Prólogo

3.1K 143 139
                                    

PS: A imagem do capítulo é a antiga capa de Me Encontre No Passado.

Abro caminho por entre a névoa de inconsciência, forçando meu cérebro a despertar o resto do meu corpo. Algo pesado e macio me cobre, mantendo o frio do lado de fora. Estou deitada em uma superfície macia e acolchoada, de bruços. Colchão e cobertor, duas constatações obvias.

Permaneço deitada sem me mover por alguns instantes, em busca de discernimento. Mantenho meus olhos fechados e aguço minha audição, tentando captar algo. Nada, nenhum ruído. Mas, consigo distinguir os cheiros que me rodeiam. Morango, provavelmente do meu shampoo, e produtos de limpeza, com certeza vindos do coberto pesado que me aquece e dos lençóis da cama.

Sou tomada por uma profunda confusão ao vasculhar minha mente em busca dos últimos acontecimentos antes de mergulhar de cabeça no mundo da inconsciência. Demoro juntar todas as peças, mas quando o faço, um suspiro audível me escapa.

"- Apenas uma hora... – Seus olhos tricolor se fixam em mim, parecendo enxergar minha alma. – É tudo o que eu te dou, miss Granger, uma hora. – Sinto o familiar arrepio de medo atravessar minha coluna quando um sorriso estranho brota em seus lábios finos.

- É mais do que o suficiente. – Garanto, engolindo em seco.

'Será? Em uma hora conseguirei descobrir se venceremos Voldemort?' Questiono-me, tentando manter meu rosto neutro. 'Se realmente funcionar...'

Sua presença é sufocante, intimida o inferno fora de mim, não entendo o porquê disso. É como se existisse mais do que os olhos podem ver quando estou com ele, o que é estranho. Não sei se é um efeito de sua heterocromia. Seus olhos são lindos, um azul e o outro castanho com azul, mas nunca passam segurança.

- O que você encontrará lá pode não te agradar. – Avisa, astuto.

Troco o peso dos pés.

- Não importa, eu preciso saber. É questão de vida ou morte.

Ele assente, deixando seu sorriso desaparecer do rosto.

- Você vai muito além de um rosto bonito, miss Granger. – Fala em tom elogioso, me deixando desconfortável. – Mas, deixe-me lhe contar um segredinho.

Fico em silêncio, tentando não revirar meus olhos pela impaciência que me atinge.

- Sua vida pertence ao passado. – Declara."

Abandono minha recordação do fatídico dia, não vendo vantagem em remoer o passado, ou presente, dependendo do ponto de vista. Começo minha autoanálise, surpresa pelo fato de não estar sentindo nenhuma dor excruciante. Lembro vagamente deles me acertando com alguns feitiços realmente dolorosos, não me mostrando gentileza alguma entre o percurso de minha fuga e captura.

Você é estúpida por esperar gentileza deles, meu subconsciente murmura para mim.

Há sim uma espécie de dor pulsante em meu pulso esquerdo, assim como um latejar em minhas têmporas e um incomodo em meu ombro esquerdo, provavelmente de minha tentativa patética de tentar me proteger ao ser lançada contra a parede. Mas, a verdade é que eu esperava mais. Muito mais dor. Suas ordens foram claras: capturar viva ou morta.

Deus, não acredito no que fiz...

- Eu sei que você acordou. – Sua voz atravessa minhas terminações nervosas como um relâmpago.

Estremeço de imediato.

Droga.

Abro meus olhos, lutando contra a claridade incomoda das tochas nas paredes. Pisco uma, duas, três vezes para me acostumar, vendo seus sapatos e calça negra de imediato. Com dificuldade, e muito lentamente, viro-me de lado, sentando-me. A dor me atravessa como picadas de formigas, por isso, acaricio meu ombro com a mão direita, enquanto repouso minha mão esquerda em cima das cobertas.

Me Encontre No PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora