Quinze - Perigo

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Foi no banho, embaixo das gotas ferventes de água, que Melissa decidiu que voltaria a atender Corey Sanders. Enquanto massageava os cabelos com o shampoo de aroma doce, sua cabeça pensava a todo vapor, sem parar, maquinando, maquinando, maquinando...

Ele a desafiara a um perigoso jogo.

Um jogo proibido.

A doutora era competitiva o suficiente para saber que daquela história toda, nada de bom sairia. Ela não se deixaria vencer, não deixaria que Sanders saísse por cima, dono da razão. Por algum motivo, ele todo era um desafio para ela, uma provação do destino posta em seu caminho, apenas para ver o quão forte ela era... Melissa tinha problemas com relacionamento. Tinha vários problemas, na verdade, alguns que nem mesmo sua formação em psiquiatria a ajudara a resolver até ali, mas algo em Sanders causava amnésia seletiva nela, porque queria mesmo era poder estar em seus braços... Pensamento ridículo, concluiu, enquanto enxaguava os longos cabelos castanhos, o tipo de pensamento que colocaria tudo a perder.

Mas ela simplesmente não podia deixá-lo provar que tinha razão, era questão de honra. Quando fechou o registro e saiu no quarto gelado, já estava completamente decidida. Vestiu suas roupas lentamente, a todo minuto fitando de esguelha o bilhete já gasto de Sanders cuidadosamente postado sobre sua mesa de cabeceira.

"Se continuar fugindo de mim, apenas terei certeza de que está interessada em muito mais do que no meu tratamento. Será que não consegue ficar sozinha comigo em uma sala sem me desejar?

Corey."

Desejo. Desejo. Desejo.

Quando foi que deu a entender que estava interessada nele como homem, não como paciente? Quando foi que deu a ele a liberdade de falar esse tipo de coisa? Talvez quando se aproximou dele daquela maneira no corredor dos consultórios no outro dia... Falaram como se fossem dois jovens flertando em um bar. Abriu esse tipo de brecha, deu esse tipo de liberdade, sim. Culpa de sua incapacidade de controlar hormônios na presença dele. Um absurdo. Inaceitável. Conduta inapropriada.

Todavia, não poderia deixar aquela pergunta no ar sem uma resposta. Será que não consegue ficar sozinha comigo em uma sala sem me desejar? Ah, conseguia, sim, e iria provar. Faria o que, no fundo, ele tencionava com aquela mensagem, cairia na armadilha, mas seria forte o suficiente para mostrar quem estava no comando. Quem não daria o braço a torcer, quem seria capaz de superar aquela queda antes que fosse tarde demais.

Foi ao escritório do doutor Thompson antes que o expediente tivesse início. Não sabia se o encontraria ali naquele horário, mas teve sorte. O homem estava sentado atrás de sua enorme mesa, os óculos pendurados na ponta do nariz enquanto ele tentava ler um documento antigo. Não questionou a decisão de Melissa de voltar a atender Corey Sanders. Até mesmo a agradeceu, confessando que estava preocupado com os tipos de problema que ele poderia arranjar se estivesse sozinho no mesmo cômodo com Brian. Talvez as coisas saíssem de vez do eixo dessa vez, e ele seria obrigado a mandar um para a solitária e o outro embora. Não poderia se dar ao luxo de perder um profissional do calibre de Brian, dissera.

Quando um problema estava resolvido, vinha outro surgindo lá no horizonte. Nem queria pensar no que Brian diria quando descobrisse pelo doutor Thompson que ela mesma fora pessoalmente requisitar as análises psiquiátricas de Corey Sanders. Sabia que não devia satisfações a ele, mas também sabia que ele nem tinha ideia de que não poderia se meter nas escolhas dela. Como não estava com paciência para discutir com ele mais esse assunto, fugiu o máximo que pôde de Brian. Fugiu no almoço, fugiu no horário de intervalo, passou correndo por sua sala quando teve que fazer seu plantão no prédio A. Foi a última a chegar ao refeitório para o chá da tarde, roubando algumas bolachas, trancando-se em seu quarto para comê-las.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora