CAPÍTULO VINTE E DOIS

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CAPÍTULO VINTE E DOIS

ANO: 2050

Luanda: 22:58

Quarta-Feira

Osíris Kandimba

Quando eu era pequeno eu era fanático por heróis, aplaudia eles e almejava ser como eles. Depois eu cresci e comecei a entender os vilões, a vida adulta é a maior inimiga do homem e heróis não sabem como enfrenta-la.

Aos poucos meus olhos se abriam enquanto ouvia vozes falando por todos os lados. Minha visão estava fusca, aos poucos se tronava mais nítida. Minha cabeça doía, como se alguém tivesse jogado o peso do mundo nela. Forcei os olhos a ficarem fixos ao cenário a minha volta. Na minha frente estava Micael, com as mangas da camisa branca enroladas para cima, uma gravata preta e uma corrente embrulhada em seus punhos.

– Bom, ele está a acordar. – Disse Micael. Ou talvez tivera sido outra pessoa dizer, eu não sei. Estava tonto.

Notei que estava sentado em uma cadeira, perto de uma mesa com as mãos algemada, as algemas estavam colididas a mesa. No meu lado direito estava Alisson em pé. Com um terno preto e uma gravata da mesma cor, sua cabeça tivera sido cuidada por algum médico.

Notei o curativo feito nela, provavelmente tivera sido o cano da arma que usei contra ele. No meu lado esquerdo estavam dois agentes do serviço de investigação criminal, no meio deles havia uma jovem o rosto dela não me era estranho.

– Alguém pode trazer um café pra mim, por favor? – Perguntei.

– Seu filho da mãe! – Gritou a jovem enquanto tentava vir pra cima de mim. Seus colegas travaram ela.

– Se acalme jovem, eu só pedi um café.

– Você quer um café? Eu vou te dar um café. – Disse Micael enquanto se aproximava de mim ajustando a corrente em suas mãos. Ele segurou minha cabeça com a mão esquerda e acertou um soco direito no meu rosto, acertou mais um e outro e outro, mais dois de maneira rápida e outro, e outro e outro. Em seguida segurou minha nuca e bateu meu rosto na superfície da mesa. Minha cabeça doía, era como se estivesse prestes a explodir. Meu rosto estava cheio de sangue.

– Porr*! Me lembrem de nunca mais vos pedir café. – Falei. Em seguida soltei uma gargalhada.

– Você acha isso engraçado? Seu filho de uma... – Lá vem mais um soco de correntes no meio da minha cara, outro em seguida e mais outro e mais outro. Baixei minha cabeça o sangue escorria pela mesa feito gotas de água saindo de um chuveiro. Soltei mais uma gargalhada.

– Vai Micael, me bate com mais força. Eu não me importo. A vida já bateu tanto em mim que o soco dos homens virou massagem em meu corpo.

– Deixa eu enfiar uma bala na cabeça desse desgraçado. – Disse a jovem do meu lado. Ela estava com muita raiva de mim, conseguia notar em seu olhar.

– Você consegue dormir sabendo que matou pessoas inocentes? – Perguntou Micael.

– Pessoas? – Perguntei. Você chama aquelas coisas imundas de "Pessoas"? Vai visitar o subúrbio um dia desses e lá verás pessoas. Elas passam fome, não têm onde dormir, sofrem vinte e quatro horas por dias e mais umas horas extras. Eu não matei pessoas, eu matei animais irracionais que aprenderam a dominar humanos.

– Marcos não era um animal. – Disse Micael.

– Infelizmente terei de discordar. – Respondi.

– Estou nem aí.

– Você acha que eu sou o mau Micael?

– Eu não quero saber.

– O mal tem cor, usa terno e governa Angola.

– Isso não importa, eu capturei você. Você perdeu, eu venci. – Soltei uma gargalhada de novo mais dessa vez mais alto que da última vez.

– Você acha mesmo que venceu? Eu te disse que a vingança é meu oxigénio e você nem relevou isto. Micael eu lamento te informar mas nesse jogo o vencedor sou eu.

– Quem está algemado não sou eu. Você cometeu um erro, não precisas se envergonhar disto pois errar é humano. Eu me aproveitei desse erro. – Soltei outra gargalhada.

– Eu já te disse mas você não me ouve, Se errar é humano então eu sou um Deus. Eu não erro Micael, tudo que eu faço é um plano. Absolutamente tudo. Eu estar aqui preso nessa sala faz parte do meu plano, você e todos aqui a minha volta presentes fazem parte do meu plano, essas algemas em minhas mãos fazem parte do meu plano.

– Você está a blefar. Estás encurralado e com medo por isso dizes qualquer coisa para tentar desviar do objectivo central.

– Para um prodígio você é muito burro. Você ainda não notou que eu estou sempre um passo a tua frente? Me diz, qual é o meu maior foco?

– Você está a blefar! – Gritou ele irritado com a possibilidade de tudo ser verdade.

– Responde Micael, qual é o meu maior foco?!

– Cala a merd* da boca e para de blefar!

– Eu vou responder pra você, meu maior foco sempre foi matar o presidente. Eu não conseguia chegar a ele então fiz ele chegar até mim. Eu estou aqui preso, algemado. Ele se sente seguro por isso vai aparecer aqui a qualquer momento. Contando com tudo que já fiz pra ele, ele deve estar com muita raiva, fora do controle. A qualquer momento ele passará por estas portas. Provavelmente com menos guardas do que antes pois não quer chamar atenção por onde passa. Ele virá armado e vai mandar um de seus guardas me matar, ou ele mesmo vai me matar mas acredita Micael... TUDO ISSO FAZ PARTE DA MERDA DO MEU PLANO!

– Calem a boca desse desgraçado. – Gritou Micael. Naquele exacto momento a porta da sala foi aberta. Era o presidente ao seu lado estavam dois guardas.

– É esse o filho da put* que arruinou minha vida? – Perguntou o presidente com raiva em seu olhar. Puxou uma pistola da cintura de um de seus guardas.

– Eu só tenho um pedido, o último a sair apaga a luz! – Falei.

– Calma senhor! – Gritou Micael. Ele empurrou Micael para o lado, apontou a arma na minha cabeça, manipulou e eu coloquei um sorriso rasgado no rosto. O gatilho foi accionado, ouvi o som da bala saltar do tambor da pistola, senti o metal quente perfurar minha testa, estourar meus neurónios, meu cérebro se desfazia aos poucos dentro da minha cabeça. Minha consciência começou a sumir aos poucos, via tudo a minha volta se apagar, a escuridão dominava minha visão, meu coração aos poucos parou de...

O VILÃO NÃO MORRE NESTE LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora