CAPÍTULO TREZE

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CAPÍTULO TREZE

ANO: 2050

Luanda: 19:00

Quarta-Feira

Osíris Kandimba

A noite estava fria, a cidade luminosa, pessoas andavam em direcções opostas e em meio aquela gente toda apenas uma chamava a minha atenção. Lá estava ela em pé, com seus caracóis mais vivos que a própria vida, um vestido preto que não ultrapassava o joelho e um all stars da mesma cor. Me aproximei dela, ela se virou e notou a minha presença.

– Oi Osíris. – Disse Isabel.

– Oi. Você está... Muito linda.

– Nossa! Isso foi...

– Cliché, eu sei.

– Por vezes o cliché pode ser o mais real. – Disse Isabel.

Sério, tem como não ficar de queixo caído por ela? Ela sabe sempre o que dizer e como dizer. Ela é perfeita, que se lixe os padrões de perfeição impostos pela sociedade. Minha definição de perfeição se resume a ela.

– Então, para onde nós vamos? – Disse ela logo em seguida.

– Na verdade, já estamos no local. – Respondi e apontei o indicar em direcção a uma humburgaria.

Caminhamos até a humburgaria, o local era pequeno e aberto, ficava perto da estrada e tinha apenas cinco mesas. Fizemos o pedido: dois hambúrgueres, sem salada nem milho. Os dois escolhemos igualzinho. Pra beber: duas cocas geladas.

– Nunca vi você de saltos. – Falei.

– Não gosto muito.

– No começo, os saltos altos foram feitos para os homens. Soldados persas usavam para proteger seus pés enquanto andavam a cavalo. Isto no século xv.

– Não sabia disso. – Respondi com um sorriso simpático. - Posso perguntar uma coisa?

– Sim, claro.

– Eu sei que já não sou tua terapeuta, e não estou a tentar estragar a nossa saída transformando ela em um sessão de terapia. Mas eu preciso perguntar isso.

– Não se preocupe, pergunta a vontade.

– Segundo tudo que você já me contou, sobre seus traumas e tal. Qualquer outra pessoa no seu lugar optaria por tirar sua vida, eu preciso saber se você tem tido pensamentos suicidas ou se alguma vez já tentou? – Seu olhar fixou o meu, como alguém que estivesse disposto a monitorar a situação e não deixar a verdade escapar.

– Não, eu nunca pensei nisso. – Respondi e sorri em seguida.

– E nem tentes, até porque tu és católico e sabes que tirar a própria vida é um pecado sem perdão. Podes ir parar no inferno. – Disse ela em um tom irónico tentando parecer engraçada.

– Se for assim 70% das pessoas no mundo vão para o inferno, uns se matam aos poucos no álcool, outros nas drogas. Qual é a diferença de alguém que só adiantou o processo? No final, todos tiraram as próprias vidas.

– É uma perspectiva até que aceitável. – Disse Isabel.

Depois de um tempo a comida chegou a mesa, começamos a saborear ela. Ficamos uns segundos em silêncio e retornamos a nossa conversa.

O VILÃO NÃO MORRE NESTE LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora