Branco

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Lena Luthor esfregou os olhos antes de abri-los relutantemente, o momento em que ela acordava era um dos piores do dia, porque era quando a morena percebia que ainda estava presa em um pequeno quarto no Hospital Psiquiátrico de Gotham. Não foi difícil para a mulher descobrir onde estava já que, bem, os médicos e enfermeiros tinham o nome do lugar bordado nos impecáveis jalecos, mas quando ela soube, soltou uma risada, Lex poderia ter tido um pouco mais de criatividade para escolher um lugar para interná-la.

Ah sim, a jovem sabia que tinha sido o irmão quem a pôs lá, ela soube no momento em que foi jogada dentro daquela van. Foi ali que Lena percebeu que conversa que teve com Lex no dia antes de ser internada foi na verdade um meio para que ele pudesse aliviar a própria consciência ou se divertir com a sensação de saber que tinha o controle sobre o destino da dela.

No entanto, a Luthor mais nova podia dar um pouco de crédito para inteligência do irmão, pois Nova Jérsei fica muito longe da Califórnia, do lado aposto do país pra ser mais exata e, ainda que naquela área ficasse localizado o sanatório mais famoso dos Estados Unidos, Lena tinha certeza que ninguém ia encontrá-la. Primeiro porque ela tinha convicção de que não iriam procurar por ela em hospícios, tendo em vista que Lex sem dúvidas criou uma história para encobrir o seu sumiço. Segundo porque a mulher podia contar nos dedos de uma mão quantas pessoas se interessariam em averiguar além do conto inventado por seu irmão, Lionel, talvez, Sam e Kara. A bilionária, todavia, não queria alimentar a fantasia de um dia ser resgatada dali, a decepção é muito pior quando as expectativas são altas.

A morena enterrou a cabeça no travesseiro, juntando forças para levantar da cama. Uma das únicas coisas pelas quais ela podia agradecer naquele lugar era pelo fato de estar em um quarto sozinha. No começo do tratamento para a "doença" dela, as pacientes ficavam em quartos separados. Às vezes ela se sentia solitária, mas à noite quando ela acordava suando e gritando por conta de pesadelos, ela era grata por não ter mais ninguém ali para vê-la.

Três batidas na porta, fizeram com que Lena se levantasse em um pulo, os enfermeiros eram muito rígidos com os horários e a mulher não queria receber de novo a punição por se atrasar. Ela calçou os chinelos e deixou o quarto escoltada por uma enfermeira. A mulher a levou até o refeitório onde o café-da-manhã estava sendo servido, a morena pegou uma tigela de mingau e sentou-se em uma mesa vazia no canto. Só havia uma pessoa com quem Lena conversava diariamente e ela não estava no ambiente, então a Luthor mais nova resignou-se em comer em silêncio e observar o que acontecia ao seu redor.

Lena suspirou exasperada. O que mais a incomodava ali era a monocromia, a predominância da cor branca, a morena não conseguia entender como um tom sempre associado com algo pacífico podia fazer ela se sentir tão sufocada, tão pequena, tudo menos em paz. A cor estava nos jalecos do funcionários, nas paredes, no lençóis e até no maldito mingau insosso que ela comia. A morena sentia falta das cores vibrantes do dia em Nacional City, da beleza elegante da noite e principalmente, ela sentia falta do azul, não do céu ou do mar, mas sim de tom muito mais único: o dos olhos de Kara. Pensar naqueles olhos lhe provocava sensações conflitantes porque a saudade que a jovem sentia era dolorida demais e parecia corroer o coração dela de forma incessante, mas ao mesmo tempo as lembranças da repórter eram uma das únicas coisas que a mantinham sã naquele lugar, o ímpeto de voltar para Kara a tornava mais forte.

Outra coisa que a fortalecia era a raiva, um sentimento que por si só não é algo bom, ele cega as pessoas e as torna imprudentes, entretanto, às vezes, a ira é base para o surgimento da determinação. Esse era o caso de Lena, ela queria fazer com que o irmão se arrependesse de ter feito o que fez. A morena não desistiria de escapar daquele sanatório enquanto estivesse sendo nutrida por alguma dessas duas coisas.

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora