Morte Por Mil Cortes

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Com o coração acelerado, dou um passo para trás, me surpreendendo pelo mesmo não me impedir. Eu quero que ele me pare por mais doentio que isso seja. Quero que me impeça de me afastar, me peça para ficar. E mesmo sem dizer, algo na crueza de sua pergunta me deixa sem conseguir respirar. É uma questão complexa, com viés que consigo captar nas entrelinhas. E machuca. É como se eu estivesse sendo dilacerada em mil pedaços.

Você escolhe à mim, ou ao seu tempo de criação?

Lágrimas se formam em meus olhos, embaçando minha visão. Tento mantê-las retidas, assustada com seu significado. É até irônico pensar que o futuro bruxo mais temido do mundo precisa que alguém, principalmente alguém como eu, o escolha. E o mais irônico e doloroso é que quero dizer sim, mesmo sabendo que não posso.

- Tom, por favor... – Não sei pelo que estou implorando. Minha mente está confusa, em conflito com meu coração. Meu futuro passa diante de meus olhos. Cenas felizes, tristes e borradas.  

Tudo o que conheço... Harry, Gina, Luna, Fred e George. Prendo a respiração. Meus pais adotivos, o Sr. e a Sra. Weasley... Até mesmo o estúpido do Ronald que seria um marido de merda... São muitas perdas para considerar por alguém que nem ao menos pode mudar seu preconceito. Seu ódio.

Somos supostos namorados, supostas almas gêmeas. No entanto, ele ainda é errado, e está longe de querer ser salvo. É um criminoso que tira mais do que dá, um assassino preconceituoso. Um monstro sem limites.

Engulo em seco, respirando fundo.

Mesmo sabendo o que sei sobre ele, e pior, sobre quem ele se tornará, eu não consigo ser lógica quando meu estúpido coração parece está tão confuso a seu respeito. Não consigo fugir dele o mais rápido que a situação demanda. Estou presa nessa roda gigante que é nosso relacionamento. Para o bem, ou para o mal, nossos destinos estão interligados. Seja no passado, seja no futuro.

Por que estou parada à sua frente sentindo como se parte de mim estivesse sendo, mais uma vez, quebrada em mil pedaços?

- Por favor... – Minha voz falha, embargada pelo choro.

Você deveria ser o monstro dos meus pesadelos, quero gritar. Por favor, não me force a escolher entre o certo e o errado. Entre o agora e o futuro.

Engulo minhas lágrimas, meu desespero.

Posso fingir que o que temos aqui não afetará meu futuro, não mudará nada. Posso fingir que somos apenas duas pessoas quebradas que, por acaso, foram colocadas uma na vida da outra. Posso fingir tantas coisas... Mas, não posso escolher... Simplesmente não consigo! Minha mente rodopia, enlouquecida com seu ultimato.

- É uma pergunta simples. – Diz, não se alterando. – Ou eu, ou eles. – A frieza em suas palavras me dói. – Você nasceu aqui, está destinada à mim, o que mais te impede de ficar? Pessoas podem ser substituídas.

A serenidade com a qual ele se mantém me faz perceber que era por isso o seu silêncio desde que saímos do St. Mungus. Essa questão já vinha sendo destrinchada por sua mente. Tom quer uma resposta, uma escolha.

- Não, não podem. – Balanço a cabeça em negativa me sentindo enjoada, fisicamente exausta. – Você sabe o que está em jogo para mim. – Digo, forçando as palavras a saírem. – Não posso... não posso... ficar.

Não sei em que momento, ou como me deixei apaixonar por Tom, mas a verdade é que está impossível esconder isso até para mim mesma. Em algum momento, as linhas entre fingimento e realidade se turvaram e eu me lancei às cegas no abismo que é este amor.  

Me Encontre No PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora