Dez - Embriaguez Acidental

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Depois que o almoço assentou em seu estômago, o trabalho da tarde ocupou sua cabeça e o café tomado para espairecer as ideias acordou seu cérebro, Melissa notou que estava... Irritada.

Corey Sanders era, sim, um belo de um covarde. E dono de uma estranha lógica autodestrutiva. Não, a morte de Barber Paay não era culpa dele – e, ao se pegar pensando isso, questionou se não deveria pedir ao Dr. Thompson uma vaga no prédio A, afinal e contas, ele era o condenado pelo assassinato da pobre moça. De qualquer modo, internalizar a culpa daquela forma, colocar o peso de tudo sobre seus ombros, não era o melhor jeito de lidar com a situação. E não era necessária qualquer formação na área psiquiátrica para concluir isso.

Melissa achava que era a melhor pessoa ali dentro para ajudar Corey Sanders. Pena para ela, ele não queria ser ajudado. Era esse o motivo de sua irritação. Estava disposta a dedicar muito de seu tempo e do aprendizado de anos na faculdade de Medicina para ele. Estava disposta a dedicar mais do que a ética profissional permitiria, mas ainda assim, não via meios de fazer de outra forma. E ele jogara tudo para o alto.

Difícil seria, de qualquer modo, entender a cabeça de uma pessoa que estava ali há três anos, que passara todos eles sem falar uma palavra com ninguém, que se metera em mais confusões do que sua integridade física poderia suportar.

Sabia que não deveria, mas a birra pelo comportamento de Corey Sanders nasceu, cresceu e se desenvolveu dentro de Melissa. Não havia volta. Ele não a queria, bem, ela também não faria questão alguma de qualquer coisa que envolvesse seu, agora, ex-paciente.

Talvez fosse até melhor manter distância. Seus pensamentos, seus hormônios, seu corpo todo, não reagiam bem quando ele estava próximo. Sua voz falando no ouvido de Melissa aquelas coisas todas sobre ser a luz e ele estar atraído por ela, o tom rouco, a risada, a intensidade, eram mais do que poderia suportar, estando tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mesmo depois de horas, parecia que a presença dele estava em torno dela, cercando, deixando seu cheiro de perfume masculino no ar, a aura poderosa, a pose de quem saberia satisfazer Melissa, em qualquer aspecto.

Por um instante, não conseguiu reprimir o pensamento de que queria que Corey Sanders a satisfizesse. Quando se deu conta do absurdo, balançou a cabeça e tratou de tirar de lá todos os pensamentos indevidos sobre ele. Era seu paciente, era um diagnosticado sociopata, um assassino, um maldito sedutor barato que ela queria muito entre suas pernas...

Melissa decidiu que seria melhor dar uma volta pelas dependências do St. Marcus, para que sua cabeça pensasse em qualquer outra coisa, que não Sanders. Voltar ao consultório não a ajudaria nessa empreitada. Em seu quarto não havia distração, nem mesmo uma televisão com programas de comédia sem graça da televisão britânica.

Desceu as escadas e foi até o jardim. O sol já estava se pondo, os pacientes estavam em seus quartos ou suas celas. O gramado verde bem cuidado estava vazio, bem diferente do dia-a-dia do St. Marcus. Não era macabro, com o restante do lugar. Não, ele era, estranhamente, pacífico. Melissa caminhou até um dos bancos de descanso e lá sentou-se, olhando para o céu. As nuvens da Inglaterra interiorana o cobriam, de modo que Melissa não pôde ver as estrelas que esperava observar. Ficou olhando o céu por um longo tempo mesmo assim, porque pareceu o suficiente para deixar sua cabeça sem pensamentos sexuais envolvendo o paciente bonitão e perigoso.

Somente desviou a atenção do azul escuro quando alguém parou à sua frente. Era Kate.

- Queria saber em primeira mão do barraco recente mais comentado do St. Marcus. Só quero adicionar, antes de sentar ao seu lado, que o último mais comentado foi a briga de Corey Sanders e Johnatan Reagan na sessão de terapia em grupo, por sua causa. Ou seja, doutora Melissa, você veio para causar, confesse. – foi o que ela disse, então finalmente se sentou ao lado de Melissa.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora