Salve-a

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"O que parecia uma resposta rápida ao ataque, virou uma grande interrogação na Casa Branca. A polícia prendeu um suspeito, mas admitiu que pode ter pego o homem errado."
"Um dos porta-vozes do Ministério Público, Derek Van Halen, disse que alguns elementos levam a crer que a invasão da Casa Branca trata-se de um ataque terrorista."
As notícias não paravam de sopitar como água fervente em chaleira. Para os sensacionalistas aquilo era um prato cheio. A desgraça alheia causava, além de comoção, reportagens que posteriormente poderiam ser consideradas históricas, de acordo as circunstâncias.
O clima no escritório central da Agência do Serviço Secreto variava entre a agitação e o desconforto, dada a falta de notícias do presidente, do governador e suas famílias.
- Equipe de resposta? - O Vice-Presidente parecia realmente empenhado em conseguir algo que pudesse elucidar a maneira como reverteriam a situação.
- Em 5 minutos! - Respondeu o Comissário de Segurança.
- Chegaram! Os reforços do exército, da aeronáutica... chegaram. - Aquele foi o único momento em que se pôde ver sorrisos sendo esboçados nos rostos aflitos de quem trabalhava com afinco, mesmo que longinquamente, para estancar uma parte do sangue derramado naquele ataque. Alguns se abraçavam, outros comemoravam aplaudindo as Forças Armadas, cada um à sua maneira, mas sinceramente.
- Não comemorem ainda. Apenas... não comemorem. - O homenzinho abatido, substituto interino do Sr. Fernando Hidalgo, enquanto da incidência do caos instalado no país, parecia ter se deixado levar pelo pessimismo.
- Tem um contato sendo feito da Casa Branca. - Gritou a Tenente Savannah, responsável pelas interceptações telefônicas - Silêncio, por favor.
Demorou cerca de dez segundos para que pudessem ouvir algo que não fossem murmúrios ininteligíveis.
- Agente Especial Loukamaa, Joalin Loukamaa. Delta 453 Recept 26986. Não posso falar por muito tempo. Está tudo tomado e esse telefone é de... eu não sei de quem é. Eu o matei e... Estou com Sabina Hidalgo. Meu comandante, Simon Fuller, está com o presidente, o governador e o restante das famílias. No tumulto de um dos ataques, acabamos nos separando por questão de sobrevivência. Eu não sei quem está vivo ou morto, mas destruíram tudo. Não há como ter certeza do que querem ou um alvo específico. Estão abrindo fogo aleatoriamente, apenas por matar. A Srta. Hidalgo e eu, estamos em um abrigo secreto. Existem explosivos espalhados em pontos estratégicos nas entradas e janelas, não sei se em todas. Os sensores não estão funcionando. Passamos muito tempo nos dutos de ventilação, estamos desidratadas, feridas. Fiz o que pude. Eu só... fiz o que pude.
- Agente Loukamaa? Agente Loukamaa? - A tenente tentava o retorno do contato interrompido - Droga! A perdemos.
O tempo, nesse tipo de situação conflituosa, é imensurável. Perde-se o controle das emoções, a capacidade de raciocínio lógico é diminuída. E tudo isso, querendo ou não. Muitas vezes, o mais difícil é saber aonde você mesmo quer chegar. Ou aonde pode chegar sem ultrapassar os próprios limites.
Joalin estava equilibrando-se na linha tênue entre o ser capaz e o fracasso. Sabina mantinha-se um pouco mais tranqüila, mas não suportaria a pressão psicológica se não saíssem logo dali. A agente necessitava da rapidez de raciocínio que outrora lhe fora peculiar. Encontrando-se nessas condições, ela só poderia fazer uma escolha...
- Vamos arriscar. Vamos... tentar chegar ao cofre. Pode fazer isso comigo? - Perguntou a loira para Hidalgo, que permanecia ainda ofegante em demasia. Esta, por sua vez, respondeu apenas com um menear positivo da cabeça - Ótimo! Seguiremos em frente - Lin apontou para a sua direita - Sabe rezar, Srta. Hidalgo?
- Se...sei. - Respondeu a negra, gaga pelo nervosismo.
- Muito bem, pois vamos precisar de todas as orações possíveis. Não emita sons, respire o mais lentamente que puder. Desceremos, e se por acaso o cenário for muito ruim, não entre em pânico. Não grite jamais!
- Ok, mas só uma dúvida: estamos tentando sobreviver ou vamos fazer uma excursão em um parque dentro da Casa do Terror?
Joalin sentiu vontade de rir, porém o momento não competia certas amenidades.
Foram arrastando-se, desajeitadas, conforme o espaço limitado as possibilitava. Havia uma saída que dava para o pequeno salão onde poderiam ter acesso ao cômodo que comportava uma passagem secreta. Novamente usariam o duto de ar para escapar dos bandidos, ou ao menos tentar.
Estavam ambas esgotadas, suas funções motoras e mentais comprometidas em grau leve, mas não parariam. Andavam cautelosas, com a agente cobrindo o caminho cheio de pedaços de concreto e alguns corpos gélidos. Repentinamente interromperam suas investidas ao depararem-se com um homenzarrão armado com uma submetralhadora M1. Não passariam por ele sem serem vistas, portanto, a única solução seria abatê-lo. O problema é que Lin não tinha mais munição e esquecera-se de "pegar emprestadas" as que estavam caídas no chão. Teria que surpreender o malfeitor, atacando-o por trás, e torcendo para que tudo desse certo. A loira fez sinal para que Sabina ficasse parada, em silêncio e atenta. Da afirmativa, caminhou pé ante pé, aproximando-se. O infeliz estava distraído, sentado, saboreando uma possível vitória, quando sentiu um forte impacto atingir sua nuca. A arma escorregou de suas mãos poucos metros à frente. Levou alguns instantes para que percebesse o que estava acontecendo. Tentando ignorar a dor que sentia, girou a perna em um semicírculo, atingindo sua oponente, que cambaleou e quase caiu.
- Filho da mãe! Vou acabar com você! - Balbuciou Garner entre dentes, mantendo os olhos fixos em seu alvo.
- Eu acho que não! - O homem falava com um sorriso maléfico nos lábios, enquanto se preparava para receber o próximo golpe.
O avanço seguinte foi tão rápido que, mesmo estando alerta, a agente não conseguiu impedir que seu lábio inferior fosse atingido por um murro certeiro. O gosto de sangue veio logo a seguir, e foi neste momento que decidiu acabar logo com aquilo, antes que coisa pior pudesse acontecer.
O bandido certamente não estava preparado para o que ela faria a seguir. Joalin atirou-se em direção ao corpo de seu rival, fazendo com que os dois caíssem. A cabeça do grandalhão bateu no chão de ladrilho, fazendo um barulho abafado. Com isso, a moça pôde desferir socos em lados alternados do rosto dele, e ver o sangue jorrar do nariz e da boca. A luta chegara ao fim. Ela apenas certificou-se que o idiota não respirava para poder pegar seu celular, sua pistola, levantar-se e buscar Hidalgo pela mão, seguindo até onde pretendiam.
Quando estavam prestes a entrar no quarto, outra surpresa. Foram descobertas por um indivíduo e alvejadas antes de fecharem a porta.
- Abra a passagem. - A loira ordenava com dificuldade, ao passo que tentava arrastar uma cômoda para bloquear a passagem.
- Eu não lembro qual livro é. - A voz trêmula da mais velha denunciava seu total desespero.
- Terceiro da esquerda para a direita. - Gritos e gemidos de dor e angústia podiam ser ouvidos vindos de ambas.
- Consegui. - Havia um dispositivo no exemplar de Anjos e Demônios, de Dan Brown, guardado na pequena estante que abria uma espécie buraco na parede que dava para um caminho no subsolo.
A agente, utilizando de sua esperteza, pediu que a negra entrasse primeiro enquanto ela escancarava a janela, indo para o novo esconderijo em conseguinte. Fechou a passagem blindada atrás de si, podendo respirar um pouco mais aliviada.

A Filha do Presidente| Joalina Onde histórias criam vida. Descubra agora