Onze - Hormônios!

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Três dias.

72 horas.

Era o tempo que Melissa se via perdida em um turbilhão de sentimentos indistintos. Foi o tempo que passou desde que a fofoca sobre o que Corey Sanders pensava dela chegou aos seus ouvidos. O enigmático, imprevisível, intrigante, irritante, Corey Sanders... Foi também o tempo que passou desde que se deixara levar pelo calor do momento e beijara o doutor Brian Peters escondida atrás de um bar. O experiente doutor Brian Peters...

E eram, de fato, os dois, o médico e o psicopata, os motivos dos pensamentos confusos que atormentavam Melissa todos os minutos dos três dias, das 72 horas.

Quanto ao doutor Brian Peters, os problemas rodeavam o fato de que, bem, não tinha muita certeza do que estava fazendo quando o deixou beijá-la. O álcool falou mais alto do que sua consciência e, com a mente anuviada por ele, parecia fazer sentido. No outro dia, contudo, quando acordou com uma dor de cabeça infernal, parecia um grande erro. Que talvez não soubesse como consertar apropriadamente.

Fato era que não poderia negar que Brian era bastante atrativo. Lindo, charmoso, educado, inteligente, forte e definitivamente sabia o que fazer com as mãos, a língua e onde colocar ambos. Ainda assim, soava estranho.

Ela foi surpreendida um par de vezes pelos corredores durante os três dias, puxada pelo braço para um canto deserto do corredor dos dormitórios; ou sob a escada do segundo e terceiro andar, nos fundos do prédio administrativo, onde quase nunca circulava alguém logo após o anoitecer. E era Brian o responsável, que logo calava seus pouco efetivos protestos com um beijo quente. Melissa, com isso, acabava desistindo de achar que era estranho. Quem falava mais alto, no final das contas, eram seus hormônios, que pareciam gostar das jogadas sedutoras do doutor Brian Peters.

No fundo, bem lá no fundo, a doutora sabia que um lado vingativo seu entrava em ação toda vez que Brian se aproximava. Tinha lucidez o suficiente para entender que, mesmo em segredo, escondida, tentava atingir o ego de Corey Sanders. Corey Sanders que dissera a uma colega sua que poderia... Fodê-la quando bem entendesse.

Claro. Com toda a certeza... Que não.

Sabia que o sentimento era absurdo, porque ele era um paciente, não tinha nada que se sentir atingida por tal declaração. E mais absurdo ainda porque, bem... Era loucura. Loucura total. Loucura inexplicável. Sua cabeça estava idiota, fora da casinha, perdida no mundo, sem qualquer noção da realidade, e não via jeito, ao menos por enquanto, de voltar ao normal.

Voltar ao momento em que não achava interessante se relacionar com um cara que estava preso em um manicômio judiciário por ter assassinado a namorada. Voltar ao momento em que não achava interessante trocar frases de efeito com um paciente, como se tentasse seduzi-lo.

Por isso Corey Sanders era, certamente, o maior dos problemas de Melissa. Foi um alívio, portanto, quando o perdeu de vista durante aqueles três dias seguintes. Foram apenas três dias, entretanto.

Era quarta-feira à tarde. A sessão com a garota Julia Sheffield havia acontecido naquela manhã. Angelical e assustadora como sempre, ela conversou sobre o colégio, sobre a mãe que pensava apenas em seu próprio umbigo e estava mais preocupada com os relacionamentos passageiros do que com os próprios filhos. No entanto, logo após o almoço, teve uma crise, quebrou pratos na parede do refeitório do prédio A, gritou ensandecida palavras desconexas que nenhum dos enfermeiros ou guardas entendeu, e quando finalmente se acalmou, chamou pela doutora Melissa Parker aos prantos.

Então Melissa foi até o prédio A, no quarto 16, visitar a garota por quem criara certo laço de carinho. E ao chegar lá, descobriu que o escândalo todo se desenrolara porque Julia simplesmente não se lembrava de ter buscado os irmãos no colégio.

Psicose (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora