Psicose (Livro I)

Quarenta e Um - Armadilha

Melissa não se lembrava da última vez em que seu coração batera no ritmo normal, sua respiração não estivera descompassada e suas mãos tomadas de suor. O estado de stress em que se encontrava não era nada saudável e beirar a insanidade em um momento como aqueles não era nada convencional. Na hora do almoço, não conseguiu comer. Apenas remexeu a comida em seu prato com o garfo, então o entregou intacto no balcão em que a zeladora o recolheria. Melissa sabia que a falta de alimentação só pioraria seu estado de nervos à flor da pele, mas não tinha mínima vontade de colocar nada para dentro do estômago. Não enquanto tudo não estivesse resolvido como deveria estar.

Muito antes do fim do horário do almoço, Melissa se despediu de Kate, que ainda estava na metade de seu prato de comida, e resolveu voltar ao seu consultório. Lá era o único lugar em que ultimamente encontrava um mínimo significativo de paz. Não tinha certeza do motivo, mas apostava que tinha algo a ver com o fato de que a maior parte dos momentos que passara com Corey fora ali. E os mais significativos também. Como a primeira vez em que ele falou com ela. O primeiro e intenso beijo, cujas sensações ainda vinham visitar seus sonhos. Melissa sorriu quando as recordações inundaram sua mente, mas o sorriso se desfez assim que ela avistou alguém fechando a porta de seu consultório. Uma visita sem sua óbvia autorização. Não precisou pensar duas vezes para deduzir quem seria o invasor.

O investigador Josh Bethel conseguia quebrar recordes de inconveniência.

Melissa acelerou o passo para alcançá-lo, ainda na "cena do crime" e não se surpreendeu quando os olhos dele se arregalaram na sua direção, como se ela fosse a última pessoa que ele esperava encontrar ali.

— O que faz aqui? — O investigador Josh Bethel perguntou.

Melissa riu e levantou o tom de voz mais do que pretendia quando respondeu ao ultraje.

— O que você faz aqui?! É o meu consultório.

— Eu... — Ele ajeitou a jaqueta de couro que vestia — Ouvi dizer que a sua vista é a mais bonita. Só vim conferir. Brian estava certo. — Deu de ombros.

— Sua desculpa é tão ridícula que eu vou dar mais uma chance de se explicar. — Melissa levou as mãos à cintura.

A pose ameaçadora como nunca fora. Sua cabeça estava no mapa que levava à cabana de Corey, escondido no fundo de sua gaveta. Rezava para não ser essa a intenção do investigador no seu consultório, mas era difícil acreditar que não.

— Estou investigando uma fuga, doutora Parker... Acredito que, como autoridade, eu tenha liberdade de acesso aonde bem entender.

— Não no meu consultório.

— No seu consultório principalmente.

— O que foi que você pegou lá dentro? — Melissa exigiu saber.

Deu um passo à frente, mas o investigador Josh Bethel não recuou. Estavam muito próximos agora.

— Você sabe o que eu estou procurando, doutora Parker. — Ele sorriu de canto — E graças à sua falta de cuidado, mais uma vez, eu consegui.

Melissa só teve tempo de abrir a boca para responder com sua raivosa indignação. Toda e qualquer outra reação foi bloqueada pela ação seguinte do investigador Josh Bethel. Completamente inesperada.

O desespero atingiu Melissa quando seu braço foi agarrado com força por ele, que abriu a porta do consultório rapidamente e a empurrou lá dentro. Melissa não foi rápida o bastante para lutar pela chave pendurada na fechadura pelo lado de dentro, nem forte o bastante para abrir a porta quando ele venceu a batalha e saiu com a chave em mãos. A porta foi fechada com um baque surdo. Então ela estava sendo trancada dentro de seu próprio consultório.