Trinta e Três - Preparação

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Dormir não era uma opção naquela noite. Por isso, quando o dia raiou, Melissa sustentava pesadas olheiras sob os olhos acinzentados. E seu cinza, naquela fatídica manhã, não brilhava. Ao contrário, era tomado de um espesso nevoeiro que se enroscava por suas íris. Tudo porque era difícil processar toda a informação da última consulta com Corey Sanders.

Agora apenas... Corey.

Se fechasse os olhos, Melissa ainda podia sentir o toque áspero dos dedos dele por sua pele, da língua macia dele dançando com a sua, dos lábios doces dele, tão perfeitamente conectados aos seus. E o fato de não saber o que poderia acontecer no dia seguinte fazia seu instinto, por pura conservação do que restava de sua sanidade, repelisse tais lembranças. Melissa temia pelo pior. E não queria saturar as memórias de todos os momentos mágicos que Corey Sanders proporcionara em sua vida pacata. Precisaria delas, caso algo desse errado.

Durante todo o dia, Melissa tentou se concentrar em seu trabalho, comportar-se normalmente, como se não estivesse prestes a cometer a maior loucura de sua vida dali a poucas horas... Era praticamente impossível, entretanto, controlar os nervos. Principalmente quando o tempo resolveu fechar e o céu se tornar tão negro que parecia noite. Nuvens escuras baixaram sobre o St. Marcus Institute. Raios e trovões estouravam com força sobre Winchelsea, e não deixavam Melissa menos nervosa. Pelo contrário. A cada estouro grave no céu, ela dava um pulo em sua cadeira e levava a mão ao peito, para verificar a quanto dispararam as batidas do seu coração. Antes do fim do expediente, o céu já desabava sobre suas cabeças em forma de gotas grossas de chuva.

Melissa não viu Kate durante o dia todo. Nem no café da manhã nem no almoço, e ficou se perguntando se ela não teria desistido da loucura que Melissa havia proposto... No final das contas, não culparia Kate se o tivesse feito. Nem mesmo se ela tivesse contado tudo para o Dr. Thompson. Ou para a polícia. Era demais o que Melissa havia pedido, principalmente se considerado o tão pouco tempo de amizade entre as duas.

A verdade era que estava surpresa pela concordância tão rápida de Kate, mas não era momento para questionamentos. Alguém ali dentro a ajudaria a salvar Corey Sanders da perdição da insanidade, e nada mais importava.

Melissa tinha consciência do absurdo de seu plano. Tinha consciência do risco que representava. Tinha consciência do tanto de leis que estaria desafiando só por planejar uma fuga. E mais ainda se ela desse certo. E nem ao menos tinha ideia do que fazer caso o plano desse certo. Não poderia simplesmente se demitir do St. Marcus e fugir por aí com Corey procurando por Danny Langdon. Embora a fuga fosse o plano principal, ainda havia todas as consequências de sua realização a serem consideradas.

As 18:30 estavam próximas quando Melissa dispensou a senhora Logan de sua consulta. No momento em que a velha e rechonchuda senhora deixou o consultório, Melissa soltou o corpo sobre a cadeira e deixou um suspiro alto escapar. Os olhos fecharam e ela repassou pela milésima vez no dia o que deveria fazer quando Kate desse o sinal. Todos os músculos de seu corpo se tornaram trêmulos. As mãos suavam em bica e a testa era marcada por uma linha fina de suor frio.

Melissa concentou-se em sua respiração, em busca da necessária e arredia calma. Jamais teve um notável equilíbrio emocional. Não agia bem sob pressão, não falava bem em público e muito menos achava ser mentalmente capaz de ajudar um suposto assassino condenado a fugir de uma prisão. O lado racional de sua consciência gritava para que desistisse daquela insanidade. Desistir parecia, de fato, a melhor opção. Mas não era a melhor opção para o bem estar de Corey Sanders, e era o que mais importava a Melissa naquele momento. Ver Corey Sanders do lado de fora dos muros cruéis do St. Marcus Institute era uma prioridade.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora