Para a maioria das pessoas - em especial para Johanna - receber visitas em casa é sempre uma alegria. Já por isso, dispunha de um lugar especial na sala, arrumado com capricho e bom gosto, que traduzia a personalidade dos Loukamaa. Contudo, a situação extraordinária deu-se de forma tão surpreendente que toda a pompa com o qual a mulher fazia questão de receber os amigos e parentes, esvaiu-se por completo. Tanto mãe quanto filha demoraram alguns segundos para assimilarem e associarem a figura elegante parada na porta, com o motivo pelo qual estava ali.
- Quem é que chegou? - George apareceu atrás de Lin e Anna, carregando o filho no colo, ficando boquiaberto com a imagem que sua visão captava – Sabina Sabina Hidalgo?
Ao ouvir a voz grave do pai é que Loukamaa se deu conta de que ainda não havia permitido a entrada da herdeira em sua residência, ou melhor, na residência de seus progenitores.
- An...Srta. Hidalgo, queira entrar por gentileza. - A agente fez sinal com a mão, inspirando a fragrância do J'Adore que espalhou-se no ambiente, trazida pela filha do presidente.
Ante uma situação como aquela, exigia-se uma boa dose de autocontrole e "savoir vivre", os velhos bons costumes que todos deveriam conhecer e jamais abandonar.
- Bom, o que traz a nossa casa uma visita tão ilustre? - O patriarca tentava aparentar o máximo de amabilidade que era possível, ao passo que sua esposa encarava a mulher com a sobrancelha erguida e o cenho franzido, não se preocupando em disfarçar em leve dissabor por sua presença.
Após cumprimentar os colegas de profissão, que se mantinham parados em postura ereta frente à porta, a loira voltou a sua atenção para a visita.
- Sente-se, senho...
- Sabina , por favor. Somente Sabina . - Joalin estreitou os olhos por um milésimo de segundo, tamanha a estranheza que o momento causava - Eu não vou tomar muito do tempo de vocês.
De certo que nos dias em que a agente estava hospedada na casa dos pais, foram diversas as vezes em que sua mãe externou a insatisfação para com a herdeira presidencial e suas atitudes extremistas, mas naquele instante, o que importava era mostrar para a mulher o quanto eram civilizados, recepcionando-a com cortesia e boa educação, dispondo de alguns minutos para uma conversa amistosa. Ainda não sabiam o motivo real da presença de alguém tão importante, porém às vezes era somente a cordialidade que Hidalgo esperava, saindo dali com o coração grato pelo acolhimento que teve e ainda arrependida pelas besteiras que cometeu.
- Você aceita um café, uma água, ou... não sei? Desculpe-me, mas não temos o costume de receber... - A matriarca da família interrompeu sua fala ao prestar atenção no homenzarrão que vistoriava sua janela.
- Isso é procedimento de praxe, mãe, para ver se não há movimentação suspeita, nos prédios ao entorno daqui. - Joalin sentou-se ao lado do pai, no sofá em frente à morena .
- Então... deseja um suco, talvez?
- Não se preocupe comigo. Estou bem, mas... uma água seria bem vinda. - Sabina sorria cordialmente, ao menos era o que aparentava.
- Claro! Eu já volto. - Johanna alternou o olhar brevemente entre seu esposo e sua primogênita, saindo em seguida, caminhando até a cozinha.
Lin, treinada para decifrar o significado de milhares de expressões faciais que o ser humano usava - mesmo que inconscientemente - para externar as suas emoções, soube de imediato que a filha do presidente não estava de todo à vontade, que muitos trejeitos se dava de maneira forçada. Esboçou um breve sorriso contido, ao virar-se para brincar com a mãozinha do irmão. Talvez fosse uma pitada a mais de naturalidade nos atos de Hidalgo, mas a loira tomou o esforço que estava fazendo como ponto a seu favor.
- E esse bebê? - Sabina sorriu ternamente ao olhar para Jan - Posso... segurá-lo?
- Hã... Claro! Esse é o Jan, meu filho mais novo. - Tanto ela quanto George levantaram-se. A morena tomou o pequenino nos braços, recebendo uma gargalhada infantil em retribuição às graças que fazia - Ele gostou de você.
- Tem quantos filhos? - Hidalgo perguntou, curiosa.
- Ah, só ele e Joalin.
- Eu não poderia imaginar que você levasse jeito com crianças. - Johanna retornou para a sala, surpreendendo-se com o bebê no colo de Sabina .
- Está falando sério? O destino ainda não me deu indícios de que serei mãe algum dia, mas eu gosto de crianças. Crianças e animais. Não parece, mas amo.
- Definitivamente não parece mesmo! - Enfatizou a mulher de cabelos curtos enquanto colocava o copo com água sobre a mesinha do centro.
Ainda sentindo o clima excêntrico que pairava no ar, Joalin apressou-se em tecer comentário sobre um assunto completamente diferente do que estava em pauta no momento.
- Então... eu... estou bem. Tirei a tipóia do braço, os ferimentos tiveram ótima cicatrização. Estou muito bem. E... você?
O caçula da família não permitiu que a morena respondesse de imediato. Reclamando de fome, começou a resmungar palavras ininteligíveis em tom choroso, pedindo o como da mãe.
- Está na hora da mamadeira dele. - Disse Anna, o pegando dos braços de Hidalgo.
- Parabéns. Seu filho é lindo!
- Obrigada! Com licença.
- Quer ajuda, amor?
- Não precisa. Obrigada! - Ela falava mais alto que o normal, já seguindo em direção à cozinha novamente.
Sabina tomou um gole da água. Estava visivelmente constrangida. Aliás, todos ali se mantinham talhados da liberdade total de ações na presença um do outro, mas deveriam ao menos fingir o contrário.
- Respondendo à sua pergunta... terei que fazer uma plástica se quiser tirar a cicatriz da cirugia. Ainda sinto algumas fisgadas, porém nada preocupante. Também sinto dores nas articulações e na cabeça, o que dizem ser comum no topo de trauma que tive. Enfim, estou me recuperando bem, graças a Deus.
- Que bobagem. Eu não fiz mais do que a minha obrigação. - Lin detinha a respiração desculpada descompassada devido ao nervosismo, mas tratou logo de controlar-se, uma vez que demonstrar emoções naquele momento, com o seu pai e mais quatro "desconhecidos" a prestar atenção na conversa, não era de fato uma boa ideia.
"Ainda bem que não está dopada, senão ia ser um tumulto a D. Johanna ouvindo aquelas baboseiras", pensou a agente, ao encarar a mulher à sua frente.
- Que modéstia, minha filha! Ela bem corajosa, Srta. Hidalgo. Joalin é mesmo uma das melhores. Posso dizer com conhecimento de causa. Sou militar também. - George mostrava-se inflado de orgulho da primogênita.
- Oh, é mesmo? E eu o parabenizo por tê-la criado tão bem. Cometi um erro ao julgá-la precocemente. Inclusive essa conversa que estamos tendo, a princípio seria com meu pai. Eu tinha pedido a ele o sigilo dar minhas intenções, mas pensei bem e percebi que seria um erro maior ainda não vir pessoalmente para... - A herdeira pausou a fala por alguns instantes quando Johanna sentou-se ao lado do esposo, ajeitando Jan, que mamava avidamente em seu colo. Um pigarro antecedeu a sua continuação - ... para agradecer por tudo o que fez por nós. Certamente não estaríamos vivos. Todos teriam sido massacrados naquele ataque. Você arriscou a sua vida, você se pôs na frente de várias armas como escudo para me proteger... - Notoriamente havia emoção em casa palavra de Sabina . On pedindo não a permitiria marejar os olhos, já era demais assumir tudo aquilo em voz alta, indo além de seus pensamentos - Por isso é por todo o resto é que gostaria que retornasse à equipe da Casa Branca. Entendo se estiver magoada, e com razão. A questão é que... nem meus pais, nem eu, confiamos em nenhuma outra pessoa para executar o trabalho tão bem como você fez.
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A Filha do Presidente| Joalina
FanfictionÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Sabina Hidalgo. Sendo a filha do presidente dos Estados Unidos da...