que acha de tomar um banho? Eu te ajudo.
Assenti, sem conseguir pensar em mais nada. Audrey me levou, ou melhor, me arrastou até o banheiro, e assim que a água começou a cair sob meu cabelo as lágrimas vieram. Forte.