- Loukamaa, tem... - Fuller encarava a loira, boquiaberto. Esta, por sua vez, encarava o caminho pelo qual Sabina havia se embrenhado com Pipoca - Você tem noção do que acabou de fazer? - Nenhuma resposta veio da moça - Joalin! - Somente uma chamada de atenção mais veemente é que a fez desviar o olhar do ponto cego para mirar o rosto do comandante.
- Eu não me importo.
- Não...não se importa? - A incredulidade realmente parecia pairar no ar - Eu ainda não consigo acreditar que isso foi real. - O homem massageava sua têmpora direita, enquanto balançava a perna em claro sinal de nervosismo - Acho melhor você ir para casa e descansar um pouco. Eu vou... te ligo depois.
A agente assentiu, estranhamente sem retrucar. Na verdade, sem dizer uma só palavra. Apenas seguiu em silêncio até seu dormitório.
A calmaria exterior contrastava perfeitamente com o turbilhão de sentimentos desconexos de seu interior. A mente de Lin estava um caos, ela estava um caos. Não conseguia raciocinar, provavelmente ainda sob efeito da adrenalina que corria em suas veias. Essa poderia ser uma boa desculpa para seu ato insano: uma grande quantidade de adrenalina descarregada em seu corpo. Havia tomado um analgésico mais cedo para evitar uma crise de enxaqueca. Provavelmente substâncias ímpares, que não coincidiam com outras, obrigaram-na a reagir de maneira agressiva diante dos absurdos impositivos proferidos por Connor. Mas, não. Todos nós sabemos que isso é balela. Loukamaa desacatou porque quis, porque não poderia ser humilhada daquela forma grotesca. E o mais relevante de tudo é que ela não se arrependia. Faria tudo de novo e de novo, se assim fosse necessário.
A agente organizou alguns objetos pessoais e roupas dentro de sua mochila, ausentando-se da Casa Branca o mais rápido que pôde. Estava furiosa, nervosa. Todo o seu treinamento quanto ao equilíbrio emocional havia caído por terra, e diante da pior pessoa que poderia existir.
Sabina tratou o acontecimento como um ato gravíssimo. Nunca ninguém tinha levantado a voz para ela; nunca ninguém a enfrentou, contrariou ou se opôs a alguma determinação que ela por ventura tivesse feito. Era soberana até aquele momento.
A morena passou longos minutos acariciando seus cães. Brincou com ambos como há tempos não fazia. Essa era uma atividade que a desestressava, que aprumava seus eixos, como se ali pudesse desanuviar-se de qualquer sentimento ruim. Eles eram os seus amigos, seus únicos e fieis amigos, não restando mais nada nem ninguém com quem lidar quando não se sentia bem.
O canil mais parecia uma residência de classe média, tamanha a ostentação do local. Tinha dois andares e os animais dormiam em quartos separados. Possuía "área de lazer", "cozinha", e tudo o mais que garantisse o bem estar e conforto deles. Disso Hidalgo não abria mão: o melhor para os seus animais de estimação.
Ela certificou-se de que tudo estava limpo, ordenado, de que tanto Pipoca quanto Ted ficariam confortáveis em sua ausência. Não queria despedir-se, sair de perto deles, mas seu corpo implorava por um descanso.
O tilintar de seus saltos ecoou pelos salões de sua residência, deixando os empregados sobressaltados. A notícia de que a filha do presidente havia discutido com uma das seguranças já tinha corrido por toda a Casa Branca, e a tomar pelo mau humor estampado em seu rosto, ninguém arriscaria qualquer movimento perto dela, nem ao menos ousaria aproximar-se da morena naquele estado de alerta de perigo.
Sabina seguia para o seu quarto, ansiando por sossego, mas o caminho era traiçoeiro. Além de, pela milionésima vez, tê-la lembrado de Alice no País das Maravilhas, chamou a sua atenção para o cômodo que mantinha a porta entreaberta. Não havia nada lá dentro além de um Rembrandt pendurado na parede lateral esquerda e um piano de cauda aos fundos. O instrumento surpreendia com o seu poder, riqueza tonal, amplitude dinâmica e cor. O teclado e a sua ação ofereciam um controle impecável que incentiva Hidalgo a alcançar novos níveis de expressão musical. Ela amava cada um dos componentes minuciosamente trabalhados a partir dos melhores materiais. A morena sentou-se frente ao piano, fechou os olhos e dedilhou as primeiras notas, não se intimidando com o fato de não tocar já há algum tempo. Quem por ali passava, podia deleitar-se com Moonlight de Beethoven, interpretado pela herdeira com maestria.
Suave, sutil, leve... A mulher que estava naquela sala não era a mesma de segundos atrás. A Sabina ordinária, autoritária, escorria pelo seu rosto junto com as lágrimas. Ela não tinha com quem desabafar, não tinha um colo, uma mente aconselhadora. Não havia meios de se abrir se não em horas marcadas de uma sessão terapêutica. Isso era triste, e a morena se culpava por saber que tinha tudo nas mãos, mas as mesmas estavam atadas e ela não fazia questão de livrar-se de suas amarras.
Sabina não conseguia parar de pensar na discussão que travou mais cedo, por mais que tentasse, assim como Loukamaa.
A loira não conseguia organizar seus pensamentos, menos ainda traçar uma linha de raciocínio coerente. Das tentativas, o impedimento se dava ao lembrar-se do rosto da filha do presidente tão próximo do seu. Pôde sentir seu hálito fresco. Pôde vislumbrar com clareza a veia que saltava em sua testa, bem como a cicatriz evidente no canto direito do seu lábio superior. Pôde lembrar o quanto quis mandá-la à merda, e do esforço sobre humano para não fazê-lo.
Lin dirigia devagar envolta nessas lembranças. Atipicamente sacrificava sua mania inveterada de ouvir música em qualquer trajeto que fazia em seu automóvel, por motivos óbvios: seria mais uma faculdade da sua memória a lhe atormentar.
A agente freou brusca e imprudentemente o carro ao entrar em uma viela de Baltimore. Por sorte, o local não estava muito movimentado e sua atitude impensada não ofereceu riscos eminentes à outrem, senão à ela mesma.
Loukamaa seguia pelo trajeto que dava à casa dos seus pais, seu refúgio, seu porto seguro. Foi automático, mas ao passo de sua racionalização, percebeu que ambos a encheriam de perguntas e ela não estava disposta a respondê-las, nenhuma delas, não naquele momento, não com Johanna e George (N/A: Não sei o nome do padastro da Joalin, sorry!) fingindo não julgá-la, porém a censurando internamente.
- O que eu faço? Para onde eu vou? Deus... - Sua mínima disposição também a impedia de retornar à Capitol, talhando-a de muitas outras opções - Heyoon!
A amiga de longa data morava à duas quadras dali. A solução para seu problema imediato estava bem perto e foi exatamente para lá que Joalin dirigiu-se, torcendo para não dar com a cara na porta.
Estacionou em frente ao imóvel estruturado em madeira e drywall. Desceu receosa com o possível desapontamento em não encontrar a coreana de cabelos lisos e longos. Tocou a campainha insistentemente, sem preocupar-se com o incômodo causado. Não usava de suas faculdades mentais em pleno estado, não a podiam culpar por isso.
- Ei, quem é o filho da... - Heyoon interrompeu o xingamento que se sucederia ao ver quem a perturbava - Lin? O que faz aqui, mulher? - As amigas se abraçaram fortemente sem pretensão de desfazer aquele enlace tão cedo.
- Senti saudades. - A loira sussurrou.
- Eu também sinto saudades. Você está bem? - Não se afastaram até a resposta demorar alguns segundos, preocupando a moça - O que houve contigo? Vem, vamos entrar.
- Eu estava sem rumo, precisava parar em algum lugar e... minha vida é uma merda! - A agente falava enquanto adentrava a pequena sala de estar.
- Eu ia assistir à novela comendo pipoca. Que tal? - Heyoon apontou para a televisão e para a mesinha de centro que acolhia, além de miudezas espalhadas, uma bacia abarrotada do petisco.
- Sério? Quero nuggets, cervejas e futebol.
- E desde quando ordena algo aqui, esposa?
- Desde que você declarou amor incondicional por mim? - Riram.
- Está bem, mas sem futebol. - A morena caminhou até a cozinha abrindo sua geladeira em busca da bebida e das comida específicas - E só para esclarecer, é somente porque estou com vontade e não por sua causa.
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A Filha do Presidente| Joalina
FanficÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Sabina Hidalgo. Sendo a filha do presidente dos Estados Unidos da...