6.Quem cala consente.

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-Era um belo par de peitos- eu havia me esquecido que não estava sozinho na carruagem, o Sr. Julian se manifestou assim que o cocheiro se pois a andar, Dairone o olhou de soslaio e voltou sua atenção para a janela- O que foi? Ninguém aqui é cavalheiro o suficiente ao ponto de não olhar.
- Cale a boca Sr Julian- resmunguei por entre os dentes observando o homem de encolher levemente.
Ele tinha razão, nenhum homem é cavalheiro o suficiente para não olhar um belo par de seios molhados de chuva, mas eu não tinha tempo suficiente para essas futilidade, o rumo que aquela conversa tomou havia me deixado com poucas opções e todas elas eram ruins para Valérie.
Arrumar um trouxa para aquela mulher seria difícil, convencer aquele velho maluco que esse trouxa não era eu parecia impossível, ele tinha uma das poucas coisas que eu não ousaria arriscar perder ou machucar: Valérie.

Estranhamente não tive nenhuma visita inoportuna nas noites seguintes, apenas um bilhete do Sr.Dierre explicando como iam os preparativos para o casamento que ainda estava sem data marcada e que na visão dele demoraria bastante.
-O que aconteceu com você?- Serafine me olhava com as sobrancelhas juntas impedindo minha entrada no depósito de bebidas.
- Nada.
-Nada? Nada não deixa olheiras, nada não quebra garrafas caríssimas no carpete caro, nada não bebe whisky toda noite, nada não se envolve em brigas de bêbados no raiar do sol- cada palavra era embanhiada com uma pitada de raiva e revolta, uma mais ácida que a outra.
-Basta Serafine- respondi abrindo passagem para o ambiente seco de cheiro amadeirado há minha frente.
-Qual é o seu problema? Eu jamais te vi assim, tens uma solução para todos os problemas dos outros e irá deixar os seus te afoguem? Eu esperava mais de você sinceramente.
O silêncio se abateu sobre o ambiente como uma névoa pesada e fria que só foi quebrado por uma garrafa de vinho que se espatifou no chão bem nos meus pés.
- Perdeu o juízo Serafine! Essa garrafa vale mais que uma semana de trabalho seu.
- Isso aí não tem conserto- ela apontava para os cacos da garrafa ainda pingando vinho do porto nos cacos grandes- o seu problema tem, então trate de resolver ele antes que sua vida se torne essa garrafa.
Ela saiu marchando porta há fora me deixando há olhar os cacos da garrafa.

Os primeiros raios de sol que entraram pela cortina pesada foram o suficiente para me despertar do sono leve que me acometia.
E como não era de bom tom uma visita sem um aviso prévio, fiz questão de não esperar, e não enviar um mensageiro, o sol estava forte quando a carruagem parou na entrada da propriedade de dos Faure.
O mordomo de expressões duras me esperava com sua melhor cara de mal humor.
- O senhor Faure não se encontra mas a senhorita Faure chegará em breve para recepciona-lo.

 Olhei ligeiramente para a porta me perguntando qual seria a senhorita Faure que chegaria por ela, o mordomo se retirou em silêncio e poucos minutos depois uma caneca de chá quente e biscoitos caseiros foram servidos e o cheiro era maravilhoso, para quem vive próximo de tantas mulheres eu deveria comer melhor, mas todas estavam sempre tão preocupadas com a sinueta que mal tinha comida descendente no Brutt.
- Voltou! - o tom seco da voz dela me fez engasgar com o biscoito e cuspir alguns na barra do vestido azul escuro, ela puxou o tecido para traz com rapidez e olhou com nojo- Me diz que isso não é um hábito seu?
- Desculpe-me senhorita Faure- os restos do biscoito ainda me deixavam fanho.
Aqueles olhos se tornaram frios ao me olhar fixamente antes de virar-se para o corredor e chamar o nome de alguém tão rapidamente que eu mal entendi, uma criada entrou e rapidamente limpou a barra do vestido e o carpete que foi salpicado de farelos, nem precisava dizer o quão sem graça eu estava aquela altura.
- Por que veio?- eu não poderia esperar ser abordado de forma tão direta, poucas garotas de berço tinha há coragem para falar com um homem com essa firmeza no olhar.
-Ainda tenho assuntos pendentes nessa casa- respondi mantendo o olhar fixo no dela, aquele era um jogo, como caçar um animal selvagem, jamais se tira o olho da caça lá estavamos nos, embora seu vestido delicado de renda fina bem cortado mostrando pele o suficiente para aguçar a curiosidade masculina e o rosto angelical, os olhos deixavam claro que ela era uma predadora.

Uma dama acostumada a afugentar homens mais fracos com a frieza daqueles olhos azuis escuros como a noite, mas eu não estava ali para conquistar seu coração, e sim sua confiança.

- Meu pai não se encontra, se avisasse antes de vir que quem sabe...
- Não vim falar com ele- me antecipei enquanto ela tomou para si o acento mais distante de mim- eu posso convida-la a um passeio ?
- Não.
- Sei que tem uma péssima impressão de minha pessoa mas permita que eu possa me redimir das nossas desavenças- Por Deus o que aquela mulher tinha de linda ela tinha de arrogante, ela apenas ergueu o queixo e fungou baixo ao responder.
-Não pense nem por um minuto que algo que fizer desfará sua pessima reputação, e além do mais não é de meu interesse ser vista com o dono daquele antro manchado de péssimas histórias e cheiro horrendo.
- Fico lisonjeado que já tenha ouvido falar do meu estabelecimento.
-Estabelecimento?- ela riu com escanio - aquilo nada mais é que prostíbulo disfarçado de clube.
- Touché! Mas não são meus negócios que te desagrada nesse momento eu acredito.

Uma moça de vestes simples entrou de forma silenciosa e sentou-se numa poltrona entre nós, de certo que era sua acompanhante e o modo silencioso da moça demonstrava a submissão clara em seu rosto, ela era os ouvidos de alguém e eu não estava disposto há ter nossa conversa revela há mais ninguém além dos presentes na sala.

-Caso não deseje ser vista em minha presença em público sugiro um passeio pela propriedade quem sabe a senhorita possa me mostrar o lago ao fundo, ou posso sugerir um passeio assistido ao Mr.Faure, Lady Faure poderia nos acompanhar até a confeitaria- vi as palavras surgi efeito quando os ombros dela se encolheu levemente.
-Fran, busque meu chale branco- ela disse por fim, sua desaprovação era clara no sorriso forçado que ela me lançou.
- Não pense que isso lhe dá algum tipo de liberdade com a minha pessoa.
-Jamais pensei nisso- respondi com as mãos ao alto.
O ar estava quente e abafado, típico do anúncio da chuva eminente, o lago possuía uma chopana e um conjunto de mesas disposto há sua frente.
- Preciso lhe falar a sós- sussurrei para que a dama de companhia há poucos metros não me ouvisse.
-Fran poderia pedir que preparem um lanche a ser servido aqui- ela pediu a jovem que apenas assentiu de cabeça baixa e saiu rapidamente- Seja breve senhor Vasconcelos eu não tenho interesse em gastar mais meu tempo com o senhor, e que fique claro que não tenho interesse em honra nenhum compromisso que meu pai possa ter firmado com o senhor.
As palavras ásperas me deixavam mais aliviado, saber que ela não nutria a esperança de um casamento forçado me deixava mais tranquilo.
- Folgo em saber que compartilhamos da mesma opinião- ela juntou as sobrancelhas e diminuiu o ritmo ao me ouvir- Seu pai não passa de um oportunista e preciso que me ajude a ganhar tempo até que consiga reverter a situação em que me encontro agora.
-Custo há entender o porquê de meu pai o forçar há um casamento, há de convir que nem de longe o senhor é um pretendente aceitável.
- Porém acredito eu que todos que se encaixem nos seus altos padrões de espectativas ainda estão em juízo perfeito por isso se recusam há corteja-la - ela se endireitou e apertou os lábios em uma linha fina que combinados com a sobrancelha juntas deixava claro que não estava acostumada há ouvir tais coisas.
- Deixemos os insultos para outro momento, por hora preciso de tempo, e por isso peço que a senhorita me ajude a consegui-lo- já estávamos de frente ao jogo de mesa de ferro tingido de tinta clara onde ela se sentou no acento de frente ao rio, que tinha as águas ainda sujas devido há chuvas da semana.
- Não vejo por que isso me interessa- ela disse com desdém desviando o olhar para as águas em tom de marrom e verde.
-Pense nisso como férias programadas- minhas palavras há fizeram virar rapidamente o rosto em minha direção, a curiosidade brilhando em seu olhar.
- Percebo que é de grande interesse do seu pai casa-la mais rápido possível, entenda que está sob um vínculo de noivado não afastaria quem realmente a quisesse, mas não precisaria se envolver com ninguém a qual não desejasse.
-Exeto o senhor- suas pálpebras semicerram ao me olhar.
-Tendo por certo de que não é meu interesse seguir adiante com o noivado, garanto-lhe não me fazer presente mais do que o necessário para que ele se mantenha válido aos olhos da sociedade.
Seu olhar se assemelhava ao de um lince ao percorrer o meu rosto em busca de expressões que demonstrassem inverdades, não era estranho que poucos tinham coragem de se aproximar, ele próprio se sentia inquieto sob o olhar dela quem diria um homem menos preparado.

-Que fique certo que isso não me agrada, mas não me desagrada por completo- o esboço de um sorriso surgiu no canto dos lábios rosados dela- estaremos em reunião na Doces e Mel amanha pela manhã, faça parecer casual.

Por Deus como ela conseguia fazer aquilo, seus olhos diziam que eu devia ir embora, mesmo que  seus lábios não tivesse pronunciado sequer uma palavra que ja me sentia inquieto, ansiando me afastar.



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