Psicose (Livro I)

Quarenta - Encontros e Desencontros

Foi difícil deixar Corey. Mas o sol eventual e inevitavelmente teve de aparecer, acabando com qualquer ideia insana que Melissa poderia considerar de ficar com ele naquela cabana para sempre. Não seria, de todo, uma má ideia. Se não houvesse um investigador dpara estragar seus planos de um final feliz romântico de conto de fadas. Tinham que livrar Corey daquela situação antes de pensar em qualquer possibilidade de um relacionamento, ainda que bem distante do ordinário, que poderiam ter.

Que graça teria, afinal, se as coisas fossem tão fáceis?

Com um longo e caloroso beijo de despedida, Corey deixou Melissa se libertar de seus braços. Era melhor voltar ao St. Marcus antes que arranjasse maiores problemas, como o investigador Josh Bethel vendo ela chegar desalinhada e cheia de lama nos pés. As explicações que teria que dar nem se formavam em sua cabeça com coerência, porque a mínima possibilidade de isso acontecer a deixava apavorada. A desconfiança dele só se transformaria em certeza. E isso não estava em seus planos.

Lançando um último olhar sorridente a Corey, Melissa deu as costas, embrenhou-se entre as árvores fechadas, para sair na trilha que a levaria de volta ao St. Marcus Institute. O mapa já amassado estava entre suas mãos, para o caso de todo aquele momento intenso com Corey tê-la deixado desorientada. A probabilidade de ter acontecido era alta demais para ser desconsiderada. Seus braços e pernas pareciam anestesiados. Sua cabeça ainda rodava com a assimilação de tudo o que havia acontecido naquela cabana. O sexo, o sexo maravilhoso que, ela tinha certeza, ele era o único no mundo capaz de lhe proporcionar e então... A revelação de tudo o que ela precisava para continuar a viver. Ainda que ele tenha não dito com todas as palavras, Corey havia se declarado a ela.

"Você é a minha vida".

Isso poderia valer muito mais do que um simples e trivial "Eu te amo", não poderia? O importante era que Melissa sabia que era a dona do coração de Corey, assim como ele era do dela. E sabia também que a intensidade com que tudo se desenrolara deixava toda aquela loucura em um patamar irreversível. Aliado ao fato de que ela não queria que aquilo tivesse um fim, porque nunca se sentira tão feliz e realizada em toda sua vida, não havia dúvidas de que poderia amá-lo até quando fosse permitido.

Fosse porque Corey precisava dela, em aspectos distintos, para continuar também. Fosse porque Melissa não conseguia imaginar como seria sua vida a partir de agora sem aquele sorriso malicioso e aquele olhar radiante para entorpecê-la sem nem ao menos tentar. Fosse porque era somente o toque dele que a deixava ofegante com vergonhosa facilidade. Ou porque com aquela pose de irritante displicência ele era capaz de perceber tudo o que se passava pela cabeça dela. Fosse porque era a voz dele que fazia sua pele se arrepiar, o beijo dele que fazia sua cabeça girar, o sexo dele que fazia o seu se completar... Era o seu Corey. O falso psicopata que antes tanto a assustava, e agora só dava a ela a opção de se apaixonar.

Melissa sabia que Corey não estava tão equilibrado mentalmente quanto aparentava. Mas ela o ajudaria a recuperar o máximo de sua sanidade quanto fosse possível. Ela sabia o quanto seria difícil para Corey estar de volta ao mundo real depois de tanto tempo sofrendo de injustiças e abusos, mas acreditava ser o suficiente para manter em ordem toda aquela bagunça em que se ele se transformara.

Seriam dias difíceis. E Melissa não sabia como Corey iria reagir, se ele iria atrás de Danny Langdon buscar sua vingança, mas estaria ao seu lado, independentemente do que acontecesse dali para frente. Provar a inocência dele era tudo o que mais desejava, e se dependesse dela, ele seria um homem livre também perante à justiça inglesa. E tudo estaria bem.

Perdida em seus pensamentos, Melissa não percebeu quando o final da floresta se aproximou. A luz era mais forte ali, e cegou seus olhos sensíveis por alguns instantes. Os poucos instantes necessários para tudo o que planejara começasse a desmoronar feito um castelo de areia atingido por ondas impiedosas.