Azul

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Em certas épocas de sua vida, Lena acreditou que seus problemas talvez não tivessem solução. Quando sua mãe biológica morreu durante sua infância ela achou que passaria a vida no orfanato, quando Lilian expulsou sua melhor amiga da cidade ela achou que nunca mais veria Sam, quando foi separada de Jack achou que não se apaixonaria de novo e quando ela foi internada no hospital psiquiátrico ela achou que nunca sairia de lá. Em todas essas vezes as dificuldades se resolveram e isso deveria ser o suficiente para a jovem ter mais esperança ao se deparar com uma nova situação que aparenta ser insolúvel. Entretanto, no momento que a CEO observou Kara deixar seu escritório com de maneira tão decidida, Lena se sentiu uma grande estúpida porque era direta e unicamente culpada por tudo. Mais uma vez, ela teve a certeza de que não havia resolução.

Por esse motivo, a morena ficou surpresa, pasma, perplexa ao atender o telefone quase meia-noite e ouvir Kara do outro lado da linha. Ela chegou a questionar se não estava sonhando, não seria a primeira vez e nem a última que adormecia em algum lugar e sonhava com a mulher de olhos azuis, aconteceu antes das duas ficarem juntas, enquanto estavam juntas e depois de se separarem. Felizmente, para ela, não era um sonho.

Ambas conversaram por muito tempo, sobre tudo e nada simultaneamente. Ser capaz de conversar assim com Kara foi como um bálsamo para as preocupações de Lena, foi algo que deu a jovem esperança de que elas poderiam ser capazes de recuperar o que tinham antes, mesmo que fosse apenas a amizade. A CEO desejava com todas as forças que o telefonema durasse para sempre e, por isso, amaldiçoou a si mesma por demonstrar cansaço ao deixar escapar um bocejo.

– O tempo passou muito rápido – a loira disse – Já é bem tarde, é melhor eu deixar você descansar.

– Não! Tudo bem, eu posso ficar mais tempo acordada – Lena debateu consigo antes de acrescentar – Eu não quero ir dormir... Eu tenho medo de você desligar o telefone e perceber que voltar a falar comigo foi apenas um lapso momentâneo.

A resposta não foi imediata e a CEO temeu ter dito a coisa errada. Por que tudo que Lena conseguia fazer ultimamente era errar? Ela deveria pedir desculpa, ela dev-

– Nós duas temos que descansar, são quase duas horas da manhã – Kara suspirou – Mas talvez... Você queira almoçar comigo amanhã e continuar a conversa.

Não era o que a morena esperava ouvir, porém dessa vez, ela foi grata por não estar certa.

– Eu adoraria – Lena disse, de uma maneira em que se podia ouvir o sorriso em sua voz – Diga a hora e o lugar e eu estarei lá.

*****

Os dias que se seguiram foram divididos em comandar a L-Corp e passar o tempo com Kara. A primeira parte se tornou mais fácil depois que Lena mudou a diretoria da empresa e nomeou Sam como a nova diretora financeira. Ter alguém de extrema confiança trabalhando com ela permitiu que a morena pudesse finalmente recuperar o tempo livre que foi sugado pela bagunça deixada por Lex. Já a segunda, foi onde CEO investiu sua recente disponibilidade.

No início houve estranhamento, era mais difícil de conversar pessoalmente, porém, com o passar do tempo, as coisas se tornaram mais fáceis. As duas mulheres foram a restaurantes, parques, cinema, teatro e até ao boliche, que Lena nunca tinha ido antes porque essa forma de lazer não era considerada adequada para sua família. A memória dessa ocasião, em especial, era uma que ela guardava com carinho. Apesar de ter sido derrotada de forma espetacular, foi um dia muito divertido, que a lembrou de quando as duas estavam juntas de forma despreocupada. A morena sentia falta desses dias, entretanto, o que mais causava saudade eram os momentos de tranquilidade que tinha com a outra quando estava em casa, quando ambas se sentavam no sofá enroladas em uma coberta e assistiam algo juntas, quando ela apoiava a cabeça no peito da cantora enquanto dançavam na sala e podia ouvir seu coração bater ou quando tentavam cozinhar, mas deixavam a comida queimar por estarem distraídas uma pela outra e acabavam tendo que ir até o Big Belly Burguer ou outro lugar para comer. Lena sentia falta de ser mais próxima de Kara, do sentimento de forte intimidade ocasionado pelas situações domésticas.

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora