Dezesseis - Triângulo

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Corey se encontrava particularmente ansioso e inquieto naquela infeliz segunda-feira de tempo feio e chuvoso. A justificativa era simples: não era um dia de consulta com a doutora Melissa Parker. As consultas só aconteceriam nas terças e sextas, para descontentamento de Corey. O que significava que teria apenas dois dias por semana para vê-la sozinha. Só Corey e Melissa, trancados entre quatro paredes, que os esconderiam providencialmente do restante do mundo. Após o inesperado e intenso beijo da última consulta, tudo o que Corey mais desejava era poder estar com ela entre quatro paredes novamente. Sem ninguém para impedi-lo de tê-la só para si.

Jamais antes o movimentar de hormônios foi tão intenso durante um beijo. Jamais antes seu sangue ferveu de modo tão irrefreável. Só aconteceu porque seus lábios acariciavam os macios dela. Corey sentiu-se completo, porque aquele beijo foi a melhor coisa que já teve o atrevimento de fazer em sua vida. Sua mente estava livre, limpa, completamente vacinada contra as loucuras que rodeavam sua sanidade. Era certo que reações desse tipo poderiam ser resultado da falta dos lábios de uma mulher sobre os seus por três longos anos. Ele tinha a impressão, entretanto, de que nem se tivesse todas as mulheres do mundo, a sensação seria distinta daquela que o consumia.

Ele passara o final de semana todo perdido em pensamentos sobre os poucos minutos que durara seu momento íntimo com Melissa. E cada mísero detalhe que sua mente foi capaz de guardar, era o suficiente para acalmar sua cabeça perdida no caos insano. Tinha gravado em seu tato a suavidade da pele dela e a maciez de sua boca. A doçura dos lábios dela virou um vício em seu paladar. O cheiro doce de morango do cabelo dela e de baunilha de seu perfume, domaram seu olfato. A voz rouca dela, dizendo baixinho que aquilo era uma loucura, enquanto por dentro gritava por aproximação, se repetia em sua cabeça como um disco quebrado. E os olhos dela... Os olhos cinzentos e tempestuosos dela... Lindos e confusos, clamando para que Corey os acalmasse.

Corey descobriu, por fim, após longas análises, o fator que mais o atraía em Melissa: ela possuía a simples, porém ao mesmo tempo complexa, capacidade de afastar cada mínimo pensamento insano que queria se rebelar em sua cabeça. E bastava, por enquanto.

A estadia de três anos no St. Marcus era, obviamente, a responsável por causar toda bagunça em que Corey se transformara. Para sua infelicidade, só tendia a aumentar e não chegar a um fim. O estranho lado masoquista que havia sido acordado, a desnecessidade de se comunicar com o mundo, os impulsos de violência, de querer bater e quebrar tudo o que o contrariasse, o estranho ódio nutrido contra pessoas que não tinham culpa pelo que o havia trazido até ali... Corey também não tinha a culpa que injustamente carregava, então talvez fosse esse o motivo de se sentir tão fora de si a maior parte do tempo.

A doutora Melissa Parker, entretanto, com seu tom de voz rouco e quente, que proporcionava ondas calmantes por todos os impulsos nervosos que queriam dominar seu corpo rebelde; com seus olhos acinzentados que o faziam vibrar por dentro, toda vez que o fitavam naquela inocência reluzente; suas atitudes muitas vezes atrevidas, que o desafiavam... Melissa Parker era o seu remédio.

Era sua salvação.

E Corey não poderia se dar ao luxo de perdê-la. Perdê-la principalmente para um imbecil como Brian Peters. A mera ideia de que ele a tivera em seus braços também, causava um maldoso incômodo em suas entranhas. O mesmo tipo de sensação que uma intoxicação alimentar costumava promover, logo antes de ele colocar tudo para fora. Era ciúmes, Corey sabia, embora também soubesse que não tinha o direito. Eles não tinham nada, Melissa poderia estar nos braços de quem quisesse, quando quisesse. Ele só desejava que esses braços fossem os dele, no final. E não pouparia esforços para que os desejos dela se coadunassem com os dele.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora