21.Cada um foge com pode.

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Seu coração parecia uma revoada após um barulho estrondoso, Valerie andava de um lado para o outro em seu quarto, tudo já estava pronto, em breve tudo seria apenas uma lembrança ruim, ela seria livre para fazer suas escolhas, a Rosa Negra lhe daria passagem até as índias desde que ela garantisse fosse apenas uma camponesa querendo fugir, e isso que ela estava sendo as últimas semanas e com o dinheiro que já tinha poderia ser uma comerciante, ou algo parecido, teria a chance de escolher quem ocuparia sua cama e seu vida, e não seria um idiota fingido nem um egocêntrico babaca, estaria segura, seu coração estaria seguro de idiotas como eles.
Que maldição onde estava Samantha!
Calçou as sapatilhas, precisava de mais espaço que seu quarto oferecia.
Já havia dado duas voltas no jardim quando o barulho do galopar chamou sua atenção, chegando ha porta o mais rápido que conseguiu, para ver Philipe retirar Samantha da cela e a olhar com a adoração avassaladora, ele estava completamente apaixonado por ele, era visível que ele não tinha olhos para mais ninguém, eles até ficavam bem juntos, ela gostaria de pensar que fez algo de bom para a eles mas ainda não conseguia chegar nesse nível de maturidade e era infantil o suficiente pra admitir, iria embora mas deixaria a pior impressa possível, assim ninguém se daria ao trabalho de procurar, podia se dá ao luxo de pensar assim mas não acreditava que seria assim, seu tio não abriria mão dela assim tão facilmente.
- Andou bastante ocupada prima!- sabia o quão ácido eram suas palavras mas não podia ser diferente, ela estava radiante,  a prima apenas lhe presenteou com um sorriso iluminador que a fez olhar para Philipe, ele tinha uma expressão fúnebre, poderia jurar que ela tinha se entregado para ele, mas ele com certeza estaria com uma expressão diferente se isso tivesse acontecido.
- Preciso de alguns minutos  a sós! - disse Valérie para a prima.
- Eu solicito alguns minutos do seu tempo antes senhorita Valérie!- os olhos cor de terra estavam fixos nela.
- Podemos otimizar o tempo e cada um tem seus minutos! - seus cabelos estavam húmidos  e cheirando a limão, aquilo era realmente estranho.
- Claro minha querida prima, e aproveitamos nesse tempo juntos para falamos sobre o que estava fazendo hoje de manhã!- seu olhar buscou apoio em Philipe que pingareou.
- Essa conversa precisa mesmo ser separada, definitivamente separada!
- Sim e ela primeiro- Ela pegou a prima pela mão e a arrastou sob protesto para onde achou longe o suficiente.
- Meu Deus Valerie você não tem limites- seus olhos a fuzilaram, estavam tão azuis sob a luz sol.
- Diga-me o que estava fazendo com a Rosa Negra e eu saio completamente de seu caminho, pode ficar com os meus restos que eu não vou tentar impedir.
- Como sempre botou a cabeça para pensar e como sempre chegou a conclusão errada- ela sorria amplamente seu rosto ficando corado pelo calor- Sua burra, não o desejava, desejava ser livre e a liberdade que ele traria.
- O casamento é uma prisão minha cara.
- Não ganharia minha liberdade pelo casamento, seria livre quando deixasse de ser virgem!- ela abaixou o tom para falar a última frase.
Uma gargalhada descontrola irradiou de mim, tirando-a completamente da personagem que gostava tanto de mostrar a prima.
- Oh querida prima, não seja ingênua, se arruinar não há tornaria inapta para um casamento, apenas te deixaria sem escolhas, meu tio jamais deixaria uma de nós duas sem um marido, mesmo que ele tivesse que obrigar alguém a se casar com uma de  nós- ela havia descoberto há alguns dias, lendo a correspondência do tio, ele desejava seguir com o casamento e esperava muitas vantagens do título que a família acumularia.
- Mas uma de nós pode ser feliz- ela deu um meio sorriso, e seu olhar ficou sombrio- Sua licença de casamento e para daqui dois três dias.
-Casar-me com aquele falso jamais!
- Com Philipe! Não era o que desejava? Me esfaqueou por causa dele!
-Não Samantha, não desejo mais casar, desejo ser livre, ter minhas próprias escolhas, eu não vou me auto fragelar por causa de um homem, mesmo por Philipe, não vale a pena.
- Não compreendo! Ela perguntou com uma voz quase infantil.
-Não posso te dizer mais sem que me diga o que estava fazendo com a Rosa Negra- ela ponderou por um tempo, mordiscando os lábios, era tão linda que não sabia como conseguia afastar os homens.
- Ela me fará um favor, deixará meu pai ocupado enquanto eu caso você e o Philipe e me livro dos dois em uma cartada só!
Podia esperar muitas coisas, mas jamais aquilo, esperava que fosse ópio ou algo ilegal, mas ela estava tramando devolver o homem que ela visivelmente desejava, era só olhar para os dois juntos para ser enjoativo ver um negando para o outro o quanto queriam estar a sós, ela tentou, e Deus sabe o quanto ela tentou tirar a atenção dele em Samantha, mas lá estava ela se arriscando nós becos sujos da favela para juntar os dois, e  usando o velho sarcasmo para disfarçar os sentimentos, ela conhecia bem como era, seus olhos arderam e os braços envolveu a prima em um abraço apertado.
- Valerie meus pontos! Ela se remexeu empurrando-a.
-Desculpe-me -Philipe deu alguns passos para mais perto delas mas parou antes de chegar- é que você fica incrivelmente fofa quando não está rosnando.
- Eu não rosno Valerie- lá estava aquela fachada de mulher durona que ela mostrava para todos.
-Não seja assim minha prima, faça o que quiser com a licença , mas não me interrompa, irei para o Brasil e começarei uma vida nova sem  ninguém para me obrigar a nada-   ela estreitou os olhos e inclinou levemente a cabeça para o lado, conhecia quando a prima estava pensando algo ardiloso- Nem pense em fazer algo para  me impedir.

-Não tenho intensão de impedi-la- ela  humideceu os lábios e olhou de relance para Philipe- mas desejo que leve  um presente para alguém.

-Quem conheces na colonia portuguesa ?

-Não conheço mas, mas seria o certo a fazer, ele precisa está lá- ela podia ver o suor brilhar em sua testa- vai lhe parecer estranho mas eu lhe garanto mais algumas moedas para a viajem caso aceite levar o irmão de Philipe  e o próprio.

-Juras, e onde pretende que eu os coloque, em minha mala- era a maior insanidade que ela já ouviu em sua vida, como viajaria em com seu ex amante e seu irmão , era impossivel que isso lhe desse abertura para uma vida nova- Isso não acontecera Samantha.

-Ou levas eles com tigo ou não viajas, é uma conta simples, e de tua total escolha-  o tio podia ser cruel mas ela era imparcial, uma parede de ferro intransponível. 

-Não tem limites suas insanidades, está apaixonada por ele e visivel ate para um cego, e vai afasta-lo de ti, porque? Não compreendo, quando estiver com ele por completo não vai querer outra coisa.

- É por isso que ele deve partir, não vou me deixar ser afetada por isso, eu já não consigo mais pensar  com clareza, não sem que ele preencha todos os meus dias, acharei alguem para tirar minha virtude e com ele longe poderei voltar a ser eu mesma, não me perderei para algo como o amor, eu não- ela  falava rapido de mais, era o mais perto de descompensada que ja ha tinha visto, ela falava serio, estava falando serio, ela tinha tanto medo de se apaixonar que o afastaria só para não correr o risco.

-Amar  não é ruim, não quando se tem tudo a seu favor, Philipe  a deseja e visivel, e podem se casar,  se tiver sorte ser feliz, ele não é como os outros que escondem por tras de uma fachada de homem bom, ele esconde um homem bom na fachada de homem cruel que ele gosta de mostrar a todos.

-Isso não é discutivel  Valerie, diga-me quando parte seu navio que eu me encarregarei do restante.

-  Três dias- disse e Samantha  arrumou a saia do vestido, encheu os pulmões e saiu  com sua postura impecável.


O que esconde o CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora