𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 1

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Todos nós temos nossos horrores e nossos demônios para lutar
Mas como eu posso ganhar quando estou paralisado?
Eles rastejam na minha cama, enrolam seus dedos em volta da minha garganta
É isso que eu recebo pelas escolhas que eu fiz?

Bring me the horizon.

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10 de Junho de 2004

  Coliseu - Itália

As correntes prendiam meus braços os deixando esticados, meus joelhos ardiam em contato com o chão com pequenos pedregulhos perfurando minha pele, quanto mais eu me mexia, mais as correntes eram puxadas causando uma dor insuportável. A chuva gélida caía em meu corpo fazendo com que cada centímetro, cada nervo de meu corpo gritassem implorando pelo calor, não sabia ao certo quanto tempo eu estava daquele jeito, me sentia imponente, me sentia inútil. Fechei meus olhos e gritei em plenos pulmões, mas não era um grito de socorro, era um grito de ódio, de repulsa, minha garganta queimava, meu corpo entrava quase em choque.

— Sai che giorno è Dante oggi?  (Sabe que dia é hoje, Dante?  ) —perguntou a voz que ele reconheceria em seus pesadelos mais horrendos. Poderia estar em coma que ainda sim, reconheceria a voz.

Puxei as correntes em uma tentativa inútil de tentar sentir um pouco mais de alívio, meus braços estavam dormentes, não conseguia sentir o movimentar de meus dedos, apenas uma dormência incomoda.

—Risposta. ( Responda. ) —esbravejou a voz, ordenando com severidade. 

—Si signore. ( sim senhor ) —respondi de forma áspera, meus lábios mal se abriam devido ao frio, meus dentes batiam um no outro.

O dono da voz então sorriu, amargo, sádico, digno de um verdadeiro chefe, é isso o que ele é. O chefe da Máfia Italiana, e eu, era seu filho. Não sabia na época, mas agora sim, de uns anos para cá, estava sentindo a dor, o sofrimento, a tortura, me fazendo desejar a morte todos os dias, sem jamais alcança-la. 

—E sai perché lo puniamo ogni anno lo stesso giorno?  Questo stesso mese?  ( E sabe porque nós o punimos todos os anos nesse mesmo dia? Neste mesmo mês? ) —perguntou Joseph. Este é o nome do demônio que me adotou como filho. 

Levantei a cabeça para encará-lo, o mesmo trajava roupas elegantes e tão negras quanto a escuridão, segurando um imenso guarda-chuva, sorrindo, se divertindo com meu sofrimento, não sei o quanto meu ódio estava evidente em meu rosto, mas quanto mais ódio eu sentia, mãos ele se sentia satisfeito. 

—si signore. (Sim senhor. ) —respondi com dificuldade, as palavras não saiam compreensíveis, porém não importa, o que importa é que Joseph só queria obediência e submissão.

—Così.  Dimmi. ( Então. Diga-me ) —Ordenou friamente.

As correntes foram puxadas no limite, gritei de dor, parecia que em mais uma puxada eu teria meus braços arrancados, eu odiava tudo isso. Odiava ter me sentido acolhido por eles. 

Talvez a morte seja melhor do que essa vida.

—È l'anno della morte della mia famiglia. ( É o ano de morte da minha família.) —respondi entre lágrimas e desespero.

Joseph sorriu novamente, seus sapatos caros pisavam com leveza na lama e água, a chuva parecia não dar trégua um segundo sequer. 

—È vero figliolo.  E sai perché lo punisco ogni anno in quella stessa data?  In modo da non dimenticare mai chi ti ha salvato.  Attraverso il dolore si crea il miglior soldato, ed è quello che voglio che diventi Dante.  Un soldato leale e senza paura, severo e freddo.  Un giorno sarai un capo, quindi dovrai imparare a esserlo. ( É verdade, filho.  E você sabe por que eu o castigo na mesma data todos os anos?  Para que você nunca esqueça quem o salvou.  O melhor soldado é criado através da dor, e é isso que quero que Dante se torne.  Um soldado leal e destemido, severo e frio.  Algum dia você será um chefe, então terá que aprender a sê-lo.. —discursou Joseph com frieza e destemor.

Não o respondi, tampouco implorei por alívio e ajuda. Por anos eu pedia, chorava de medo, mas agora. Agora eu sentia ódio.

Se ele quer que eu me torne alguém como ele, então ótimo, porém, serei ainda pior, e irei mata-lo ou destruir seu império, o que vier primeiro. 

Todos os anos eram torturas diferentes, meses e meses eu era treinado, tive meus dedos quebrados sempre que eu não fazia algo corretamente, aprendi o idioma deles e entre outros, e sempre ouvindo a mesma coisa. Que um bom chefe, são aqueles que têm o coração de pedra, uma frase que estava marcada com ferro e fogo em minha mente, mesmo querendo esquecer, seria totalmente impossível.

Tenho quatorze anos agora, e parece que quanto mais eu cresço, as punições se tornam pesadas, ainda mais dolorosas e traumáticas. Uma criança não deveria viver dessa forma, não deveria ter visto a família toda se redigir a cinzas, não deveria sentir dor de diversas maneiras diferentes, enfim, não deveria passar por isso. Pensei em tirar minha vida várias vezes, e quando tentei, Joseph me impediu, porém, me jogara em uma cela fria e pútrida, sem comer ou beber por quase uma semana, e foi assim que entendi que toda reação que eu tiver, que não seja do agrado do chefe, eu serei punido de modo severo.

As correntes foram soltas e senti um alívio e um formigamento no braço, meu corpo todo estava dolorido, gelado, permaneci ainda de joelhos, chorando baixinho, pedindo para qualquer Deus, que me ajude a passar por isso, que me torne um homem forte. Um homem se aproximou de mim e me puxou com força para que eu ficasse de pé, não enxergo bem seu rosto mas conhecia. Fui levado para fora do lugar quase arrastado, adentrei o carro e não tardou para que o homem me entregasse um cobertor e toalhas.

Creio que minhas súplicas e orações sejam totalmente em vão, e será preciso recorrer a outra entidade, porém, essa, irá pedir algo em troca, e cansado de sofrer tanto aceitei tal barganha. Entrar no inferno foi algo no qual eu não tive escolha, e também não fazia idéia, era apenas uma criança. Posso estar trocando uma dor por outra, quem sabe não me seja benéfica em algum momento, ou em vários.

Se está no inferno. Faça um pacto com o Diabo. Deixe que ele lhe ensine o verdadeiro sentido da palavra. Vingança.

Isso é o que pretendo. Ser um homem pior do que aquele que me acolheu, e fazê-lo se arrepender de ter me causado mais dor do que eu já sentia.  Trauma, depressão, parecia ser mediano comparado a tortura física e psicológica, isso destrói qualquer traço humano que alguém poderia ter.

Não há nada de humano em mim.

Se há um lado bom da vida, com certeza eu jamais saberei qual é.

Portanto. É hora de amadurecer, de me tornar um homem, de me tornar um rei e o chefe dessa porra.

A dor que me foi feito por anos, terei o imenso prazer de retribuir de modo ainda mais demoníaco e perverso. 

O inferno está vazio. Pois todos os demônios estão na Terra. Não só demônios. Mas também o Rei.

O Diabo Está Vindo. 

Reze para não adentrar meu caminho. Reze para que não ouça meu nome. E se ouvir. Melhor garantir sua entrada no céu, porque farei o inferno queimar para que sua alma seja minha. 

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EM BREVE !

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