13. O sorvete

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E então se seguiu um desconfortável silêncio, que pareceu durar horas. Tenho certeza absoluta que fiquei vermelha, igual um pimentão. O que eu respondo? Eu agradeço? Mas e se eu parecer convencida? Não quero dar essa impressão para o Timothy, não quero que ele pense que sou parecida com a Katarine... que raiva que sinto toda vez que penso nela!!!!!!

Talvez ele tenha percebido, pela minha cara, que eu não conseguia encontrar uma resposta e então chamou a garçonete e pediu a conta. Na hora de pagar Timothy pediu para que dividisse a conta por dois, pagamos e fomos para a calçada. Mais um minuto de silêncio se seguiu e Timothy passava a mão toda hora no cabelo e eu só conseguia pensar no como ele é lindo demais.

A lanchonete ficava de frente para um parque iluminado, com lâmpadas amarelas e estava lotado! Inúmeras barraquinhas de comidas e lembrancinhas se espalhava pelo parque, isso me lembrou muito os festivais de comida que eu tanto adorava ir.

- Timothy, o que acha de irmos no parque?

- Ah, nós acabamos de comer um lanche, batata e milk-shakes gigantes... você quer comer mais? – ele disse, me provando.

Não pude deixar de rir, o sorriso dele era tão lindo...

- Talvez um sorvete? – ele me olhou incrédulo – pooooor favor...

- Ok, vamos. Mas só se você me prometer que não vai mais me deixar no vácuo, seguindo de um silêncio horrível – ele disse, sério.

Antes que pudesse me defender, ele riu, e me puxou pelo braço em direção ao parque.

Aquilo não parecia nenhum dos festivais de comidas do Brasil, nem de longe. Parecia que eu estava em um cenário do Pinterest, era muito fofo. As tendas de comida eram coloridas e tinham comidas para todos os gostos, inclusive várias com comida vegana, que me fizeram lembrar de Audrey e de como eu precisava contar para ela sobre a aula de hoje cedo.

Comprei um sorvete de cookies and Cream e sentamos num banco, mais afastado do corredor principal. Depois de conversar sobre coisas aleatórias, tive coragem de perguntar:

- Você realmente acha que a Katarine estava com ciúmes de mim?

- Acho. Conheci a Katarine há duas semanas. Nos esbarramos pelo campus e começamos a conversar desde então. Ela é muito legal, sabe? – ao ver minha cara de desconfiada, ele emendou – ok, talvez comigo ela seja legal. O Zac também não gosta dela, diz que é metida demais.

- Concordo com o Zac. Além do mais, nada justifica o que ela fez comigo hoje. Nós interagimos poucas vezes, desde o início das aulas, não fiz nada para ela! Te juro! Porque mentir, na frente da classe toda, dizendo que eu não fiz o trabalho? Eu passei dias fazendo, pergunte a Audrey!

- Não sei, mas acredito que você deveria procurar o professor e conversar sobre isso? Acho que sua saída triunfal, no meio da apresentação, não foi muito legal, Olivia.

- Eu sei, mas eu simplesmente não consegui me defender. Não consegui pensar em nada, na verdade. Tudo o que senti foi raiva...

Foi então que senti as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto. Tentei impedir que isso acontecesse, mas não consegui. Pela primeira vez, desde o momento que tudo aconteceu hoje cedo, eu pude sentir tudo. Os sentimentos vieram todos de uma vez, sem que eu pudesse me defender deles. A raiva, a tristeza, a humilhação... tudo se transformou em lágrimas.

E então algo me surpreendeu. De um jeito bem desengonçado, senti as mãos de Timothy passando pelo meu braço, bem devagar, talvez estudando qual seria minha reação ao toque. Suas mãos foram ficando mais pesadas em meu braço, até que, automaticamente, eu o abracei.

Antes que eu pudesse perceber e me arrepender disso, senti seu braço passando por meus ombros. Ele era muito cheiroso e quente. E um sentimento começou a preencher meu peito. O acolhimento. Desde que me mudei para Nova York, me senti sozinha, longe dos meus pais, dos meus amigos, por mais que tivesse a companhia dos novos amigos, não era a mesma coisa, eu ainda me sentia uma estranha, fora do ninho. Pela primeira vez me senti acolhida, como se, pelo menos naquele instante, tudo fosse ficar bem.

E como nada nesse mundo é perfeito e parecendo um recado do universo para mim de que minha vida não é um conto de fadas e muito menos uma comédia romântica clichê... senti o sorvete escorregar por minhas mãos e cair na parte de trás da calça do Timothy.

Ele se soltou do abraço, tentou olhar sua calça várias vezes e me encarou. Pronto Olivia, você consegue um minuto super fofo com um cara lindo e cheiroso (sério, muito cheiroso) e consegue estragar? Típico. Essas coisas só podiam acontecer comigo, que clichê.

Corri oferecer os guardanapos do sorvete para que ele limpasse a sujeira que causei, mas digamos que não ajudou muito.

- Olivia, preciso ir. Tenho umas pesquisas para fazer pra aula de amanhã.

- Ah, ok. E me desculpe, sério! – eu disse.

- Tudo bem – ele disse – uma mistura de sorvete e lágrimas, acho que tá tudo bem, não é? – ele disse, rindo.

Caminhamos de volta para a moto e seguimos em direção ao campus. No caminho, senti seu celular, que estava na jaqueta dele, vibrar várias vezes, aparentemente alguém queria MUITO falar com ele. Ao chegar no estacionamento Timothy parou a moto, tirou o celular do bolso e eu desci da moto. Na hora que fui em sua direção, entregar o capacete, consegui ver uma mensagem, da Katarine: Timmy querido, minha apresentação de hoje foi um sucesso!!!! O que acha de irmos comemorar hoje? Por minha conta!!!!.

Senti meu rosto começar a pegar fogo. QUE RAIVA. Aquela cobra me fez passar a maior vergonha da minha vida, na frete da sala toda e do professor! E ainda quer comemorar? Certeza que deve estar rindo da minha cara! Entreguei o capacete para Timothy e disse:

- Obrigada pelo passeio Timothy e me desculpe pelo que aconteceu. Prometo que não sou sempre tão desastrada assim. Sério, obrigada!

- Sem problemas Liv, espero que esteja melhor. E sem problemas quanto ao sorvete, tá?

Acenei para ele e caminhei pisando duro em direção ao meu dormitório. Assim que coloquei a mão na maçanete do quarto, Audrey abriu a porta e se assustou ao me ver. Ela me lançou um olhar espantado e disse:

- Olivia, que olhar é esse? Vai matar alguém? Espero que não seja eu. Sou muito jovem e bonita para morrer, tá?


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