Psicose (Livro I)

Vinte e Nove - REDRUM

Dormir parecia uma tarefa difícil de ser cumprida, pelo menos para Melissa. Naquela particular circunstância, sua cabeça parecia pequena demais. Um caos de informações se condensava caoticamente, dominando seus pensamentos, embaralhando cada mínima ideia. As veias em suas têmporas pulsavam, anunciando a iminente explosão de seu cérebro sobrecarregado. Melissa não foi capaz de fechar os olhos por nem cinco minutos sequer durante toda aquela longa noite.

Em resumo, de repente o fantasma de Barber Paay aparece mandando mensagens enigmáticas. Brian Peters a trata como se fosse um pedaço de lixo. A paixão reprimida por Corey Sanders finalmente se revela. Brian e Corey Sanders se conheciam desde a faculdade. Brian conhecia Barber Paay...

Quando, em um mundo fora do St. Marcus Institute e toda sua loucura, isso tudo faria sentido?

Tudo, no final das contas, entrelaçava-se... E o fato de que precisava chegar ao fim de toda essa história foi o que não deixou Melissa descansar. Precisava colocar as cartas na mesa, passar tudo a limpo, para entender onde tudo o que estava acontecendo a iria levar. E Melissa esperava, profundamente, que fosse à única verdade que vinha tentando desvendar desde que pusera os olhos em Corey Sanders pela primeira vez...

Corey Sanders era ou não inocente do assassinato de Barber Paay?

Ainda era um enigma porque, por mais que tentasse se convencer do contrário, ele era uma pessoa desequilibrada psicologicamente. Talvez não fosse o psicopata que todos taxavam ser, certo descontrole estava presente em sua personalidade, provavelmente por conta do tempo preso naquele inferno, mas ainda sim.

Por outro lado, Corey Sanders parecia cultivar amor tão grande pela pobre Barber Paay, que Melissa às vezes duvidava que ele fosse capaz de encostar um dedo nela, que não fosse em boa intenção. Prova era o modo perturbado como ele deixou seu consultório no dia anterior. Mas isso também poderia significar culpa pelo que havia feito com ela. A complexidade da situação era tanta, que a cabeça de Melissa doía com isso.

Na manhã seguinte, tudo o que a doutora tinha em mente era dar um jeito de descobrir o que, de fato, havia acontecido três anos antes no campus de Cambridge. Corey Sanders não falaria, até porque não parecia ter muita ideia da veracidade dos fatos, então... Havia apenas mais uma pessoa no mundo capaz de dizer o que aconteceu naquele fatídico dia.

Ou fantasma.

A ideia pegou Melissa de surpresa e a deixou duvidando de sua própria sanidade (mais uma vez) por alguns minutos. Antes de convencer a si mesma de que não havia nada a perder se tentasse. Não queria buscar a ajuda da avó de Kate mais uma vez. Parecia desnecessário e particularmente vergonhoso. Melissa só não sabia como começar ou o que fazer... Tinha uma vaga ideia, porém, de onde buscar o início de tudo.

Seus tênis faziam um barulho mórbido por onde passavam no corredor que levava à sala de arquivos, a sala em que passou os momentos mais assustadores e intensos de sua vida. Tinha certo laço com ela, no final das contas. A primeira aparição de Barber Paay fora ali, e quase a matara de susto. A primeira vez que se entregara a Corey Sanders havia sido ali, e quase a matara de prazer. Tinha que admitir que preferia a segunda situação, mas ambas eram mais do que importantes em sua vida naquele momento.

Melissa não sabia a razão de Barber ter escolhido o arquivo para duas aparições, mas se não obtivesse sucesso lá, talvez recorresse ao banheiro onde ela havia deixado a mensagem no espelho. Ou ao seu quarto, onde apareceu "fisicamente" pela primeira vez. Opções não lhe faltavam, antes de voltar a procurar a avó de Kate.

Quando a já conhecida porta com os dizeres "ARQUIVO" se materializou à sua frente, Melissa sentiu um mínimo arrepio percorrer sua espinha. Hesitou por um longo minuto, antes de girar a maçaneta e deixar que o característico cheiro de mofo daquela marcada sala lhe invadisse. Agora, já conhecido, ele não lhe incomodava mais.