Há três estágios de desespero.
Número um: pânico.
Número dois: rebeldia.
Número três: melancolia.
Melissa já havia passado pelos dois primeiros estágios e passava a se afundar na profunda e aparentemente irrecuperável melancolia do estágio final. Não sabia o que viria depois dele e, àquela altura, sinceramente, não se importava. Já havia chorado o suficiente para secar toda a água disponível em seu corpo. O ar faltou tanto, que Melissa passou quase uma hora soluçando. Lutou com todas as suas forças para puxar oxigênio e levá-lo com dificuldade até seus pulmões. Quando achava já ser impossível suportar mais lágrimas, mais daquela água salgada escorria de seus olhos, lavando seu rosto retorcido em uma pura e digna de pena expressão de pânico. Tornava tudo ainda mais dramático. Chorar copiosamente era um eufemismo para a situação em que Melissa se encontrava.
A fase um chegou ao fim quando, cansada de chorar como uma covarde, Melissa se levantou do chão em que se escolhera com as pernas junto ao corpo. Seus passos fortes marcharam na direção da cadeira que havia jogado ao chão. Voltou a lançá-la na direção da porta, gritando por socorro. Tudo o que conseguia pensar era o quão injusto era estar presa ali quando Corey mais precisava dela.
Enquanto Melissa chorava como uma garotinha desamparada, Corey estava na floresta, correndo um risco que não sabia da existência. Melissa não poderia permitir que isso acontecesse. Ela devia isso a ele, afinal, a culpa de o investigador descobrir seu esconderijo era toda e completamente dela. Não conseguiria viver consigo mesma se algo de ruim lhe acontecesse.
Melissa deu pontapés na porta quando percebeu que o barulho que fazia não tinha qualquer repercussão. Àquela altura, alguém já deveria ter ouvido o estardalhaço que ela produzia, porém ninguém viera a seu encontro. E isso a deixava cada vez mais desesperada. A ponto de desistir, sendo automaticamente inserida em um torpor irresistível.
Era o início do terceiro estágio. Como se seu corpo já não mais lhe pertencesse, Melissa voltou a sentar no chão. As costas apoiadas contra a parede, as pernas mais uma vez juntas a seu corpo, enquanto ela as abraçava como se sua vida dependesse daquilo. As lágrimas não vieram mais. Apenas secavam em seu rosto, que agora não carregava expressão nenhuma. Era apenas uma Melissa catatônica encarando o papel de parede verde escuro de seu consultório.
Todos os tipos de pensamento passavam por sua cabeça naquele estágio inicial. Que Corey poderia morrer a qualquer momento. Que Corey poderia ser iluminado por alguma luz divina, então teria a sensatez de deixar a cabana. Que o investigador Josh Bethel poderia ser atingido por um raio antes de comunicar que finalmente havia localizado Corey Sanders. Que ela pudesse voltar no tempo, e então talvez fizesse as escolhas certas...
A imagem de Corey sorrindo passava em sua cabeça ao mesmo tempo em que a imagem de um Corey sem vida a levava cada vez mais profundamente à melancolia. A esperança apagou como a última chama de uma fogueira, e então nada mais aquecia seu coração.
Melissa chegou finalmente ao ponto em que um silêncio pacificador dominava cada um de seus pensamentos. Não havia nada ali. Ao ponto em que não tinha mais vontade de fazer nada, porque sabia que seus esforços seriam em vão. Estar de mãos atadas, impotente, era a pior sensação do mundo.
A parede dura torturava as costas de Melissa, que não sentia dor alguma. Seus nervos estavam anestesiados. Quase não sentia seus membros, seu coração bater. Seus sentidos estavam completamente desligados do mundo real. Por isso Melissa não percebeu quando a maçaneta de sua porta se movimentou. Não saberia dizer por quanto tempo esteve ali, mas pareceu uma eternidade.
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Psicose (Livro I)
Mystery / ThrillerMelissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. Em meio aos novos desafios, se vê encantada por um de seus pacientes, Corey Sanders, um rapaz misterioso e muito atraente. Sem que se dê cont...