24. A música

56 12 23
                                    

Fiquei alguns minutos no banheiro, apenas me olhando no espelho. Alguma coisa estava errada. Mas o que? A decoração do evento estava perfeita, Claire arrasou com as crianças e manteve o pessoal entretido. Zac e Timothy iam tocar e eu sei que arrasariam. Porque estava tão nervosa?
Lavei meu rosto com bastante água gelada, respirei fundo e sai do banheiro.

As pessoas pareciam estar se divertindo. Ótimo, uma coisa a menos para eu me preocupar. Quando olhei perto do palco vi Audrey acenando para mim. Quando cheguei ela já falou:

- Tem alguma coisa errada com o Zac...parece que ele vai vomitar. – ela disse, meio nervosa.

- Agora? Mas a apresentação dele é a próxima – eu disse, nervosa – Ai meu deus.

Entrei no vestiário, ou melhor dizendo, nosso camarim adaptado e logo localizei Zac. Ele estava andando pra lá e pra cá, passando a mão na cabeça e falando sozinho.

- Nunca vi isso, juro! Ele nunca ficou tão nervoso assim pra uma apresentação. E olha que já fizemos isso várias vezes. – Timothy deu de ombros.

- Você só precisa relaxar, Zac, vai dar tudo certo. Vocês vão arrasar – Audrey emendou.

- Não... não vou – ele olhou para mim e virou o rosto – nunca fiz isso antes. – Zac disse.

- Pegue Zac, você precisa relaxar – Timothy estendeu um cigarro para o amigo, mas pegou de volta assim que viu a expressão de desaprovação estampada na cara de Audrey e na minha.

- Como assim nunca fez antes? O Timothy acabou de falar que vocês já fizeram isso antes - eu indaguei

- Já, várias vezes – ele disse, pensativo – mas nunca desse jeito.

- Que jeito? – perguntei

- Nunca cantei uma música de minha autoria – ele disse, levantando o olhar e me encarando.

- Nossa, mas tenho certeza que você vai arrasar! Você arrasa em tudo – eu disse, sorrindo para ele.

Depois de muito conversar e incentivá-lo, Timothy conseguiu empurrar ele até a entrada do palco. Audrey começou a introduzir a próxima atração, enquanto eu fui verificar nossa roupa especial. O evento seria finalizado com sorteios bem legais e nós ficamos responsáveis por apresentar, com direito a vestido mais formal e tudo.

Audrey e eu passamos um dia todo visitando brechós das redondezas atrás de uma roupa mais “formal”, que era o que a situação pedia. Não queríamos pagar caro em uma roupa que sabíamos que usaríamos poucas vezes e, infelizmente, eu não teria tempo suficiente para desenhar e costurar do zero. No fim, eu peguei um vestido lilás com babados e Audrey encontrou um terninho preto bem elegante.

Tudo estava certo com nossas roupas, posicionados numa arara próxima ao palco, para que assim que a apresentação dos dois terminasse nós trocássemos de roupa, enquanto Theo faria sua apresentação. Ao andar em direção à prateia alguma coisa chamou minha atenção e paralisei.

Olhei em volta e não vi nada diferente, tudo parecia normal. Mas um cheiro bem característica surgiu no ar. Cheiro de especiarias e... flores. Isso, flores! Alguma flor oriental. Mas de onde vinha esse perfume? Pensei em verificar, porém comecei a escutar o som de um violão e fui em direção ao palco.

Timothy tocava perfeitamente o violão e Zac ainda tinha o nervosismo estampado em seu rosto. A música foi tocada só violão e voz e me surpreendi demais quando Zac começou a cantar. A voz dele era fofa e calma enquanto a de Timothy era mais grossa e rouca.

Depois de notar todos os detalhes possíveis sobre os dois garotos, comecei a prestar atenção na letra da música. Era profunda e Zac cantava como se estivesse desabafando sobre algo, como se aquelas palavras fizessem parte de uma lista de “tudo o que eu queria dizer, mas não consigo”.

Ao me ver no canto da prateia, ele olhou pra mim e cantou, olhando diretamente nos meus olhos:

“The first touch
The first kiss
First girl to make me feel like this
Heartbreak
It's killing me
I loved you first, why can't you see?”

Meu coração parou por um instante. Ele estava falando de mim, com certeza estava falando de mim. Fiquei paralisada olhando para ele. Audrey apareceu correndo ao meu lado e disse:

- Olivia, vamos logo, a gente precisa se trocar.

Ao perceber que eu não me mexia, ela me segurou pelo braço e começou a me puxar para dentro do camarim. Assim que pisei no chão de carpete meu coração parou, pela segunda vez em menos de 20 segundos. Vários pedaços de tecido lilás estavam espalhados pelo chão.

Antes que eu tivesse tempo para pensar alguém esbarrou em e disse, antes de subir no palco:

- Ops. Acho que alguém ficou sem roupa.

Ao me virar em direção a voz percebi quem era.
.
.
.
.
.
Katarine.

OliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora