Prata

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Não sei se vocês pensaram que eu não ia voltar, mas voltei no mês do orgulho (óbvio). Demorei por causa da faculdade e nas férias trabalhei como voluntária, mas enfim, consegui terminar essa semana. A música desse capítulo grandão é I've Been Waiting For You do ABBA (sou viciada). Espero que gostem do final da história. Boa leitura!

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17 de maio de 2004

Kara estava certa de que sua manhã dia seria como qualquer outra. Ela acordaria, escovaria os dentes, iria até o jardim, onde encontraria Lena tomando um café ou um chá e ambas passariam bastante tempo conversando, talvez sobre a viagem que planejavam fazer em breve, elas tinham muito mais tempo livre desde que se aposentaram. Ao invés disso, ao descer a escada, ela se deparou com a outra mulher assistindo o noticiário na televisão. A reportagem em questão anunciava que o estado de Massachusetts havia legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Kara estava à beira de duvidar de seus olhos e ouvidos.

No dia em que algo similar aconteceu na Holanda três anos antes, Kara ansiava para que seu país trilhasse o mesmo caminho. Com o passar do tempo, a esperança diminuiu, entretanto, agora ela estava sendo presenteada com essa notícia extraordinária. O rosto de Lena, enquanto observava a televisão, demonstrava emoções que Kara sabiam ser iguais a suas próprias.

As duas mulheres passaram boa parte do tempo em que estiveram juntas ansiando pelo dia em que poderiam ter seu relacionamento reconhecido tanto pelas outras pessoas quanto pela lei e, a partir de hoje, isso poderia deixar de ser apenas um desejo e se tornar a realidade. Esse pensamento não abandonou Kara mesmo horas depois, especialmente após ser noticiado o casamento entre Marcia Kadish e Tanya McCloskey, o primeiro de todos.

No dia seguinte, a possibilidade ainda persistia na mente da mulher e, por isso, Kara acordou primeiro, dirigiu até o centro da cidade e comprou um anel de noivado. Ela estava planejando pedir a mão da companheira em casamento depois do jantar, que incluía a comida e o vinho tinto favoritos de Lena.

No decorrer dos anos, o amor entre as duas cresceu e mudou, o temor de algum dia terem que ceder à pressão da sociedade e se separarem foi substituído por confiança e companheirismo. Atualmente, não havia quase nada que Kara tivesse mais certeza do que seu relacionamento. Todavia, isso não impedia que a ideia de fazer o pedido a deixasse nervosa, por mais que o casal estivesse junto por mais de três décadas, para Kara ainda parecia um tanto surreal ter o privilégio de passar o resto da vida com Lena.

A mais velha não deveria ter se preocupado, Lena não demorou mais que dois segundos para responder com um sonoro "sim". O abraço que Kara recebeu tinha força o suficiente para quebrar algumas costelas.

– Eu não posso acreditar que você fez o pedido antes que eu tivesse pudesse fazer o mesmo – Lena tirou do bolso uma caixinha de veludo preta contendo o anel que ela havia comprado durante a tarde.

– Era minha vez de fazer o pedido – Kara respondeu – Você já teve sua oportunidade.

O par se casou em um cartório em Massachusetts alguns dias depois, vários papéis foram assinados e algumas fotos tiradas para guardar de recordação. A ocasião, por si só, foi bastante intimista, ambas queriam que o momento fosse algo apenas para as duas. No entanto, isso não significava que não haveria uma festa extravagante como as mulheres também desejavam e mereciam. No mês seguinte, o grande jardim da casa em que viviam estaria repleto não somente de flores, mas das pessoas que elas amavam e apoiavam seu relacionamento.

Contudo, essa não seria a primeira vez.


Primavera de 1979

When Their Eyes Met - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora