Sabina chegou à sala de estar mantendo um sorriso dúbio nos lábios pintados de vermelho. Agradeceu internamente por nenhum dos presentes conseguir enxergar além de seu corpo, uma vez que sua alma provavelmente estaria a revirar os olhos, mortificada com esse jantar estúpido, ao seu parecer.
- Boa noite! - O tom ameno da voz da morena disfarçava a insatisfação crescente dentro dela.
- Sabina, querida, há quanto tempo não nos vemos! - Vanessa levantou-se, cumprimentando a Srta. Hidalgo com um breve abraço e dois sutis beijos, um em cada lado da bochecha - Parece-me tão bem!
- Você também está... ótima! - A mais nova sustentou a falsidade, desvencilhando-se dos braços da mulher espalhafatosa, dirigindo-se ao homem a seu lado - Como vai, governador?
- Ah, por favor, Sabina, sem formalidades, ao menos por hoje. - Deram um aperto de mãos. Seria mais do que isso, se não fosse pela esperteza da filha do presidente em logo ir cumprimentar o rapaz sentado na poltrona à esquerda.
- Bailey...
- Sabina... - Ele sorria.
No instante em que seus olhos encontraram os da sua moça idealizada, o Sr. Matthew, filho, não pôde controlar os sintomas inegáveis da paixonite que lhe atacara: respiração e batimentos cardíacos em ritmo inconstante, nervosismo aparente, suor frio e um abobalhar de atitudes.
- Está tudo bem? - A morena indagou-o com a sobrancelha direita erguida.
- Não há como ficar bem diante de sua beleza estonteante. - David sussurrou no momento em que curvou-se discretamente para beijar o lado esquerdo da face da herdeira presidencial.
Constrangida, talvez um pouco enojada com a cantada barata aprendida em sites de relacionamento, ela prendeu o ar por alguns segundos, afastando-se, oferecendo seu melhor semblante impassível ao pôr-se sentada ao lado de seu digníssimo pai.
- Lindo casal... - O comentário infeliz de Ale fez a filha lançar-lhe um olhar fulminante de repreensão.
- Quem? Matthew e Vanessa? Você e papai? São mesmo! Exemplos de relacionamento sólido e bem instituído. Amor verdadeiro, não? Desses que lemos nos livros de contos de fadas, ou vimos em filmes românticos. Natural, como se a alma de ambos fosse uma só. Deveras bonitos, não concorda, Bailey? - A ironia usada naquelas frases provavelmente tinha ficado implícita para o governador e sua esposa, mas não passou despercebido pelo presidente nem pela primeira-dama.
- Oh, claro! São casais perfeitos! - O rapaz havia sido pego de surpresa com a pergunta da herdeira, atendo-se a poucas palavras para evitar constrangimentos.
A família presidencial sabia que a animosidade seria presença constante nas entrelinhas de um comentário e outro durante a noite, e nenhuma das partes, no caso mãe e filha, abririam mão desse recurso. Era o preço a se pagar.
Os passos largos e apressados de Fuller ecoavam pelo extenso corredor decorado com obras de arte diversas. O comandante deveria certificar-se de que tudo estava na mais perfeita ordem, já que era um dia atípico e sua função competia em fazer todos os esquemas de segurança serem funcionais.
Cumprimentava um e outro durante o trajeto com um aceno ou um movimento leve da cabeça, interrompendo sua caminhada somente quando passou por uma pilastra e ouviu uma conversa de caráter verdadeiramente duvidoso.
- O acidente pelo menos serviu para alguma coisa.
- É.... Aquela idiota ia estragar tudo.
- Lembra como ela desmantelou nossos planos da última vez? Eu fiquei com tanta raiva que o chefe custou para me controlar. Eu queria esganar aquela...
- Ei, esquece. Agora vai dar certo. Dessa vez conseguiremos. Estamos aqui. Estamos dentro. Conseguimos com acidente ou não.
Aparentemente tratava-se de um diálogo entre dois dos funcionários do buffet contratado para servirem o jantar. Os rapazes usavam o uniforme da empresa, mas não possuíam o cartão de identificação em local visível.
Simon aproximou-se cautelosamente com o cenho franzido, respirando a estranheza que lhe fazia sentir arrepios percorrerem a base de sua coluna. Era o seu sexto sentido gritando como uma voz aguda ecoando em seu cérebro. O homem levou a destra à parte de trás de seu blazer, segurando na coronha da 9mm que mantinha no dispositivo do coldre.
- Com licença. - Fuller pigarreou antes de avançar alguns centímetros mais à frente - Posso ver a identificação de vocês? - Ambos foram tomados de susto com a aparição repentina, entreolhando-se temerosos.
- É... - O mais alto parecia menos afetado - Está na cozinha.
- E o que fazem fora da cozinha? Posso saber?
- Estamos... descansando um pouco.
- O local de descanso não é aqui. Somente pessoas credenciadas podem circular por esses corredores.
- Desculpa. Não sabíamos. - Dessa vez foi o outro rapaz quem se pronunciou.
- Sabiam sim, pois ninguém pisa nesse lugar sem ter as devidas instruções. - Calaram-se. O silêncio bizarro aumentou consideravelmente a estranheza tanto dos homens, quanto do comandante - Posso saber de que acidente estavam falando? - Outro questionamento súbito e o desconcerto pôde ser notado nos "colaboradores" do buffet.
- Cozinha. Foi um acidente que aconteceu na cozinha. - O semblante dos homens dava sinais sutis de modificação.
Aparentavam nervosismo excedente, leve sudorese, os peitos arfando em caráter desregular. Indícios de tensão que somente olhos altamente treinados poderiam captar.
Simon levou a mão livre à lapela, tombando levemente a cabeça para conseguir alcançar o dispositivo de comunicação.
- Beta 6. Morris, vá para a área da cozinha, por favor. - O aguardo de segundos pela resposta parecia ter tensionado ainda mais os homens à sua frente. O comandante desviou o olhar deles percebendo a movimentação de um de seus agentes na porta da sala onde o presidente e seus convidados estavam - Clinton, aproxime-se, por favor. - Sem pestanejar, o rapaz obedeceu à ordem - Acompanhe esses dois até a cozinha. Verifique se está tudo bem por lá. O jantar deve ser servido... - Fuller interrompeu sua fala para verificar as horas em seu relógio de pulso - ... daqui a exatos vinte e cinco minutos. Certifique-se de que nenhuma intercorrência cause atrasos.
- Sim, senhor. - Clinton virou-se para os supostos colaboradores da empresa contratada - Podemos? - Ele apontou para o corredor, indicando o caminho, seguindo na retaguarda.
Quinze passos. Simon deu apenas quinze passos até alcançar a entrada do cômodo onde a família do Sr. Hidalgo e do Sr. May conversavam animadamente, ou ao menos era o que as vozes afetadas demonstravam.
Em outra ala, longe dali, Joalin adentrava o seu antigo dormitório. Era um cubículo menor do que seu atual local de trabalho, mas por um motivo desconhecido, sentia-se bem ali. Não entendia como um cômodo com espaço apenas para uma cama de solteiro, um criado-mudo e um armário de duas portas - que mais parecia guarda-roupa de recém-nascido - poderia causar-lhe sensações aprazíveis. Não entendia, apenas sentia.
Sentou-se na cama por alguns instantes, suspirando e sorrindo saudosa. Não passou muito tempo naquele local, o que não a impediu de se afeiçoar ao ritmo de trabalho que lhe competia a Casa Branca. Era um pouco diferente de quando estava com o governador, e se não fosse pelos incidentes desastrosos com Sabina, seria tão ou mais agradável do que era o seu emprego anterior.
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A Filha do Presidente| Joalina
FanfictionÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Sabina Hidalgo. Sendo a filha do presidente dos Estados Unidos da...