Me Encontre No Passado

Eu Vejo Sua Escuridão

Não consigo dormir, não depois do que aconteceu. Existe uma angustia em meu peito que não cessa desde que me deitei ontem, após chorar silenciosamente no banheiro, dificultando o processamento dos últimos acontecimentos.

"- Para estar andando pelos corredores a essa hora e vestida assim, no mínimo você deve ser sonâmbula, Granger. – Diz, apontando com o queixo para minhas vestes. – Ou você é louca? Por que suas amigas te deixaram sair assim?"

Encolho-me em uma bola, minha garganta se comprimindo pelo medo.

O que existe de errado comigo?

Consigo me lembrar do sangue, do desespero e da sensação de estar caindo, mas nada é coerente em meu cérebro. Não sei como sai do quarto, ou se o que realmente eu tive foi uma memória obtida do meu futuro ou uma alucinação projetada por meus medos. Minha única certeza é que não sou sonâmbula, e que aquilo não foi normal.

Devo procurar Dumbledore?

Fecho meus olhos com força, tentando suprimir a nova leva de lágrimas que ameaçam cair. O embrulho em meu estomago me faz revirar na cama enquanto aperto em meu peito comprime meu coração.

Quando o dia raia, estou como um zumbi me deitada em minha cama, revivendo todos os detalhes do que me aconteceu. Uma verdadeira bagunça emocional. As meninas se assustam com minha apatia. Com medo de tê-las traumatizado com minha saída ontem, procuro sondar se elas me viram deixar o quarto.

- Acabei perdendo o sono e indo para a sala comunal de noite, espero não ter acordado vocês. – Minto, tentando soar o mais despreocupada que consigo.

- Dormi como pedra. – Kate fala, ajeitando sua cama.

- Eu também, estava muito cansada ontem. Não percebi você saindo, Hermione. – Augustine inteira dobrando seu cobertor.

Aliviada, percebo que elas dormiram a noite toda e não viram ou ouviram nada.

- Você está bem? Seu olhos...

Sorrio sem graça.

- É alergia. – Explico para Augustine, vendo sua preocupação se dissipar um pouco.

Kate me oferece uma poção que tem para tal enfermidade, mas recuso dizendo já estar melhor. Ela insiste, então, aceito de bom grado, me sentindo um pouco desleal por isso. São tantas mentiras que conto, que sei estar pisando em ovos o tempo todo.

- Obrigada. – Murmuro.

Elas sorriem para mim.

Não vou com as garotas tomar o desjejum, preferindo me resguardar em nosso quarto. Quero evitar meu próximo encontro com Tom o máximo possível, me sentindo envergonhada por meu comportamento descontrolado de ontem. Assim que elas saem, rumo até o banheiro para tomar banho.

"- Eu prometo devolver amanhã. – Digo, erguendo meu braço e apontando para ele para me referir a sua capa.

Ele acena, me encarando.

- Talvez eu não seja um completo desgraçado maldito, não é? – Um sorriso de canto aparece em seus lábios. – Boa noite, miss Granger.

Ele vai embora antes que eu possa retrucar, me deixando estática no lugar."

***

A vida é tão imprevisível quanto o tempo.

O sol nasce e se põe, mas entre o intervalo de um extremo e outro, existem chuvas que podem ser serenos refrescantes ou tempestades avassaladoras. Minha vida é como um desses intervalos, só que sem a calmaria do pôr do sol. Atualmente, tudo é chuva, variando apenas de intensidade.