26 - impressões opostas

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 O tempo não estava a favor dela,  ela estava lá e logo não estava tudo era tão rápido e inconstante, mas o clima não estava nada bem ele sempre estava tenso, e logo vinha os tremores a cabeça dela era uma ancora pesando mais que tudo, precisava ficar sobrea, tinha que sair daquele transe mas seu corpo não estava indo bem ela sentia as fisgadas ficando mais fortes, era como se alguém tivesse  descosturando sua alma do corpo.

Ele sempre estava lá ou pelo menos na maior parte do tempo ela sentia ele segurando sua mão,  acariciando seu braço ou apenas mexendo em seu cabelo, queria retribuir mas era impossível seu corpo não respondia e tentar doía de um forma que ela não tinha base pra comparar, mas ele estava tão devastado que não poderia  ir e deixar ele  daquela forma, precisava achar  uma forma de se conectar plenamente a si mesma.

Ela já não tinha noção se era dia ou noite, mas ele não estava la quando ela  sentiu seu próprio corpo dolorido novamente, mas tinha alguém ali ao seu lado, era um esforço grandioso   virar para olhar quem era.

Mas a respostas veio em uma língua estranha e um voz infantil,  grandes olhos negros apareceram em seu campo de visão, eram como grandes abismos olhando de volta pra ela e junto com ela veio um cheiro estranho de mato e álcool,  eles logo saíram e quem quer que fosse retirou o curativo do seu ombro e  aplicou algo  como uma pasta amarela, tinha um leve aroma de mel, açafrão e mato misturado. Queria perguntar quem era mas o que saiu de sua boca foi uma junção de palavras que nem ela mesma entendeu o que saiu de sua boca, aqueles olhos voltaram ao seu campo de visão em um esboço de um sorriso saiu dos lábios dela, ela tinha olhos grandes, com cílios enormes e um sorriso iluminando sob a pele escura, era linda, como um anjo em seu caminho, e assim como veio se foi.

As ervas eram fortes e a deixavam tonta, ardia, era dolorido e reconfortante no final de tudo, ela estava acordada  na manha seguinte o que foi reconfortante, mesmo que os chás e o láudano a deixasse tonta de mais pra falar livremente, ele estava lá sentado em uma cadeira  desconfortável, os cabelos totalmente desalinhados  e a camisa amassada,  ele tinha olheiras  escuras sob o olhar cansado,  poderia dizer que ele estava um caco mas não seria verdade, estava lindo com um sorriso iluminado  totalmente  focado nela.

- Bom dia- a voz dele era  doce  como foleados de maça, ela ficou ali presa naquele sorriso  iluminador-  seu rosto esta corado, é reconfortante te ver assim.

Duas jovens esquias vieram e o retiraram do local, elas a  limparam com panos limpos e a agua morna, não era um banho de verdade mas  era refrescante, e elas eram bem fortes para jovens tão magras, ou ela estivesse magra de mais, pois ela a levantaram com rapidez e trocaram a roupa de cama, ela pode olhar o seu corpo com mais atenção, sua pele estava estranha levemente flácida e  alguns ossos estavam mais angulosos e feios ali, de tudo que viu o estado do seu braço foi o  pior, tinha hematomas roxos  e o cheiro era mascarado pelo resquício da mistura do dia anterior e os amarelados do açafrão em contraste com o pus e o tom esverdeado pela sua extensão.

O medico veio logo após as moças a vestirem com uma camisola fina de alças finas, ele estava bem vestido e não  tinha cheiro de álcool, os olhos castanhos dele foram direto para a mistura em seu ombro.

- Quem fez isso, vocês não devem  se arriscar com essas baboseiras que só vão fazer a infecção se espalhar- logo atrás dele veio Carlos e uma mulher de expressões duras, cabelos grisalhos  e um avental impecável, ele se aproximou da mistura cheirou e chamou as duas moças que saíram apressadas e voltaram com  uma bacia e panos limpos.

 - Que isso não se repita, vão mata-la  mais de pressa com isso- mas Carlos tinha um sorriso estranho nos lábios, algo como uma criança ao roubar doces da mesa dos adultos, ele a lançou um olhar cumplice e um leve sorriso que desapareceu quando ele percebeu o que aconteceria a seguir,  a mistura havia secado sob a ferida e grudou , elas humedeceram o pano e tentou retirar o que fez seus olhos lacrimejarem quando a agua e o álcool chegou a ferida,  ela mordeu os lábios  ate sentir o gosto de ferro,  quando enfim elas conseguiram retirar toda a mistura  o medico veio, e ele não foi nada gentil  ao abri a ferida com o bisturi, limpar, apertar e limpar ate ela perder a consciência, logo após mais uma dose de láudano

Não pareceu que demorou muito pra recobrar a consciência pois o duque ainda estava lá, com uma cara de quem iria vomitar mas tinha que ser forte, ele saiu e logo o irmão entrou,  o medico já havia terminado, mas lhe trouxeram mais uma refeição, não havia sido rápido seu apagão, pois lhe serviam  chá de camomila e biscoitos, típico do  café ela havia perdido mais um dia inteiro , ele se encarregou de a ajudar com a refeição tendo o cuidado de esfriar o chá para ela, era muito mais do que ela julgava merecer,  não houve nenhuma palavra, mas ele olhou com seriedade para o ombro dela, novamente a mistura estava la, mesmo ela não se lembrando de como havia sido feita, ela tentou  dizer a ele que não era ruim mas não saiu nada.

- Não se preocupe, só descanse- ele beijou levemente sua testa e ela pode sentir o calor dos lábios dele se demorar ali, era tão bom ter ele ali, seu cheiro de sabonete  sem o perfume habitual apenas ele.

Como já era de se esperar as moças vieram  lhe deram  banho  e já retirando parte da mistura, o medico não ficou nada feliz ao ver seu ombro novamente sujo de ervas, mas guardou para si, repetindo o ritual do dia passado,  a enfermeira lhe serviu o láudano primeiro o que a fez perder a consciência mais rápido que antes.

Ela acordou com gritos e choros,  la estava ela tão pequena sendo puxada pelas duas enfermeiras para fora do quarto, não devia ter mais de sete anos as roupas eram trapos desfiando nas pontas do vestido  cortado como  um saco, ela  gritava e se debatia enquanto era arrastada pra fora, os cabelos balançando foi a ultima coisa que ela viu, e ao virar pro seu ombro la estava  a mistura que no seu ombro, mas não demorou muito tempo ali as enfermeiras limparam  tudo lhe serviram uma dose de láudano  que ela cuspiu  tudo que conseguiu,  ela s debateu e tentou mandar trazerem a garota novamente o mas seu corpo era um amontoado de pele e osso inutil, não lhe respondia nem obedecia, sua maior preocupação era como iria ajudar aquela garota que  só quis te ajudar, ela precisava fazer algo sair daquela prisão que era ela mesma, mas não conseguiria fazer nada  aquela noite, pois  la estava  uma das moças dormindo num lençol ao seu lado.

Na manhã seguinte  Carlos  estava la para lhe da o café da manhã, ele  tinha cheiro de cerveja e rum,  ele não estava nem perto de está bem e ela queria levantar e mandar ele deixar de ser um conde mimado e parar de se lamentar e dizer que tudo ficaria bem mas  a única coisa que conseguiu fazer foi da um leve sorriso   antes dele lhe servir uma colher de mingal de aveia,  o sorriso  acendeu algo nele como se ele tivesse acabado de chegar,  qualquer um  diria que ele era estranho em ficar ali sem falar nem uma palavra apenas conversando com olhares, sorrisos e leves toques realmente validos, mas era o silencio que mostrava o quanto ele se importava, seria injusto não poder responder a tudo que ele dizia, e nada a deixava mais grata do que o silencio e os olhares devotados.

Mas ao olhar para o ombro e não ver a mistura com cheiro de mato e mel a deixou agitada, quis sair tentou levantar mas voltou rápido para onde veio, ele ficou preocupado, ela o tranquilizou comendo tudo que ele serviu a ela mas não resolveu muito pois a anciã a dominou e logo seu estomago jogou tudo pra fora, ela queria ficar bem mas  sua mente voltada a reviver o momento que  a levaram,  ela não conseguiu ver o seus olhos mas a sua imaginação preencheu esse espaço e ficou perturbador ela estava agitada e  ficar parada era difícil.

- Ela - foi  a única palavra que conseguiu dizer e claro que ninguém entendeu, mas ela esperou e mais tarde Carlos apareceu e ela fez o seu máximo pra conseguir repetir o que havia dito antes saiu enrolado mas ela não  tinha certeza se ele entendeu de verdade, era uma merda esta naquela situação, ela podia culpar Valerie mas não conseguir combater a infecção era culpa dela mesma ou do seu corpo que não seguia seu ritmo.

Estava muito bem ao acordar algumas horas  após o anoitecer,  não tinha  ingerido todo o láudano que lhe deram o que lhe deixou melhor,  e milagrosamente ela conseguiu se colocar de pé, precisava ir atrás da garota mas tinha ciência que  seu coração podia parar a qualquer momento e se fosse morrer precisava  fazer duas coisas antes.

Ainda estava tonta mas conseguiu se arrastar pelas paredes e achar a escrivaninha,  escreveu rapidamente dois bilhetes e deixou  secando em cima da pequena mesa de madeira ao lado de  sua cama,  teve que  esperar mais alguns minutos ate conseguir levantar novamente para não vomitar em tuto.

 E com todas as suas forças ela conseguiu chegar ate a porta, seus  joelhos tremeram  e ela quase foi ao chão  ao sair mas tinha que  achar o seu pequeno anjo negro .  




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