- Joalin! Joalin!
Foram poucos minutos de inconsciência, talvez apenas um, o suficiente para deixar a agente desnorteada. O colega de trabalho amparava sua cabeça no banco, balançando a moça levemente na tentativa de acordá-la. Devagar, a loira foi abrindo os olhos, acostumando-se com a claridade. Já podia ouvir o som da sirene aproximando-se. Loukamaa só não conseguiu distinguir de qual corporação seria, se da polícia, dos bombeiros ou de uma ambulância. Ela circundou o local com o olhar, tentando entender o que havia se passado ali.
- O que... – A loira levou a destra à cabeça, que latejava de maneira quase insuportável.
- Calma! Graças à Deus foi só um susto. O socorro está chegando.
- Não. Estou bem. Não preciso de socorro. Foi só... - Algo no retrovisor chamou a atenção de Lin, fazendo-a interromper sua fala - Oh, meu Deus. Eles...
- Estão vivos. Vamos nos preocupar com você agora. Não fique agitada assim que pode ser pior. Tem um corte na sua sobrancelha.
- Eu já disse que estou bem. Tem sangue no banco, Rust. Céus! - A agente, nervosa, e sob protesto do rapaz, desvencilhou-se do cinto travado em sua lateral esquerda, saindo apressada do veículo. Abriu a porta traseira rapidamente, retirando Pipoca, carregando-o em seu colo. O animal parecia abatido, ao contrário do outro. Seus olhos mantinham-se morteiros e ele ofegava, assim como ela. Havia manchas avermelhadas nos pêlos, mas o emaranhado impedia a mulher de verificar, no desespero, se o pet sofrera algum corte ou como estava machucado.
- Loukamaa, espere! - Rust tentava ajudá-la, impedindo-a de esforçar-se.
- Pegue o outro. Precisamos... levá-los.
- A ambulância chegou. A polícia já está aí. Relaxa.
- Relaxar?
- O que houve aqui? - Um homem de estatura mediana, magro, usando um bigode tipicamente caricato dos detetives particulares de histórias de suspense policial, aproximou-se carregando um bloco de notas na mão esquerda, bem como uma caneta na destra - Vocês estão bem? - A loira bufou baixo e discretamente.
- Eu estou bem, sargento... - A agente semicerrou os olhos à fim de enxergar com clareza o nome do policial - ... Steven. Rust, por favor, eu preciso ir.
- Qual é o seu nome? - O oficial indagava - Não posso deixá-la sair assim. Fomos notificados de uma colisão com fuga. Perdoe-me se eu estiver sendo indelicado, mas tem um corte na cabeça e não me parece nada bem.
- Me chamo Joalin Loukamaa, sou agente do Serviço Secreto em missão de trabalho. Eu não sei o que houve. Aconteceu tudo muito rápido. Desmaiei, mas estou em pleno exercício de minhas faculdades físicas e mentais. Esses animais dentro do veículo, que por sinal é presidencial, caso o senhor não tenha reparado na placa, provavelmente se machucaram e, me perdoe se eu estiver sendo indelicada, o sargento não é médico, menos ainda veterinário, portanto, não pode nos ajudar. O meu colega vai cuidar de toda a burocracia e, caso precisem de mim, estarei bem ali à frente, na clínica veterinária. Por favor, não tente impedir o meu trabalho sem uma boa justificava.
- Loukamaa, pelo amor de Deus, não precisa disso. Está alterada, nervosa. - Rust sussurrava em seu ouvido, ao passo que a auxiliava a acomodar o cão mais confortavelmente em seu colo.
- Se eu não socorrer o Pipoca, ele pode morrer. Eu conheço esse olhar tristonho, já vi isso acontecendo antes. Faça o que tiver que fazer por aqui. Avise o Fuller, peça alguém para vir. Pegue os documentos para mim. - Lin franziu o cenho lembrando-se do seu celular, quando o rapaz acomodou uma pasta cinza em sua mão esquerda - Verifique se meu telefone está inteiro no meu bolso. - A moça indicou o lado direito com a cabeça. Seu colega assentiu após a verificação e ela, sem mais nada dizer, apenas lançando um último olhar para os homens, seguiu apressada pela avenida à sua frente.
Seriam apenas alguns metros fáceis de serem percorridos se não fosse pelo peso carregado. Loukamaa fazia um esforço quase além do seu limite, no entanto, a determinação em chegar ao destino proposto, não permitiria que ela desistisse, fraquejasse. A cabeça pulsava a cada passo, o que se tornou irrelevante diante da lembrança de seu gato de estimação quando este fora envenenado. As circunstâncias eram completamente diferentes, porém, o desfalecimento dos animais estava parecido em demasia, impulsionando-a de certa forma a agir com rapidez.
Um funcionário da veterinária conversava com outro rapaz próximo à entrada da clínica, quando viu a agente caminhar dificultosa com um cachorro no colo. De prontidão, pôs-se a auxiliá-la, tomando Pipoca de suas mãos.
- O que houve com ele? Ou ela?
- É ele, Pipoca. Acabamos de sofrer um acidente. O cão estava com o cinto próprio, portanto eu não faço idéia de como ele machucou, se é que machucou. Tem sangue e... - Joalin relatava o ocorrido enquanto adentravam no pronto atendimento - ... eu só quero que o ajudem, por favor.
A orientação básica para uma escolta - seja ela de qual tipo for - é ser discreta e agir preventivamente evitando o combate, em nome da vida do seu segurado e da própria. A vigilância em permanente estado de alerta exige, ainda, a capacidade de reconhecer perigos potenciais, antes que eles aconteçam. Loukamaa era uma das melhores em seu ramo, mas aquele tinha sido um episódio fatídico, fora do alcance de qualquer ação que pudesse ter tomado de antemão. E naquele instante, esquecera-se de qualquer protocolo a ser seguido, tendo como único intento, resguardar a saúde do animal. Sabia que, em termos profissionais, nada do que estava a fazer era certo, contudo, sua percepção do que seria moralmente certo, falava muito mais alto ali.
- É a dona dele? Vai acompanhá-lo? - Uma senhora com semblante dócil, aparentando ser a profissional responsável, aproximou-se apressada.
A agente abriu a boca para responder, mas vacilou recordando-se novamente de seu bichano. Não gostaria de ser testemunha, caso algo sério e grave acontecesse com Pipoca. Meneou a cabeça negativamente, antes de respirar profundamente.
- Não. Só... por favor, cuide dele. Eu farei o registro de entrada.
- Tudo bem. Assim que eu fizer alguns exames e souber das condições do cão, venho lhe avisar.
- Obrigada. - A loira sorriu em agradecimento, sentando-se em uma poltrona na recepção em seguida.
Ela permitiu seu corpo refestelar-se, fechando os olhos ao cruzar os dedos de ambas as mãos atrás da nuca.
"Meu Deus, o que aconteceu?"
O peito de Lin ainda arfava pelo esforço. A tonteira teimava em incomodar, mas logo ela tratou de fazer os exercícios respiratórios que aprendera nas aulas de ioga que teve por insistência de sua mãe. Aos poucos foi se acalmando, podendo raciocinar com mais clareza.
- Aceita uma água, senhora? - Uma voz feminina fez a agente despertar de seu quase estado de meditação.
- Oh, sim. Por favor. - A mocinha, que trajava o uniforme da clínica, sorriu em assentimento, retornando segundos depois com um copo descartável - Obrigada.
- Se precisar de algo, estarei bem ali. - A funcionária sorridente apontou para o balcão, caminhando para o seu posto de trabalho em seguida.
Joalin tomava o líquido em grandes goladas, quando se assustou com o toque do seu telefone. No visor podia ler "Com. Fuller", o que a fez bufar. (N.A: "com". = Comandante)
- Agente Loukamaa. - Onde você está?
- Na clínica veterinária.
- Você está bem?
- Sim, estou.
- Rust disse que se machucou. Que imprudência foi essa de sair carregando o cachorro nos braços? Já não basta todos os erros que cometeram?
"Erros?"
A loira pensou, mas não ousou fazer essa indagação. Ateve-se apenas a justificar seu ato.
- Me desculpe, mas a primeira coisa que pensei foi em tentar salvar o animal que aparentava estar em um pior estado.
- E...
- E ainda não tenho notícias. Permanece em atendimento.
- Estou pensando em como contarei à Sabina. - Ao ouvir esse nome, um arrepio percorreu o corpo da mulher desde a base de sua coluna - Sabe que estamos muito, muito encrencados, não sabe?
- Sim, senhor.
- Por Deus, Lin! Isso... - O homem suspirou do outro lado da linha - Mandarei alguém para ficar com você. Não posso sair daqui. Tenho que arrumar a bagunça que já se tornou esse acidente e tentar descobrir como foi que tudo isso aconteceu. Você ficará tranquila aí?
- Ficarei. Ficarei sim. Até mais. - A mulher respondeu o que supôs ser o coerente, pois não havia assimilado todo o conteúdo da última fala.
Pensava na cadeia de eventos que a levara a estar naquela situação, atiçando o seu sexto sentido. Algo estava errado, não tinha lógica, uma peça não se encaixava no quebra cabeça. Só precisava descobrir exatamente o que e qual era.
Os minutos foram passando e Pipoca ainda estava sendo examinado. A demora começou a enervar a loira que, por fim, já andava de um lado para o outro na tentativa inútil de distrair-se.
"Que não aconteça nada com ele. Que não aconteça nada com ele."
Esse pensamento vagava pela mente de Loukamaa como um mantra.
Quando cogitou a possibilidade de interpelar a recepcionista simpática sobre o pet, um dos agentes que trabalhava consigo adentrou ao local com o outro animal guiado pela coleira.
- Loukamaa. - Ele cumprimentou-a.
- Ginger... - A loira, séria, alternou seu olhar entre o homem e o cão de pelagem preta.
- Como está o outro?
- Ainda não sei. Já... ia perguntar por ele.
Um breve sorriso deu-se na face do rapaz, como em assentimento enquanto caminhavam para a recepção.
- Pois não? Consulta?
- Sim. - A resposta veio quase em uníssono.
A moça conversou brevemente com alguém através do telefone, pedindo aos funcionários da Agência Secreta que aguardassem alguns minutos. Os que Joalin estava à espera já ultrapassavam os limites toleráveis, deixando-a cada vez mais angustiada.
Repentinamente, a porta à sua direita abriu-se, revelando a figura ainda abatida do cachorro machucado.
- Eu reconheci esse rapazinho. Já o atendi algumas vezes em emergência.
- E... então?
- E ele vai ficar bem. No impacto algum objeto que estava no carro, ou até mesmo o cinto, acabou perfurando sua pele. Por sorte não foi profundo. Esse suposto e aparente enfraquecimento se deve ao alto nível de estresse ao qual ele foi submetido. - O funcionário auxiliar colocou Pipoca no colo do agente que se mantinha ao lado de Lin - Estou prescrevendo alguns medicamentos e, além de hidratação, esse doce cãozinho precisará apenas de descanso e carinho para recuperar-se por completo.
- Ainda bem. - Uma onda de alívio percorreu o corpo de Loukamaa.
- Esse aqui também se acidentou?
- Sim, mas como ele aparentava estar melhor, acabei trazendo o Pipoca somente.
- Ah, sim. Vamos examiná-lo. - A veterinária entrou com Ted na sala, fechando a porta atrás de si.
Ginger e Joalin sentaram-se, dessa vez não tendo que esperar por muito tempo. Ambos os animais estavam a salvo, medicados, e já liberados para retornar para casa.
Resolvidas as burocracias de pagamento, os agentes acomodaram os cães no veículo que foi enviado para buscá-los. Teimosa como só, a loira negou veemente a ida até o pronto socorro de algum hospital para fins de verificar a extensão do seu corte.
- Sabe que Fuller não ficará satisfeito, não é, Loukamaa? - Seu colega a alertava - Foram ordens.
- Não se preocupe. Obrigada. Com ele eu me entendo. Conversaremos assim que chegarmos à Casa Branca. - Ela transparecia falsa segurança, já que no fundo, estava perdendo-se em receio.
Ignorante dos fatos, alheia ao que acontecera em Washington, Sabina desembarcou em Nova York, seguindo direto para o hotel com sua pequena, mas significativa comitiva de segurança comandada por Kyle. Os pouco mais de 360 quilômetros entre uma cidade e outra, foram percorridos pelo helicóptero de maneira rápida e tranquila, o que não fez a menor diferença para a morena. A filha do presidente estava mal humorada, insatisfeita com a troca de equipe sem justificativa plausível e prévio aviso. De certo que a eficiência no trabalho efetuado era o que deveria valer, mas algo ali a perturbava. Era a agente Loukamaa quem deveria acompanhá-la, e não Lamar. Certamente que as mulheres não mantinham uma relação amigável, até mesmo por que se restringiam ao estritamente profissional. E nesse âmbito também começaram a divergir, estabelecendo, assim, algo como cisma, implicância gratuita versus dependência inexplicável. Desagradou a mudança, mas não ao ponto de ser questionada.
Hidalgo resguardou suas energias para usá-las no almoço que teria com a consulesa da França. Tornaram-se amigas há alguns anos e há tempos não se viam. Aproveitaram da oportunidade de brecha na agenda de ambas para tratarem de concretizar esse encontro que, aos olhos de muitos, não se passava de um evento social.
Assim que adentrou na sua suíte, foi direto tomar um banho. Necessitava descarregar as energias ruins que fluíam em seu corpo e livrar-se do cheiro de viagem. Permitiu-se demorar debaixo da água quente, levando em conta os inúmeros benefícios que trazia, tais como a sensação de relaxamento, a atenuação das contrações musculares e abertura dos poros da pele, proporcionando assim uma maior absorção dos produtos de beleza que Sabina costumava usar no pós-banho.
Revigorada, a morena ia saindo do banheiro enrolada em uma toalha felpuda, enxugando os seus cabelos com outra menor. Parou no meio do caminho, quando ia transpor a porta, ao ver Taylor sentada em uma poltrona, sorrindo para o celular que estava em suas mãos. Ao que parecia, a moça estava mantendo uma conversa virtual bem animada com alguém. Seus olhos brilharam e os suspiros eram demasiados apaixonados. Sabina mordeu o lábio inferior ao sentir em seu peito uma pontada de inveja. Sim, inveja. Sua posição social nunca lhe permitiu agir daquela maneira tão aberta, tão simplória e bonita, como deveria ser o sentimento. Ou talvez não fosse esse o motivo, e sim, ela mesma quem se impedia de vivenciar uma paixão como a que supostamente a secretária estava experimentando.
- Como é? - A morena indagou repentinamente, tomando a mulher de sobressalto.
- Que susto, Srta. Hidalgo. - Taylor levou a mão no peito - Estava distraída.
- Eu percebi. - A herdeira presidencial foi caminhando lentamente à observar o desconcerto da loira. Sentou-se na cama, do lado mais próximo da secretária, para surpresa da mesma - Então... como é ser normal? Como é se apaixonar perdidamente? Como é gostar muito de alguém a ponto de não parar de pensar nela e... sorrir assim como está fazendo?
- Mas que pergunta, Srta...
- Sabina. Estamos só nós duas. Estou te eximindo de formalidades.
- Bem, é... - Taylor foi pêga de surpresa com os questionamentos da morena. Não sabia muito bem o que responder, uma vez que a paixão e o gostar eram sentimentos naturais do ser humano, ou ao menos deveriam ser - ...é bom. Te faz sentir viva, plena.
Sabina ouvia atenta, não desviando os olhos da moça em nenhum segundo. Era nítida a emoção que a dominava, aja vista seus orbes marejados e o sorriso constrangido nos lábios.
- Fale mais.
- O que?
- Fale mais da sensação, por favor. Diga-me o que é estar apaixonada, na sua concepção. - Taylor deu de ombros, mesmo estranhando tudo aquilo, cedendo ao pedido de sua "chefe".
- Hum, vejamos... - Um suspiro e uma pequena risadinha foram suficientes para transformar o clima de estranheza em algo como confidencialidades entre amigas - Estar apaixonada é você começar a se sentir como se pudesse falar sobre tudo com a pessoa, não importa o que esteja pensando; é você tentar elaborar planos mirabolantes para fazer a pessoa ficar, mesmo ela tendo que ir embora; é perceber que, de repente, as demonstrações públicas de afeto, bem como tudo relacionado ao amor, que costumava ser piegas, tornaram-se as coisas preferidas que te fazem feliz; é dar fé de que, apesar de você estar constantemente mexendo no telefone... - A loira ergueu o aparelho arrancando uma breve risada de ambas - ... existe apenas uma pessoa com quem se deseja falar; é sentir como se começasse a conhecer a si mesmo de verdade somente depois que conheceu essa pessoa; é enxergar como tudo fica melhor quando ela está por perto.
As mulheres estavam tão envoltas em seus próprios devaneios que não notaram as lágrimas escorrendo dos olhos da mais velha. Por motivos diferentes, óbvio, as duas compartilhavam daquela emoção. Ao perceber Hidalgo limpou o seu rosto com a destra, a secretária ruborizou em constrangimento, imaginando ter falado algo que tivesse desagradado a morena por algum motivo desconhecido.
Sabina sabia que apaixonar-se era bem como perder-se por alguém, ou encontrar-se naquela pessoa. Ansiava o experimento real, concreto, quase palpável daquela teoria. Contudo, resignava-se em entender que ela não fazia parte dos mortais sortudos que podiam fartar-se com a troca de carinhos e sentimentos puros. O que Taylor sentia não cabia a ela.
- Eu... queria ser você por um dia ao menos.
Aquela revelação da filha do presidente causou uma surpresa ainda maior na secretária, deixando-a sem reação por alguns segundos. Toda a pompa do status social que a morena carregava havia caído por terra naquele momento, deixando lugar apenas para o seu lado humano, sensível. Não estava ali a mulher que muitas vezes abusava da arrogância ao tratar com as pessoas, e sim, a mulher que só desejava a reciprocidade do amor.
Taylor era sagaz. Percebendo que Hidalgo alterara seu semblante, passando a ficar chateada em excesso, tratou de mudar o rumo da situação para desfocar a atenção do assunto que agora entendia como delicado.
- Sabina, desculpa te interromper, mas... - Ela verificou as horas na tela do celular - Precisamos nos apressar, senão a consulesa ficará esperando por muito tempo.
- Ok. Vou... - A mulher mais velha levantou-se - ... terminar de me arrumar no banheiro. - E assim retornou para o cômodo ao lado.
Apesar de não haver nenhuma necessidade de utilizar seus conhecimentos em penteados e maquiagens, Sabina, por vezes, fazia questão de ela mesma preparar-se para os eventos, dispensando os serviços de terceiros. Gostava tudo exatamente feito ao meu modo, e nem sempre se dispunha a tolerar algum erro alheio.Devidamente vestida e adornada para a ocasião, Sabina retornou outra vez para o quarto.
- Podemos? - Taylor indicou a saída com a destra.
- Sim, por favor.
A fisionomia da herdeira presidencial já não era mais a mesma. Mantinha-se circunspecta, com o tom de voz cordial e obtuso ao mesmo tempo. Talvez tivesse se arrependido do seu momento de fraqueza diante da secretária. Como retornar no tempo era impossível, ateve-se à seriedade que sempre lhe foi peculiar.
Assim, sem mais nenhuma interação amistosa, apenas compenetradas no silêncio do percurso, Hidalgo e sua secretária seguiram para o local do compromisso marcado.
Nesse mesmo instante, na capital do país, mais exatamente na ala norte da Casa Branca, Lin preparava-se para enfrentar o sermão de Simon. Não que tivesse feito algo errado - mas de fato havia quebrado alguns protocolos - só sabia, pelo tom de voz do homem ao telefone, que ele não estava muito contente com o desenrolar do dia.
Mal pôs os pés na cozinha, e ouviu os passos firmes que reconhecia serem dele. Loucura alguém saber quem se aproximava através dos sons emitidos pelos sapatos? Não para a audição aguçada da loira.
- Agente Loukamaa, o que faz aqui?
- Eu trabalho aqui, senhor.
- Está apta para exercer suas funções?
- Claro que estou. - A moça ergueu a sobrancelha sem entender aonde o comandante queria chegar com o rumo daquela interpelação.
- Posso ver o atestado médico?
- Que atestado? - Nessa pergunta foi que Joalin caiu em si - Ah, Fuller, eu não fui ao pronto socorro.
- E posso saber por que não, se foram ordens minhas? Desde quando é desobediente e negligente com sua saúde, Loukamaa? - Ele aparentava tranqüilidade. Mais parecia preocupação com a loira, ao invés de com o desacato.
- Desculpa. Eu só não vi necessidade. Na verdade, para mim seria mais como uma perda de tempo. O fato de eu ter desmaiado foi apenas uma queda de pressão, o corte é superficial, portanto, não há nada com o que se preocupar. Estou me sentindo ótima e prometo que a qualquer mínimo sintoma de algo errado, irei me consultar com um especialista imediatamente.
- Não é assim que funciona, agente. Temos regras e sabe que elas estão sobre circunstâncias que não podem ser quebradas. - Simon retirou o celular do bolso traseiro direito discando um número que a loira não conseguiu identificar. Fingindo estar alheia ao que o homem fazia, ela virou-se, pedindo a uma das cozinheiras que lhe fizesse o favor de preparar um sanduíche e um suco. Só voltou a sua atenção para o comandante, quando este a tocou no ombro esquerdo - Em aproximadamente meia hora o Dr. Andrew estará aqui para lhe examinar. - Já antevendo os protestos, Simon ergueu o indicador direito em sinal de silêncio quando a agente fez menção de manifestar-se - Sem retruques. Não tem o aval médico, não tem trabalho. Simples assim. Te vejo mais tarde.
- Fuller! - Lin impediu-o de prosseguir a caminhada, segurando em seu braço.
- Loukamaa, por favor, não dificulte as coisas. - Ele protestou.
- Não, não é isso. Eu só... queria pedir um favor.
- Favor? Que favor?
- Enquanto a Srta. Hidalgo não retornar de Nova York, será que eu poderia cuidar pessoalmente do Pipoca? - O pedido soou demasiado estranho, ainda mais vindo da loira, o que automaticamente fez o homem franzir o cenho.
- Posso saber por qual motivo?
- É que... - Mentiria. A agente mentiria descaradamente, ocultando suas reais razões - Bom, a veterinária passou as orientações detalhadas para mim e temo que outra pessoa possa se confundir e executar as tarefas da maneira correta. Sabe, é... me sinto culpada.
- Até que apuremos o que de fato aconteceu para que culminasse no acidente, você está eximia de qualquer culpabilidade, Loukamaa.
- Eu sei, mas tem sentimentos que são mais difíceis de controlar. Por favor, permita que eu trate do cão. Eu não terei muito que fazer, e ele já estava sob os meus cuidados, não é mesmo? - A loira arriscou um sorriso pedinte, que no fim das contas funcionou perfeitamente, arrancando um assentimento vencido do comandante.
- Ótimo. Garante excelência nessa função também?
- Total.
- Liberada então para continuar sendo babá do Pipoca. - Fuller virou-se, dando alguns passos à frente. Teve sua saída interrompida outra vez, agora por conta própria - Não se esqueça que o Dr. Andrew já está chegando.
- Pode deixar. Estarei pronta. - Novamente brincando com a hierarquia entre eles, a mulher bateu continência, obrigando Simon a menear negativamente com a cabeça antes de soltar um risinho frouxo.
"É...Talvez mudar de ares profissionalmente não seja tão ruim."
A loira riu dos seus pensamentos ao sentar-se para fazer a sua refeição.
Joalin Loukamaa não era uma pessoa que poderia ser considerada amante dos animais, pelo contrário. Muitas das vezes esquivava-se deles, ainda mais se fosse propriedade de alguém tão entojada. Contudo, aquele em especial tinha lhe chamado a atenção, justamente por ser o animal de estimação dela, de Sabina Hidalgo.🥰❤️
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A Filha do Presidente| Joalina
FanfictionÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Sabina Hidalgo. Sendo a filha do presidente dos Estados Unidos da...