Três meses depois...
Deixar o St. Marcus Institute era mais fácil do que Melissa pensava. Suas malas ficaram prontas em um passe de mágica. Não havia qualquer sentimento de saudade. Pelo contrário, a ansiedade por deixar o local de uma vez por todas era grande. Melissa quase se permitia sorrir, mas ainda era difícil. Deixar aquele inferno talvez a ajudasse a se recuperar de uma vez daquela tristeza, daquele poço sem fundo em que havia caído sem querer.
De qualquer modo, não sentiria falta dali.
Não sentiria falta das paredes frias, dos corredores macabros, dos colegas de trabalho antipáticos. A única pessoa que faria alguma falta seria Kate, sua melhor amiga, a melhor pessoa que conhecia, que havia dito para que ela tivesse confiança, que tudo daria certo. Mas não deu. Por mais que elas tivessem tentado, não deu.
Corey se foi.
Inexplicavelmente, Corey se foi.
Ao menos Kate, com seu papo ligeiro, conseguira convencer Josh Bethel de que Melissa não tinha nada a ver com a fuga de seu paciente. Ele ainda ficou rodeando Melissa por uns dias, quando já deveria ter ido embora, voltado a fazer o que tinha que fazer, que era investigar pessoas que tinham, de fato, cometido um crime. Mas, no final das contas, a poeira baixou, todo mundo aceitou que Corey Sanders se matara, e a vida voltou ao normal. Josh Bethel achou que Corey Sanders teve o fim que merecia, e Melissa estava tão miserável, que provavelmente o investigador chegou à conclusão de que ela estava pagando por seu suposto erro também, se é que o tinha cometido.
Ele foi embora, e Melissa ganhou de presente sua liberdade. Ela tentou continuar, a despeito de tudo, porém tão somente se torturou todos os dias em que teve que acordar, tomar café no refeitório, de onde tantas vezes tinha espiado Corey, ir para seu consultório, onde tantos carinhos trocara com Corey... Era impossível. Simplesmente impossível. Estava morrendo aos poucos, enfiando-se em uma profunda depressão, da qual não tinha muita certeza de como sair ou se, no final das contas, queria sair. Parecia justo ficar ali. Parecia aterrorizante sair dali e perder todos os únicos meios de lembrança que tinha de Corey.
Ela nunca tinha desenvolvido sentimento tão profundo por outra pessoa antes em sua vida, de modo que não tinha a menor ideia de como lidar com a perda, muito embora tivesse passado anos estudando a melhor forma de ajudar pessoas que não sabiam lidar com a perda. Aplicar conceitos psiquiátricos nela mesma parecia pura imbecilidade, porque, no final das contas, sabia que se auto-sabotar seria um caminho simples e sem volta.
Por isso, pela tortura constante a que se submetia com medo de ir embora, foi um alívio quando, certo dia, o Dr. Thompson foi até o consultório de Melissa no final da tarde e falou o que ela já sabia, mas não tinha coragem de assumir: você precisa ir embora. Ele não a achava uma péssima profissional, pelo contrário, dissera. O avanço com Corey Sanders fora excepcional, em sua opinião, e jamais seria esquecido por aquela instituição. Melissa quis rir. Não tinha avanço algum com Corey Sanders além do fato de que ele só falara com a doutora porque estava afim dela. Nem mesmo sua maior conquista era fruto de seu trabalho. Patético.
Melissa não protestou. Agradeceu pela recepção, pelos ensinamentos, pelo tempo de experiência, e, silenciosamente, pelo amor de sua vida.
Precisava seguir em frente. Tinha feito promessas.
Na tarde da despedida, Kate que veio correndo até Melissa, enquanto ela caminhava pelo corredor dos dormitórios com suas malas. Não havia um Brian para ajudá-la com as malas dessa vez. Ele finalmente estava decepcionado demais para manter algum contato, apesar de, segundo Kate, ter falado em seu favor para Josh, especialmente a respeito do fato de que não acreditava que Melissa tinha alguma coisa a ver com a fuga. Pelo contrário, indicara Pete como o provável auxiliar de Corey, dado o histórico entre os dois, mas Josh investigou e não encontrou nada que pudesse incriminar verdadeiramente o carcereiro chefe do helvete, de modo que deixou para lá também.
Kate e Melissa desceram as escadas em silêncio, ambas carregando duas malas cada. Elas caminharam em profundo silêncio e só pararam já no grande portão de ferro. A enfermeira deixou as malas de lado e não hesitou em puxar Melissa para um abraço apertado que durou não soube quanto tempo. Mas foi bom. Porque pela primeira vez em três meses, Melissa se sentiu segura. Não do modo que se sentia nos braços de Corey, mas Kate era um bom quebra galho. Ela nunca perderia aquele poder sinistro de fazer Melissa se sentir em casa.
— Vou sentir sua falta. — Kate falou no ouvido de Melissa, e sua voz saiu embargada.
Melissa sorriu, retribuindo o abraço do modo mais caloroso que se permitia.
— Eu também vou sentir sua falta. — respondeu, e então se afastou, olhando nos olhos de esmeralda da enfermeira — Não sei como agradecer tudo o que fez por mim e por... Corey. Embora nossos esforços tenham sido em vão.
— Nada do que fizemos foi em vão, Melissa. — Kate sorriu misteriosamente, e então tirou um pedaço de papel dobrado do bolso de seu jaleco. — Abra quando já estiver bem longe daqui, em um lugar que faça você se sentir feliz de novo.
Melissa pegou o papel hesitante, e encarou por um tempo a Kate que andava calmamente de volta ao St. Marcus. Ela não soube o porquê do nervosismo causado por um simples pedaço de papel, mas tinha uma leve desconfiança.
Ela já estava na metade do caminho para Oxford, para sua casa, para o carinho de seus pais, quando criou coragem de abrir o bilhete que vinha amassando em seu bolso desde a partida. Seus dedos trêmulos abriram o que acabou se revelando um breve, porém significativo, bilhete. A caligrafia já conhecida de Corey parecia brilhar estranhamente, como se sobre aquela folha estivesse um holofote. Melissa fechou os olhos e respirou fundo, antes de decifrar as frases que aquelas letras bem desenhadas formavam.
"Sei que deve estar brava comigo. Ou talvez brava seja um péssimo eufemismo para descrever seus sentimentos com relação a mim neste momento. Não sei quanto tempo depois da minha morte este bilhete chegará às suas mãos, mas quero que saiba que estou bem, onde quer que esteja. Nos vemos logo.
Seu Corey"
A única e solitária lágrima que escapou dos olhos ardentes de Melissa foi inevitável. Mas nenhuma outra veio depois dela. Melissa fechou o bilhete com força entre seus dedos e suspirou. Pela primeira vez em três meses ela estava sorrindo. Verdadeiramente. Um mínimo resquício de felicidade era detectável. E quando olhou ao redor na estrada vazia, perguntando-se como continuaria a partir dali, pensou que talvez Corey, onde quer que estivesse, estava olhando por ela, então tudo daria certo.
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Nota da autora: OPA! Finalmente chegamos ao fim (?)! Espero que tenham gostado da jornada da Melissa e do Corey até aqui! Muito obrigada pela leitura e pelo voto de confiança na minha escrita, significa muito saber que Psicose ainda consegue conquistar leitores! Um abraço virtual eterno pra você que chegou até aqui. E que provavelmente deve estar me odiando por causa desse final. Mas não priemos cânico! Tudo continua em Lobotomia, que você encontra lá no meu perfil! Corram lá!
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Até a continuação!
Milbjs,
Ands.
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Psicose (Livro I)
Mystery / ThrillerMelissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. Em meio aos novos desafios, se vê encantada por um de seus pacientes, Corey Sanders, um rapaz misterioso e muito atraente. Sem que se dê cont...