Permitindo-se

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Gostar de alguém é sentir um frio na barriga; é beijar ávida e calmamente, e de vez quando, abrir os olhos discretamente para conferir o ambiente e o sorriso nos lábios da outra pessoa; é adorar dormir junto, mas acordar na primeira hora do dia seguinte mantendo os outros compromissos; é tirar do sério, com a tenacidade de testar o ponto fraco do outro. Gostar é estar longe e sentir saudades do que ainda não acabou; é como ter o jogo ganho, mas faltar apenas uma carta nas mãos. O verbo gostar trás consigo muitas incertezas e, ao mesmo tempo, muitas descobertas.
Todas as definições de gostar aplicavam-se à Joalin e Sabina, uma vez que ambas estavam arriscando o desconhecido, enlouquecendo. Suas atitudes e vontades tornaram-se completamente incontroláveis, irracionais. Os erros transformaram-se em acertos, o ruim transformou em bom, a fome em saudade, e o sono em pensamentos uma na outra.
E não é que em meio à tudo isso, algo um pouco maior poderia estar acontecendo? Talvez não só se gostavam, como também descobririam uma hora ou outra a paixão aflorando, uma vez que apaixonar-se é expressar através do olhar o que as palavras não são capazes de traduzir; é sentir o sangue a correr nas veias, bem como arrepios com simples toques; é aproveitar todos os momentos, e em cada brecha, encontrar uma chance para satisfazer os desejos; é agir por impulso e depois arcar com as consequências, boas ou ruins. Apaixonar-se é sentir uma atração incontrolável, é deixar a vontade carnal sobressair ao teu juízo. Apaixonar-se é como se nos perdêssemos de nós mesmos para encontrar-nos no outro.
E onde o beijo entra nessa história? Ah, poucos prazeres físicos são tão dotados de emoções diversas quanto um bom beijo, dos demorados, como o que Sabina e Lin apreciavam naquele momento.
Quando estamos vivendo uma paixão, quando dois corações resolvem se unir, o sentimento torna-se tão arrebatador que somente um beijo dado como forma de selar a ocasião é capaz de suprir todas as necessidades um do outro. O ato é de suma importância para determinar o que virá em seguida, se as línguas precisam serpentear uma na outra novamente no anseio, ou não.
Definitivamente o beijo que davam era o ingrediente chave do encontro erótico dos corpos, da dança sensual que as envolvia, das mãos que percorriam as curvas suntuosas e por vezes perigosas, coroando com volúpia e ternura, algo que todos sabemos qual será a conclusão. As palavras tornaram-se desnecessárias, a demonstração de afeto, ímpar.
Dizem que o beijo é dotado de três vidas: A que nasce na alma de quem o dá, a que fica no coração de quem o recebe, e a que permanece na recordação de quem dele gostou.
A filha do presidente e sua segurança particular não só haviam gostado de se beijarem, como querem repeteco várias e variar vezes. Joalin acabou por prensar o corpo de Hidalgo na mesa de jogos com o seu próprio. Suas mãos subiam e desciam pelas laterais do corpo da morena, que se encaixava entre as pernas da outra. Ouviam-se gemidos baixos e involuntários, dados durante e entre os intervalos do ato, onde a busca por ar se fazia necessária.
Aquela procura incessante pelo prazer que uma língua proporcionava à outra dentro de suas bocas, foi abruptamente interrompida quando passos lentos foram ouvidos vindo do corredor. A comandante afastou-se, ajeitando a roupa e os cabelos, sendo imitada pela hedeira. O ritmo do andar, o som que era propagado, não fora reconhecido, obrigando Joalin a manter-se em estado de alerta.
- Oh, vocês estão aqui. - Hina deu dois passos para dentro do cômodo quando passou pela porta e a viu entreaberta - Desculpem-me se interrompo algo, mas é que...
- Não interrompeu nada além do que uma breve explanação da comandante sobre os procedimentos de segurança que adotaremos nos próximos eventos. - Sabina explicava em tom ameno, demonstrando normalidade, como seria se a situação fosse verídica.
- Depois do ataque a minha vigília com relação à Srta. Hidalgo redobrou. Todo cuidado sempre foi pouco, mas agora é menos ainda. - As mulheres estavam tratando tudo como algo corriqueiro , preservando o semblante imparcial como se nada tivesse acontecido entre elas, porém em seus íntimos, estavam em polvorosas, nervosas pelo quase flagra. A morena mesmo esboçou um leve sorriso, tendo que engolir a vontade de gargalhar por conta do olhar repreendendor de Lin - Hã... senhorita... - A loira reiniciou a sua fala após um pigarreio - Creio que os detalhes podem ser explicitados posteriormente, então, se não for precisar mais dos meus préstimos, irei verificar a equipe parte externa.
- Oh, claro, pode ir. Irei mostrar à Hina coisas imprescindíveis para que ela trabalhe bem, principalmente depois que minha digníssima mãe estiver presente. Não queremos D. Aledesmanchando-se em cólera com ninguém. Me acompanha? - Hidalgo dirigiu a palavra à asiática.
- Sim, senhorita. - Sorrindo timidamente, a moça cruzou a sala sob o olhar intimidador de Joalin.
- Até mais, comandante. - Sabina provocou, umedecendo os lábios discretamente.
A loira não se prestou a responder, já que havia prendido o ar, só soltando quando se viu sozinha no local.
"Puta merda! O que foi isso?" Joalin teve o seu olfato invadido pelo perfume da cacheada trazido por uma brisa vinda da janela. A agente federal fechou os olhos e sorriu ao se lembrar do sabor do beijo de Sabina, da maciez da sua pele, da reação da outra aos seus toques, do quanto aquilo parecia tão intenso e tão certo ao mesmo tempo. "Você vai acabar me enlouquecendo, Srta. Hidalgo. Oh, Joalin! Você está muito, muito ferrada!"
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Em seus aposentos, Sabina mostrava-se com outro humor, um tanto quanto diferente do que no primeiro contato com a nova secretária. Estava sorridente, tranquila, parecendo autenticamente feliz, apesar de ter o seu caminhar dolorido por conta da torção e da escoriação na perna.
- Bom, Hina, como eu disse anteriormente, há coisas que são imprescindíveis que saiba. Hã... vejamos... eu detesto ser acordada. Sou responsável, tenho ciência de todos os meus compromissos e não vejo necessidade alguma de ter alguém me incomodando, seja em que horário for. - A cacheada ia falando ao passo que se acomodava sentada em sua cama.
- Sim senhorita.
- Às vezes gosto que se dirijam à mim pelo meu primeiro nome, às vezes não. Meu humor é inconstante e ácido. Terá que aprender a lidar com isso. Meu pai é um ser iluminado, tranquilo e pouco exigente, completamente o contrário da minha mãe. A primeira-dama vai arrancar a sua cabeça caso aja fora dos padrões que ela impor, mas esse detalhe eu prefiro que a mesma lhe informe.
- Hum... desculpa, Srta. Hidalgo, mas... terei que reportar à senhora sua mãe também?
- Não, somente à mim. Ela tem uma pessoa que cuida dos seus compromissos, no entanto, você praticamente viverá no meu encalço. Será comum que vez ou outra ela venha a te pedir para fazer algo.
- Claro! Claro! Perguntei, pois se fosse cuidar da agenda de ambas, eu teria que preparar outro cronograma.
- Você me parece bem eficiente e ágil. Isso é bom. Ah! Lembrei-me de outra questão... Não sei e nem me interesso muito em saber como você e os nossos outros colaboradores tratam a questão da hierarquia entre si, mas te digo uma coisa: minha nutricionista e minha segurança estão acima de qualquer um, se bobear até dos meus pais, já que uma me alimenta e a outra me protege, coisa que eles não fazem há tempos. Portanto, o que elas mandarem deverá ser obedecido sem pestanejar.

A Filha do Presidente| Joalina Onde histórias criam vida. Descubra agora