2- O Noivado

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Valérie não mandou recado aquela noite, minha felicidade não pode ser compartilhada com ela e a noite se arrastou até um dia nublado com pancadas de chuvas que batiam na janela do quarto dispersando o cheiro de maresia e o substituindo por um frescor agradável que me deu vontade de andar a cavalo como há muitos anos não fazia, cavalgar realmente não ficar preso há uma carruagem ou em uma comitiva na direção de algum lugar, eu senti saudades do tempo em que minha família realmente saia apenas para cavalgar pelos campos verdes do norte onde vivíamos antes.
Eu ainda sentia saudade, dos meus irmãos barulhentos e até da minha mãe ranzinza e briguenta.

Aquela nostalgia toda não combinava nada comigo e não era um dia de chuva que me faria ficar assim.

-Senhor Angior prepare meu cavalo- o homem de expressões duras e olhar marcado pelo tempo me olhou com curiosidade antes de sair da minha sala de está e ir para os fundos da propriedade onde o nosso pequeno estábulo acomodava os animais.
Comi em silêncio meu almoço/café da manhã e mesmo com a garoa fraca desci para o estábulo onde o cavalo puro sangue que ganhei de um inglês em uma partida de poker já estava selado.
O parque Trivinal quase não tinha visitantes naquele começo de tarde, ao final do parque já se via a praça principal é o início da cidade, acompanhada das barulhentas carruagens e seus passageiros que se arriscavam nas ruas enlamaçadas do pós chuva.
Havia uma ou duas coisas há fazer na cidade antes de retornar ao Brutt, após deixar o cavalo em um estábulo público caminhei pelas ruas pouco movimentadas da avenida principal.
Há linha que divide o respeito do temor e é bem parecida, embora fosse fácil distinguir quem é respeitado e quem é temido, meu pai era um homem respeitado um do quais as pessoas se orgulhavam em ter há mesa para um jantar, mas eu não era o meu pai e as pessoas não gostavam de ficar em minha companhia, não quando se sabe muitos segredos sórdidos sobre eles ou se deve a mim favores impróprios para a moral e os bons costumes.
O visconde de Gerligam passou de braços dados com a jovem esposa sorridente e como padrão apenas levou a mão a cartola em um frio cumprimento.
Há entrada da mansão do Forte era imponente como era de se esperar da casa de um ministro do alto escalão do parlamento, fui recebido pelo mordomo que me encaminhou até o escritório do seu empregador, um homem alto, de barba farta que esperava atrás da imponente mesa de madeira.
-Conde, esperava vê-lo em dois dias.
- Os planos mudaram, o cliente deseja que o prisioneiro seja executado ao raiar do dia.
-Mudanças repentinas exigem pagamentos repentinos - disse com a frieza habitual, o homem me encarou por alguns segundos antes de desviar o olhar para as próprio mãos.
- Mande seu cão de caça ao Brutt ao cair da noite.
Ele sorriu triunfante enquanto eu me retirava do escritório, até para mim àquele lugar era tenebroso de mais para se ficar muito tempo, as paredes dali tinham mais sangue que um abatedouro e nenhuma decoração cara do Hal de entrada me fazia esquecer o que já vi passar nos calabouços daquele lugar.

Por sorte meu compromisso seguinte era menos tenebroso e envolvia menos ameaças e tramas, as encomendas que chegavam do porto eram armazenados em um deposito na cidade, e antes de irem para o Brutt tinham que passar por uma inspeção minuciosa de cada item, quando se recebe os mais importantes homens da cidade e sempre necessário ter cuidado.

O armazém estava cheio como sempre e não me demorei ali, apenas selecionei o que seria servido nas próximas duas noites de bebidas, charutos e ervas alucinogênas que alguns cavalheiros tinham o hábito de usar em segredo.

Ao sair do armazém não acreditava na sorte que o dia me proporcionava, a carruagem dos Faure acabara de parar no boticário, e dela desceu Valerie acompanhada de ninguém menos que Francis Dierre, ele não passava de um projeto de homem, corpo muito esquio, não muito mais alto que Valerie e para completar o conjunto da obra um nariz torto para combinar com os cabelos cor de ferrugem, Valerie foi na frente sem se incomodar em esperar o homem, e sem poder me conter fui atrás deles.
O boticário me cumprimentou com um sorriso afável, ele era um homem conhecido por sua inteligência e bom humor, Valerie sorriu amplamente ao me ver e Francis ficou tenso e nada fez , o local estava vazio com excessão do homem que nos atendia.
-O que faz aqui?- ela sussurrou enquanto Francis era atendido pelo boticário e seu assistente.
- Apenas apreciando a visão- me demorei propositalmente no seu profundo decote, ela apenas sorriu .
- Te vejo ha noite?
-Não foi ha minha pessoa que se esqueceu de seus compromissos noturnos-respondi já me afastando dela ao ouvir novas pessoas entrando no local.
Era sempre difícil encontra- la e não poder chegar perto, mas era necessário que fosse assim.
- Necessito de dois frascos de alfazema e um composto de pinho - disse rapidamente ao boticário sem me importar em atrapalhar o atendimento de Francis- mandarei buscar.
Me retirei antes que ele respondesse, a saída da cidade foi tranquila e sem mais surpresas .
-Senhor, o senhor Francis Dierre lhe aguarda na entrada dos fundos- uma das mocas da casa sussurrou ao meu ouvido.
A entrada dos fundos era usada apenas para carga descarga de mercadorias porém em algumas poucas ocasiões eu utilizava para receber pessoas que não poderiam ser vistas no salão. Francis andava de um lado para o outro esfregando as mãos em um tic nervoso e parou repentinamente ao me ver.
-Ja não era sem tempo- o conduzir até uma pequena sala de repouso das damas de companhia- Fale.
-Aquele homem não tem excrupulos nenhum, esta ha vender sobrinha como uma egua premiada-suas bochechas estavam vermelhas e ele falava de forma exasperada enquanto andava de um lado para o outro.
-Essa informação eu ja possuía antes do senhor!- mesmo vendo a indignação real do homem, o que era louvável, não estava com paciência -desembucha homem.
- Você não entende, ele trata a sobrinha como um cachorrinho adestrado- ele gesticulava com as mãos para cima e para baixo e comecou a falar em um tom mais serio ao descrever- Vistam a garota, levem para a aula, tirem ela daqui, devolvam para o quarto, conde eles ha prendem no quarto e so deixam sair quando ele permite.
Não sei o que mais me irritava naquele momento, Francis descrever a forma horenda que ela vivia ou a demora do homem para me explicar como foi o acordo.
- Não acreditaria que alguém poderia viver daquele jeito e ainda ser tão doce se não houvesse visto com os meus próprios olhos- limpei a garganga e ele se assustou ao lembrar que eu estava ali-A sim, ele aceitou o acordo mais não ficou barato, o homem quer metade de tudo que as terras produzirem, assim como parte dos arrendatarios e dos alugueis dos imoveis da cidade e o direito a ultilizar qualquer propriedade que venha a desejar pelo tempo que lhe convier.
- Não é de surpeender.
-E tem mais- sua voz saiu mais baixa, pude sentir o medo emanado dele- Ele exige que ela não gere um herdeiro antes que a filha dele esteja casada.
-Crápula desgraçado, como ele pode exigir algo assim?
-Nos teríamos que morar la até o casamento de lady Samanta- Francis pulou alto quando soquei a parede próxima-Ele foi veemente quanto ha isso.
- Estava fácil de mais para ser verdade,agora terei que arrumar um trouxa para ela também- as palavras me escaparam mais rapido que um passaro assustado , mas ele não pareceu se incomodar com a ofensa pois sequer parou de andar .
-Não tenho tanta certeza que será fácil assim, ha moça tem um gênio parecido com o pai e uma língua tão afiada quanto.
-Ao inferno mesmo- e espragueijei alto me jogando na poltrona florida com cheiro doce, alisava minha têmpora para diminuir a maldita dor de cabeça que me assolava quando me dei conta do quão enrrascado eu estava, lady Samanta era temida por todos os cavaleiros que eu conhecia, ela era uma mulher de gênio mais que forte.
- Bem receio receio que eu devo deixá-lo com seus pensamentos pois amanhã terei um dia mais do que longo, o maldito Feure quer caçar na primeira hora da manhã, eu lá pareço o tipo de cavalheiro que caça de madrugada?- esbravejou antes de se retirar deixando-me com meus pensamentos.

Nos dias que se seguiram a cidade não se falava e outra coisa que não baile de noivado da senhorita Feure com o Nobre Dierre, verdade seja dita por mais que eu soubesse que era apenas um casamento de fachada toda aquela agitação estava a me incomodar. Meus encontros com Valérie
tornaram-se cada vez mais escassos pois com a proximidade do noivado sua vigilância pessoal tornou-se cada vez mais intensa.
-É sério eu juro que se ele abrir aquela boca mais uma vez vou bater nele com um castiçal- ela dizia seriamente enquanto eu massageava suas costas na banheira repleta de rosas vermelhas e aroma das mesmas-o homem é a chatice em pessoa, ainda não consigo acreditar que meu tio permitiu que eu casasse com um paspalho daquele.
-Talvez tenha permitido apenas por ele ser um paspalho-sugerir maldosamente sabendo que isso apenas aumentaria a ira dela, mas o que eu poderia fazer adorava como suas bochechas ficavam rosadas quando ela estava com raiva.
- Faz sentido ele casar-me com um paspalho e buscar um nobre de verdade para Samanta.
Valérie estava inconformada com o noivado mas eu não poderia contar-lhe a verdade sobre ele, a indignação dela precisaria parecer real para que seu tio realmente desse segmento ao casamento. Quanto mais ela discordasse do casamento mais chances ele tinha de acontecer.
Inacreditavelmente eu havia sido convidado assim como qualquer outro que possuísse um título ou riquezas o suficiente para sentar-se à mesa com uma futura duquesa, toda a nobreza de*** reunir-se na mansão dos Feure na chuvosa noite de verão.
Ardilosamente senhor Feure cuidou para que a filha se destacasse mais que a própria noiva pois enquanto Valérie vestia um vestido creme sem graça e sem qualquer jóia extravagante a prima Samanta estava a toda pompa com vestido azul e joias por todo corpo.
Embora isso não desce mais coragem aos cavaleiros de aproximar-se, apenas aqueles com interesse único e específico em um casamento vantajoso arriscava-se a dançar com a jovem que propositadamente pisava em seus pés e ria de suas caras durante a dança assegurando assim que não houvesse um segundo convite.
-Daria-me a honra da próxima dança?- arrisquei-me, após vê-la duas danças sem um par, era a oportunidade perfeita para conhecer melhor aquela tão famigerada senhorita, a senhora Fiori buscou o olhar do marido pedindo permissão e o mesmo apenas assentiu com olhar rígido.
Samantha parecia gostar muito menos dá ideia que os próprios pais embora após um breve olhar a os mesmos pude notar leve brilho travessos naquele rosto tão bonito, ela tinha olhos de um azul profundo em contraste com a pele pálida e os cabelos negros que davam-lhe uma aparência belíssima, seria uma esposa ideal a qualquer cavalheiro, rica bonita porém sem um pingo de vontade ou vocação ao matrimônio.
-Sinceramente não entendo por que aceitar o convite a este baile e muito menos perder seu tempo dançando comigo-Essas foram as suas primeiras palavras a mim enquanto nós nos dirigimos a pista de dança, ali estava a língua tão afiada de que todos falavam.
- Tens razão, também não sei dizer porque perco meu tempo estando aqui, mas em contrapartida como aqui já estou porque não gastar o meu precioso tempo desagradando o anfitrião?- ela estreitou o olhar um breve momento e sorriu em seguida.
- Talvez eu goste muito dessa dança- segurou meu ombro e se quer reclamou quando eu ha puxei para mais perto, que por sinal era muito mais perto do que a dança exigia.
Ela não só tinha entrado naquela encenação como paraceu gostar muito, apenas desviando o olhar para ver a expressão de raiva estampada no rosto do pai, juntos proporcionamos um belo espetáculo ao baile, com a valsa mais próxima e cheia de olhares maliciosos e toques um para o outro.
Eu realmente teria problema para arrumar alguém que domasse aquela fera.

O que esconde o CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora