Coral

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Foram necessários alguns minutos para que o choro de Lena cessasse, o pranto da morena havia sido silencioso e talvez por isso tenha parecido tão mais doloroso para Kara. Ela podia sentir que a Luthor ainda tremia quando elas se separaram do abraço, as lágrimas tinham deixado uma trilha pelo rosto dela e a cantora conteve o impulso de limpá-lo com as pontas dos dedos.

Os olhos verdes a analisavam como se procurassem algo. Pena, empatia, acusação ou qualquer outra coisa. E Kara, não sabia o que Lena enxergava, mas a ela sabia o que sentia: raiva. Raiva de um homem que, agora não conhecia apenas através das revistas, por se atrever a pensar que podia tocar uma mulher sem permissão, apenas porque é mais forte, por ser o motivo do sumiço do sorriso mais bonito que a cantora tinha visto na vida.

A loira olhou para baixo, para o rapaz caído no chão com a boca parcialmente aberta, os cacos de vidro o rodeavam formando um estranho halo. Era irônico, com toda sua beleza, Mike Matthews não tinha nada de angelical. Por um momento ela desejou que o homem não acordasse nunca, se arrependeu logo em seguida, contraindo o maxilar com firmeza para afastar o pensamento compreensível, porém ainda assim ruim.

Lena talvez tenha percebido porque ela buscou a mão de Kara, apertando com gentileza e puxando levemente, como se pedisse para que elas saíssem dali. O gesto lhe pareceu um tanto cômico, já que dessa forma parecia que era a cantora quem necessitava ser reconfortada. A loira, no entanto, nada disse, ela entrelaçou os dedos das duas enquanto guiava a outra para seu camarim, onde elas ficariam resguardadas, pelo menos por hora.

Apenas no pequeno e aconchegante aposento nos fundos do estabelecimento de shows, Kara ousou quebrar o silêncio que as acompanhava.

– Lena – a loira disse soando inesperadamente doce, até para ela – Você quer que eu te leve para casa?

– Não – foi só o que a Luthor mais nova respondeu. Um copo de água com açúcar jazia intocado na sua mão, enquanto ela mantinha o olhar no chão.

– Não? – a ideia de deixar Lena desacompanhada apavorava a cantora – Eu não posso deixar você voltar sozinha para casa depois do que aconteceu.

– Não – a morena repetiu e depois completou em um fio de voz – Eu não quero voltar para mansão.

Kara se calou por alguns segundos, ela não sabia o motivo pelo qual Lena não desejava retornar para própria casa, também não a forçaria a contar qual era. A loira tinha uma única certeza, ela não abandonaria a outra mulher durante o tempo em que esta precisasse da sua ajuda.

– Lena, você não quer voltar para mansão e eu não vou te obrigar, mas... – a voz dela falhou por um instante – Eu não consigo e nem quero te deixar sozinha essa noite. Por isso, por favor, fique no meu apartamento, ao menos por hoje.

– Está bem.

A cantora soltou um suspiro de alívio. Agora ela só precisava falar com J'onn, porque o homem caído no chão não podia botar os pés no Refúgio novamente, ele precisava ser denunciado para a polícia.

– Nós precisamos contar ao meu chefe o que aconteceu com você, para evitar que algo assim ocorra com outra moça – Kara disse meio hesitante, esperando uma recusa imediata da morena.

Ao contrário do que a outra presumia, Lena concordou com a cabeça e levantou-se da cadeira que estava sentada, a postura altiva estava de volta. As duas foram juntas até o escritório próximo ao camarim da loira, a porta estava entreaberta e J'onn parecia estar bastante concentrado nos papéis a sua frente. Kara bateu na madeira para chamar sua atenção, quando ele levantou a cabeça se mostrou surpreso.

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora