O Ford Escape prata, do ano de 2015, parou frente onde moravam George e Johanna. O uso de elementos combinados, que solitários não têm muita relação, mas unidos proporcionam a montagem de um conceito elegante, é um dos destaques desse prédio moderno. O vidro usado tanto mas varandas como nos muros em substituição de alvenaria, fazia transparecer não apenas os ambiente, deixando-o mais amplo visualmente, mas proporcionava uma sensação de liberdade mesmo com a total segurança de um material seguro e funcional. Típico da cidade onde moravam.
O casal havia se mudado para o local há, alguns anos, depois de muita insistência por parte da filha mais velha. Lin queria que seus pais morassem em uma residência de maior conforto do que a anterior, onde pudessem gozar dos benefícios proporcionados pela ótima localização. Aquele prédio reunia todos os requisitos que a loira julgasse necessários para que pudesse tranquilizar-se quanto à boa moradia dos seus progenitores. Tanto falou e fez, que os convenceu a se instalarem no apartamento do terceiro andar, vencidos pelo cansaço; não convencidos pelos argumento ardilosos da agente especial.
- Está entregue. - Fuller sorriu ao colocar a mão no ombro de sua subordinada.
- Não quer subir?
- Não, deixe para outro dia. Estou com tanta vontade de descansar quanto você.
- Ah, claro. Desculpe-me. Hã... então... muito obrigada por tudo. Amanhã eu te ligo para verificar como farei no escritório e...
- Nem em sonho, senhorita. Eu bem sei que em um desses papéis está escrito que ficará em repouso por, no mínimo, uma semana. O retorno ao trabalho só depois da liberação médica.
- Ei, não. Isso é exagero. Estou bem. Vocês precisam de colaboradores mais do que nunca. Precisam reerguer a Casa Branca.
- E por acaso você é engenheira, arquiteta ou pedreira? Não, portanto não há nada que possa fazer por hora.
- É sério?
- Muito sério. Assim que o médico te liberar, veremos como ficará sua situação na Agência.
- Eu não acredito...
- Loukamaa, pare de reclamar e suba logo! Seus pais devem estar arrancando os cabelos de preocupação, loucos para te ver.
- Se não tem outro jeito... - Com o ar infantil, a agente bufou baixo, contrariada por ter sido talhada de suas funções laborais. Saiu do carro a contragosto, acenando com a mão esquerda - Obrigada mais uma vez.
- Se cuida. - Simon tombou o corpo para olhá-la, através da janela, caminhar em direção à portaria.
Joalin aprendeu com sua mãe a ter esperanças no melhor de uma situação por por que fosse. Sua progenitora sempre dizia que até do momento mais difícil há de se tirar algum proveito. Pode não se enxergar a saída quando se está no olho do furacão, mas depois que a tormenta passa, o céu se abre em azul límpido, dando um sentido diferente ao problema. A loira pensava nisso enquanto o elevador chegava ao andar indicado, contudo, não chegou a nenhuma conclusão. A sobrevivência era a sua única recompensa por tanto esforço e bravura durante o ataque que sofrera? Deveria ser, mas parecia não apresentar um atrativo forte. Ela esperava encontrar algo grandioso, de valia depois daquilo tudo. Joalin mostravasse com o coração esperançoso por uma reviravolta em sua vida. Talvez fosse somente por isso que esperou esses anos todos.
A agente tocou a campainha já se preparando física e psicologicamente para a recepção calorosa que teria. E não seria para menos. Ela estaria mentindo se dissesse que não havia pensado no fim, em sua morte, na possibilidade de nunca mais retornar àquela residência. Temeu não poder brincar Jan, nem assistir futebol com o seu pai e a telenovela com sua mãe, mesmo detestando tal programa. "Eu sentiria falta dos tacos da D. Johanna", pensava a moça ao ouvir o tilintar do molho de chaves enquanto uma delas girava dentro da fechadura.- Filha! - A mulher de cabelos escuros e curto literalmente pulou no colo de Joalin, fazendo-a sentir o latejar nos ferimentos.
- Ai, mamãe!
- Oh, meu Deus. - Johanna levou a mão às boca quando afastou-se e pôde observar os curativos visíveis sobre a pele alva. - Me perdoe.
- Ela só está feliz. - A voz firme de George ecoou pelo corredor.
- Papai! - Joalin emocionou-se junto com duas das pessoas mais importantes de sua vida. Fez questão de esquecer-se de dor, de impedimentos, para poder aproveitar os sentimentos ímpares que aquele reencontro estava proporcionando - Eu pensei que não os veria mais. - Após alguns de carinho e saudades transmitidas através do abraço coletivo, os três deram passos para dentro do apartamento, fechando a porta para uma maior privacidade. - Eu amo vocês.
- Oh, minha menina. Rezamos tanto para que saísse viva daquele tumulto todo. Vimos tanta gente morrendo, se machucando que...
- Acabou, pai. Acabou. Eu estou aqui, viva. Remendada, mas viva. - A risada que deram nem era tanto pela parte cômica da fala da loira, e sim pelo alívio em estarem juntos novamente.
Nada mais importava. Não importava o que tinha acontecido, e como tudo se sucedeu. Não importava os erros do passado nem os dramas do presente. A única coisa relevante era a benção da companhia um do outro, com a oportunidade de cada minuto podendo ser aproveitado ao máximo.
- Sente-se, Joalin. Deve estar exausta! - A mulher ajeitava as almofadas no sofá para um maior conforto da filha.
- Ah, mamãe, confesso que eu não via a hora de me recostar em um estofado macio como esse. O leito do hospital é um pesadelo, apesar de ter todas as mordomias do mundo lá.
- Conte-nos. Como foi parar na Casa Branca? Não estava trabalhando no escritório? - O patriarca sentou-se ao lado da esposa na poltrona em frente à agente.
- Eu estava no escritório da USES sim, mas quando fui transferida, acabei deixando alguns pertences no dormitório dos agentes e... resolvi buscar.
- Tudo culpa daquelazinha mal educada. - Johanna esbravejava.
- Quem? - George franziu o cenho, curioso.
- Sabina Gabrielly Hidalgo. Demitiu a nossa menina mesmo depois dela ter salvado o cachorro, aliás, agora salvou a vida dela também, não é? E sem obrigação nenhuma. Quem a vê nos noticiários toda pomposa, rebuscada, cheia de sorrisos, nem imagina o quanto é mimada, sem escrúpulos e estúpida.
- Mãe! Não é bem assim...
- Ah, não é, Joalin Vivi Sofia Loukamaa? Como não é?
- Calma, amor. - George tentava apazigar os ânimos da mulher, enquanto a filha revirava os olhos para mais um rompante de proteção materna.
- Calma, George? Se não fosse por aquela... Sabina, a nossa filha não teria corrido tanto risco, não teríamos passado por todo aquele sufoco, vendo os telejornais, quase sufocados de angústia, sem saber se a Lin estava viva ou morta.
- Mamãe, por favor, pare! Sabina não teve culpa de nada.
- Desde quando você a defende, Joalin? Foi você mesma quem me ligou revoltada com a brutalidade e estupidez com o qual ela te tratou no dia do acidente com os cães.
- Sim, D. Anna, (N.A: vou reduzir o nome da mãe da Joalin em Anna, para ficar melhor) eu estava chateada. Não me agradou nenhum pouco ficar enfurnada dentro daquele cubículo no décimo oitavo andar de um prédio, com meia dúzia de machos me tirando o resquício de paciência que eu ainda possuía. - A agente suspirou profundamente em busca de autocontrole emocional - Pense comigo... a Srta. Hidalgo errou, foi injusta ao exigir a minha expulsão da equipe de segurança. Ok. Mas se ela não o tivesse feito, eu estaria trabalhando da mesma forma, estaria lá durante a invasão. Não podemos culpar ninguém por algo que não passa de obra do destino.
- Nossa filha tem razão. Lugar errado, na hora errada, apenas. - O seu pai afagava os cabelos da nuca de sua querida.
- Ou lugar certo, na hora certa. Eu pude contribuir com o salvamento das vidas de diversas pessoas, inclusive a do nosso presidente, que está bem grato por isso. - Joalin sorria orgulhosa. - Correr riscos é tudo o que faço desde que descobri ser agente especial do Serviço Secreto é o maior desejo da minha vida. É certo que fiquei apavorada com a possibilidade de falhar na missão, mas quando a adrenalina começou a correr nas minhas veias durante o tempo em que fui obrigada a correr, me esconder, pular janelas, matar pessoas para proteger à integridade física de outrem... - Ao tempo que a loira ia descrevendo as sensações vivenciadas por ela, seus olhos marejaram e um sorriso genuíno pôde ser visto abrilhantando o seu semblante carregado de satisfação - ... O momento em que estive à beira da morte, com armas potentes apontadas para mim, foi quando eu me senti mais viva. - Ela bufou baixo, balançando a cabeça em negativa - Não conseguem me entender. Nunca conseguiram. Nem você, pai, que também é policial...
- Isso não é verdade, Lin. Nós... - Ele tentou explicar suas impressões, mas fora interrompido pela esposa.
- Desculpa. Só temos medo de ter perder. Eu um pouco mais do que seu pai, porque além de você, tenho ele como herói na família. Espero que Jan não tente me matar do coração escolhendo uma profissão arriscada como a de vocês.
- Temos orgulho da guerreira que criamos. Às vezes pode parecer que queremos talhar seus sonhos, mas só estamos tentando te proteger. - Ponderou o homem.
- Mesmo sabendo que não precisamos, que a salvadora de todos nós é você. - Completou a matriarca, mudando de sofá, sentando-se ao lado da filha - Te amamos muito, Joalin.
- Eu também amo vocês. - A agente repousou a cabeça no ombro esquerdo de Anna por alguns instantes, até que ouviram o choro estridente do bebê que dormia no mezanino. - Olha só quem deu o ar da graça.
- George, o busque para mim, por favor. Vou terminar o almoço. - A mulher levantou-se junto com o marido, que atendeu prontamente ao seu pedido.
- O que temos para comer? - Joalin falou em um tom mais alto para fazer-se ouvida, já que a mãe apressou-se em sair do cômodo.
- O que deseja, madame? - Johanna brincou.
- Eu pediria hambúrguer, mas como sei que nunca faria isso para o almoço, quero arroz, carne com legumes, suco de cenoura com laranja e pudim de pão para a sobremesa.
- O arroz está pré-cozido, os legumes cortados, só falta refogar a carne. Ah, o pudim já deve estar bem gelado e consistente. - A mulher retornou à sala apenas para sussurar no ouvido da filha.
- Adquiriu poderes sobrenaturais? - A moça olhou para trás, gragalhando com a mãe - Deu para advinhar pensamentos?
- Eu te conheço bem. Só isso.
A família é mesmo a base de tudo, o primeiro passo na direção da construção do caráter que o indivíduo terá na convivência em sociedade, afinal, é na família que assimilamos o elementar para o entrosamento e entendimento com os demais. É em família que aprendemos a valorizar nossos semelhantes e associamos elementos primordiais como a compreensão, tolerância e aceitação. Contudo, isso só é possível diante de um elo forte que una seus membros: o amor. Uma família bem estruturada, amorosa e feliz, reflete nas atitudes de seus integrantes e no futuro que terão.
Assim eram os Loukamaa. Tinham seus inúmeros defeitos como indivíduos e em conjunto, mas o carinho, a união e o respeito que nutriam uns pelos outros, superava o que quer que fosse.
Almoçaram, conversavam, divertiram-se juntos. Lin pôde aproveitar a tarde para brincar com seu irmãozinho que se desenvolvia mais e mais à cada dia. O pequeno era esperto, aprendiam rápido o que lhe ensinavam e fazia todos gargalharem com seus gracejos infantis.
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A Filha do Presidente| Joalina
FanfictionÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Sabina Hidalgo. Sendo a filha do presidente dos Estados Unidos da...