Lilás

1.4K 176 60
                                    

Kara tocou a campainha do pequeno prédio situado no bairro de East Village pelo menos duas vezes antes de escutar o barulho do trinco sendo virado para destravar a porta. A loira, acompanhada das quatro mulheres que participaram da fuga naquela noite, tinha acabado de deixar o carro depois de quase duas horas de viagem até o local. Suas pernas estavam dormentes e a jovem estava com bastante sono, ela podia afirmar que as outras estavam em um estado semelhante.

A repórter suspirou aliviada quando o rosto conhecido abriu a porta com um sorriso amigável. Kara sabia que ele morava no primeiro andar, mas ainda temeu que algum sujeito mal-encarado as expulsassem, era madrugada afinal.

– Senhoritas, por favor, entrem – Alan Scott, vestido em um pijama de flanela azul, disse enquanto abria espaço para que elas passassem.

Ele não precisou falar duas vezes, quase no mesmo instante as mulheres se apressaram para dentro do edifício. Alan as guiou até seu apartamento, que era o primeiro do corredor e as fez se aconchegarem no sofá e na poltrona da sua sala de estar. Em seguida, o rapaz saiu de vista e sumiu por alguns instantes, retornando com uma bandeja que equilibrava cinco xícaras idênticas e um pote com biscoitos amanteigados.

Kara sorriu em agradecimento e se desvencilhou de Lena para pegar uma das xícaras, ela tomou um gole de seu conteúdo e se sentiu imediatamente mais calma ao provar o gosto do chá de camomila. A loira quebrou o silêncio segundos depois.

– Alan, muito obrigada por nos receber, ainda mais tão tarde da noite – ela disse, se levantando para encará-lo nos olhos – Eu sei que nós não nos conhecemos há bastante tempo, mas você foi muito mais gentil do que a maioria das pessoas que me conhecem há anos seria. Eu não consigo pensar em como te agradecer o suficiente e nem sei se poderia.

Alan sorriu, fazendo um gesto com as mãos que dizia "não foi nada".

– Você não precisa se preocupar em agradecer – ele respondeu sinceramente – Na verdade, se te fizer se sentir melhor, você pode pensar nisso como um agradecimento meu por você ter tido a vontade de ouvir o meu lado na história naquele dia. O jeito que você escreveu a matéria foi diferente dos outros jornais e revistas, me fez ter esperança de que algum dia a violência contra pessoas como nós não vai ser visto como algo comum ou sem importância. Isso já é mais satisfatório do que qualquer agrado que você possa pensar em me dar.

Kara levou as mãos aos cantos dos olhos marejados para impedir que as lágrimas que estavam se formando caíssem. A jovem entendia, mais do que a maioria das pessoas, o poder que a escrita podia ter sobre alguém, mas saber que ela havia causado um impacto positivo por conta de algo que escreveu era uma sensação completamente nova e estimulante, era tudo que ela esperava quando decidiu se tornar jornalista.

– Eu... hum... – ela pigarreou duas vezes antes de voltar a falar com a voz ainda embargada – Me sinto sinceramente lisonjeada. Obrigada, Alan, por tudo. Você é uma das melhores pessoas que eu já conheci.

A loira fez com que o rapaz largasse a bandeja par que ela pudesse abraçá-lo. Eles ficaram assim por alguns segundos e depois se separaram para que Alan pegasse novamente o objeto de metal e servisse o chá para as outras moças que observavam a interação em silêncio.

A quietude se manteve até todas as xícaras se esvaziarem e restarem apenas migalhas no pote de biscoitos, o que deu a deixa para que anfitrião falasse novamente.

– Eu acredito que vocês devem estar cansadas, então eu vou listar as opções de aposentos para vocês. Primeiro, o meu quarto, tem uma cama de casal lá. Segundo, tem o quarto dos irmãos que dividem o apartamento comigo, existem duas camas lá dentro, provavelmente uma de vocês vai ter que dividir. Não se preocupem, eles ficarão fora essa noite. E, por último, o sofá da sala também estará disponível caso a divisão seja desconfortável de alguma forma.

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora