Nove - Proximidade

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Quando colocou o nariz pra fora do quarto naquela manhã fria e cinzenta, Melissa olhou desconfiada por todos os lados. Ainda não estava preparada para um encontro com Brian depois do momento de quase intimidade que compartilharam na Starbucks.

Após recuperar o fôlego perdido devido à proximidade do colega, Melissa deu um jeito de tomar o mais rápido possível o restante de seu cappuccino. Era incômodo continuar ali, conversando sobre amenidades, depois de ter dado um fora no cara. Por um momento, quando considerou que a possibilidade de um relacionamento com ele talvez não fosse ruim, um par de olhos azuis tomados de insanidade a atormentaram, então desistiu da ideia.

Quando Brian se despediu na porta de seu quarto, pedindo desculpas pelo atrevimento e pela pressa, Melissa apenas sorriu compreensiva. Brian passou os braços fortes em volta de sua cintura em um abraço, e, por um segundo, Melissa sentiu como se nada no mundo a pudesse atingir. Brian era quente, aconchegante, protetor. Porém, não era o suficiente para Melissa. Brian não era um homem misterioso marcado por um passado sombrio. Não era um homem detentor do estranho poder de seduzi-la apenas com um jogo certo de olhares, um tom de malícia moderado no sorriso.

Na tentativa de não encontrar com Brian em qualquer lugar, Melissa foi diretamente ao seu consultório, sem parar para tomar café. E qual não foi sua surpresa ao encontrar o doutor Thompson parado na frente da porta, pronto para bater. Melissa consultou o relógio, que marcava 07:15 da manhã, e estranhou a presença do diretor ali. Principalmente naquele horário, nenhum dos médicos estava trabalhando.

-Algum problema, doutor Thompson? – perguntou Melissa, quando se aproximou.

O doutor Thompson virou em sua direção e abriu um sorriso amigável quando a identificou.

-Ah, doutora Parker! Não sabia se a encontraria aqui nesse horário.

-Eu resolvi, ah, vir mais cedo. – sorriu.

-Ótimo! Precisava mesmo falar com você. Será que podemos? – disse ele, fazendo menção à porta fechada.

Melissa assentiu prontamente, indo até lá e dando passagem para o velho médico. Não gostou quando ele caminhou despreocupadamente até a cadeira que lhe pertencia e se acomodou atrás de sua mesa, como se fosse o dono do consultório. Melissa foi resmungando mentalmente até uma das cadeiras de ferro destinadas aos pacientes. Mas quem era ela, afinal, para reclamar que o chefe estava tomando conta de seu consultório? Tinha apenas que sorrir simpática, escondendo a hesitação que a tomou quando ele apoiou as mãos cruzadas sobre a mesa e lhe lançou um olhar que parecia preocupado. Esperou que ele falasse:

-Primeiro, gostaria de dizer que estou impressionado com os elogios que vem recebendo do doutor Peters e com os progressos que ele tem relatado. – o doutor Thompson sorriu, parecendo bem menos apreensivo.

-Obrigada, doutor Thompson. – Melissa sorriu tímida.

Elogios do doutor Peters? Não sabia se ficava lisonjeada ou irritada.

-Porém, apesar de parecer que você estava se saindo bem com um dos pacientes, recebi uma visita bastante interessante hoje pela manhã. – as rugas do doutor Thompson voltaram a formar aquela expressão preocupada, que beirava o trágico, e Melissa sentiu um frio esquisito na barriga.

-De quem? Se me permite a pergunta... - ela se remexeu inquieta na cadeira, tentando encontrar uma posição em que suas costelas não eram maltratadas pelo duro ferro.

-Corey Sanders. – o doutor Thompson remexeu a boca, e seu bigode preto remexeu junto.

Melissa teria achado a cena engraçada, se não estivesse confusa com a informação que acabara de receber.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora