CAPÍTULO UM

201 19 63
                                    

CAPÍTULO UM

ANO: 2050

Luanda 4:30

SEGUNDA - FEIRA

Osíris Kandimba

Despertei do sono profundo. Com a respiração ofegante, o corpo suado e o coração acelerado. É chato ter o mesmo sonho durante anos, parece que eles querem trazer o episódio mais traumático da minha vida a tona. Pesadelos desgraçados! Eu nem lembro qual foi a última vez que dormi em paz, aliás, eu nem sei o que é ter paz.

A escuridão dominava meu quarto, mas não apenas ela, a pobreza também. Meu quarto tinha apenas duas coisas "Uma vela acesa e um colchão estendido no chão." Acho que eu nem deveria chamar isso de pobreza, é uma falta de respeito comparar os pobres a isto. Vou chamar de miséria. Isso aí, eu sou um miserável.

Me levantei e caminhei pra sala de casa, tenta imaginar a sala de um homem miserável. Já tentou? Acredito que a imagem que você tem na cabeça é bom melhor que a minha realidade. "Uma vela e um balde de água" É tudo que tenho em minha sala.

Abri o balde coloquei um pouco de água no copo e comecei a beber. De repente ouvi uma porta se abrir do meu lado direito.

– Você teve aquele sonho de novo, Osíris? – Perguntou Paulo.

Paulo é o senhor que me criou. Depois do assassinato da minha família ele me adoptou como filho. Ele foi o melhor amigo do meu pai, ele foi um dos melhores fuzileiros do país.

– Chamas aquilo de sonho? – Perguntei.

– Pesadelos também são sonhos.

– Pesadelos são fruto do nosso subconsciente, meus traumas são reais.

– Seja como for, você precisa ir ter com a terapeuta ainda hoje. – Disse o senhor Paulo.

Acenei com a cabeça em seguida dei um gole no copo. Sim, eu tenho uma terapeuta. Muito chique né? Mas ainda assim sou um miserável, eu faço terapia em uma associação cujo seus objectivos são unicamente filantropos. Eu nem gosto de estar lá, mas meu tutor exige que assim seja. Fazer o quê?

Depois do assassinato da minha família, fui acolhido pelo senhor Paulo. Ele me treinou, e educou. Eu nunca fui a escola, aprendi a ler e a escrever em casa. Sou um prodígio, mas não um daqueles que sonha em descobrir a cura do câncer. Eu sou um prodígio a busca de vingança. Faz anos que eu estruturo um plano para realizar minha vingança. Eu já tentei tirar essa a vingança da minha cabeça, eu achei que ela apenas alugou um espaço dentro do meu cérebro e em breve sairia mas a verdade é que a vingança comprou uma casa dentro dela e vive lá há anos.

Já tentei seguir outro caminho, fiz o alistamento militar, isso foi há sete anos quando eu recrutei e por acaso fui o melhor entre os recrutas. Mas eu sentia que não conseguia respirar, era como se alguém estivesse com as mãos presas ao meu pescoço. Foi aí que notei que a vingança era o meu oxigénio. Eu preciso dela pra respirar. Então desertei do exército e continuei a estruturar a merda do meu plano que tem um único fim "A morte do presidente." Possa ser que as pessoas me julgam pelo facto de viver por vingança.

"Talvez você devesse deixar pra lá" creio que estejas a pensar isso, mas eu não posso simplesmente deixar pra lá, minha família era tudo pra mim, minha família era o meu oxigénio, a minha razão de viver. Aí um filho da puta qualquer decide tirar toda ela de mim. Eu precisava de um novo oxigénio porque naquele dia eu deixei de respirar.

Então a vingança passou a ser o meu oxigénio, eu não estou a procura de vingança, só estou a tentar respirar. Eu também não espero que entendas, sério mesmo, eu não espero.

O VILÃO NÃO MORRE NESTE LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora