O Segundo Dia

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5855 palavras, tá bom pra vocês??😅😊

Joalin estranhou a facilidade com que Sabina  adormeceu. Ela não conseguia mensurar o tempo, mas calculava algo como em torno de cinco minutos. Cansaço, álcool na corrente sanguínea, ou apenas facilidade em dormir. Esses eram possíveis motivos para que o corpo negro se entregasse ao estado de vigília tão rapidamente. E as razões para a comandante estar acordada? Essas estavam no rol de incógnitas que passaram a circundar a vida da loira.
Joalin mantinha-se à esquerda, no hemisfério corporal onde, dizem os especialistas, está o coração. Nesse instante tudo fez sentido. Ela observava Hidalgo dormir de bruços, os braços estavam estendidos para cima e o rosto levemente virado para o lado. A respiração, calma e silenciosa, como se ela descansasse em uma daquelas paisagens bonitas que só vemos nos livros. A boca perfeitamente cerrada, como se aqueles lábios grudados guardassem um segredo inviolável.
Foi inevitável Lin se perguntar como cabia tanta beleza em um corpo tão pequeno, mas de curvas suntuosas. A filha do presidente parecia ter saído de uma pintura renascentista, indo parar diretamente entre aqueles lençóis perfumados e macios. Era linda, linda...
A comandante sabia que devia dormir, porém não conseguia, simplesmente não conseguia. Era errado estar ali e ao mesmo tempo soava tão certo que a confusão quase a fez perder o foco do seu objetivo no momento: não permitir que nenhum pesadelo ferisse a madrugada da mulher ao seu lado; que os monstros que moravam embaixo da sua cama, fossem embora para nunca mais voltar.
A mais nova, então, institivamente aproximou-se para depositar um beijo naquele rosto inerte, inebriando-se com o cheiro doce que vinha de sua pele. Amadeirado, frutal, cheiro de pecado que a fez ofegar.
Observar Sabina  dormindo era quase um dos espetáculos mais bonitos do qual tinha conhecimento. Trazia paz, uma paz imensa, como se fossem blindadas de todo o mal. E, novamente as coisas fizeram sentido. Deixaram de possuir um reles significado, para tomarem um rumo que nenhuma das duas jamais sonhou que pudesse acontecer.
Joalin, de repente, foi tomada por pensamentos desconexos sobre a vida da herdeira presidencial. Não era de se admirar que ela fosse, por vezes, fútil, amargurada, impositiva. Hidalgo não tinha escolha. Sentia-se oca, e esse é um sentimento difícil de explicar, que fica cravado com força em nossa alma. Sua existência não tinha sentido, mesmo com o ambiente mostrando exatamente o contrário. Ela possuía tudo o que dinheiro podia comprar, entretanto, não havia encontrado o essencial: a felicidade plena.
Sabina  mostrou-se extremamente carente, e ter manifestado essa carência foi tão difícil para ela - quanto para a loira, que fora informada sobre o fato. O problema de uma, sem querer foi transferido para a outra. A mais velha deveria deixar-se vencer por esse sentimento ou tomar as rédeas e lutar. Contudo, seria necessário começar a tarefa de se conhecer e se aceitar. Era preciso identificar os fatores que provocavam o acúmulo de emoções negativas para remediá-los. E onde Loukamaa se encaixava nisso tudo? Ela seria a cura para esse mal, seria o preenchimento tão aguardado, tal a transbordar de sentimentos nunca antes conhecido.
A loira arriscou uma carícia nos cachos negros, sem saber que em retribuição, ganharia um sorriso. Mesmo dormindo, Hidalgo sorriu ternamente ao perceber o carinho que recebia. Ali se dava uma troca mútua de generosidade e afeto, algo que talvez não acontecesse se ambas estivessem acordadas, com suas faculdades mentais em pleno funcionamento.
Joalin poderia permanecer em seu ato pelo resto da noite, mas não o fez. Tomada por um repentino peso na consciência, ela levantou-se sobressaltada. Aquela situação não seguia a direção apropriada e isso a incomodou.
Certa vez a loira acompanhou uma palestra de Heyoon na faculdade, onde ela ponderava sobre a inexistência do errado, uma vez que a atitude errada nos leva posteriormente para mais perto daquilo que é certo, tornando-se, assim, apenas uma ferramenta que nos conduz a atitudes corretas. Faz-se errado para que se aprenda o certo. E com isso, ressalta-se o quão desnecessário são nossos próprios julgamentos sobre os outros e sobre situações m todos estão em um processo. Errar faz parte da vida e jamais conseguiremos nos isentar desse quesito.
Pensando em tudo o que acontecera desde que colocou os pés na Casa Branca, Joalin sentou-se na poltrona que ficava ao lado direito da cama. Continuou observando Sabina  dormir, porém, agora um pouco mais longe. À distância, continuava bonita, e era uma beleza tamanha, que bagunçava qualquer conclusão sobre os pensamentos que a mais nova por ventura estava tendo.
Lin fechou os olhos para não ceder à tentação de sorrir com os mínimos espasmos faciais de Hidalgo, ou com a coçadinha que dava no olho igual criança pequena. Mantendo-se assim por alguns minutos, acabou adormecendo, finalmente vencida pela exaustão física e mental com o qual sofria.
Sabina  acordou cedo, quando o amanhecer refletia os primeira raios de sol no chão. Não era de costume o seu despertar antes das 08:00. Contudo, nesse dia, aconteceu. Despertou devagar, languidamente, com o bom humor exalando pelos seus poros. Esoreguiçou-se e, ao inverter a posição na cama, seus olhos foram brindados com uma visão que jamais sonhou, mas que muito lhe agradava. A comandante estava encolhida na grande cadeira estofada de braços largos. Sua cabeça pendia para o lado e a boca, entreaberta, lhe davam um ar puro, inocente, quase infantil. Suas feições eram tão bonitas e delicadas que, se comparadas com às de um anjo, casariam perfeitamente.
Hidalgo nem desconfiava que há poucas horas, era Loukamaa quem velava seu sono, tal como ela no instante mais doce que poderia ter naquela manhã. Adoraria ficar ali pelo tempo que se desse os roncos tímidos da loira, mas já que acordara cedo, resolveu que aproveitar o dia para se exercitar, seria uma boa ideia.
A filha do presidente levantou-se, caminhando até a poltrona. Por alguns segundos pensou em uma melhor maneira de acordar a preguiçosa. Esse ato era atípico para ela, daí a dificuldade em saber como proceder. Resolveu brincar, avisando acordando Joalin com um solavanco no ombro.
- Comandante Loukamaa! Comandante Loukamaa!
- Hã? Oi? O que foi? Cadê? - A moça pôs-se de pé, de súbito, a circundar o local com os olhos quase em desespero.
A morena teve que fazer um esforço quase sobrenatural para engolir a risada que fazia cócegas em sua garganta. O semblante assustado da mais nova estava deveras cômico, e seu franzir de cenho deixava-a ainda mais hilária.
Mantendo a pose de brava, Hidalgo cruzou os braços, batendo ritmicamente o pé direito no chão, a encarar a loira.
- Posso saber por qual motivo, razão ou circunstância, a senhora saiu do conforto do meu colchão king size com tecido exclusivo importado belga para dormir toda encurvada nesse... aperto?
- Nossa, precisava me acordar desse jeito? - Joalin levou a destra até a boca para esconder o bocejo.
- Estou esperando...
- Esperando o quê?
- Sou resposta, Loukamaa. Por que dormiu nessa poltrona?
"Deus me livre! Parece até esposa brigando com o marido para saber onde ele esteve."
A mente da comandante ainda trabalhava em ritmo pelo horário antecipado. Com isso, precisou despistar, caminhando até onde estavam suas roupas para dar tempo de pensar em uma desculpa plausível. Não podia falar a verdade. Simplesmente não podia.
- Bem, era madrugada... eu ouvi um barulho estranho vindo da sacada. Levantei para verifica, sentei observando se realmente havia movimentação lá fora e acabei adormecendo repentinamente. Foi isso. - Se essa mentira foi convincente, a loira não sabia, mas ao menos a veia na testa da herdeira já não estava mais ressaltando ao resto do rosto delicado.
- Tudo bem. Sinto muito por tê-la acordado assim. - Sabina  sorriu falsamente, pois queria mesmo era gargalhar - Tome o desjejum comigo. Pedirei que tragam aqui no quarto e...

A Filha do Presidente| Joalina Onde histórias criam vida. Descubra agora