trinta e nove

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« Índio »

Não demorou nem um minuto e Chris, Knust e César entram no escritório, todos com expressões confusas no rosto.

— O que deu na Alana? - Chris pergunta se sentando - Quase derrubou nós três da escada agora.
— Cêis nem tão ligados - Digo me levantando e indo preparar um copo com whisky.
— Ela descobriu que cê é hermafrodita? - Knust pergunta e só ele e Chris riem - Eita, pro Escobar não rir, a porra tá séria.
— Luan tá vivo - Digo e os três me olham confusos.
— E ela queria ele morto? - Chris pergunta rindo.
— Não, idiota - Volto para a minha poltrona - Ele tá vivo, tava bem esse tempo todo.
— Bem até demais - Escobar fala - Ele tava com o Peréz, dese que tudo aconteceu.
— Teu cú - Knust diz.
— O seu, filho da puta - Mostra o dedo pra ele.
— Cêis tão falando sério? - César se aproxima da minha mesa.
— Lógico que tô - Digo num tom rude - Desculpa, eu tô nervoso, tentando entender a porra toda.
— Tudo bem - Me encara sério - Mas se ele tava bem esse tempo todo, porque não falou contigo? E porque não falou com a Alana?
— Eu não faço idéia, mas ele tava bem e muito mais perto do que a gente imaginava - Digo antes de dar um gole e beber todo o whisky do copo.
— Coitada da Alana, mano - Chris fala sincero - Preocupada esse tempo todo e o filho da puta tava bem.
— O que você vai fazer com ele? - Knust pergunta e todos me olham.
— Nada.
— Como nada, Índio? O cara tava te evitando, sumiu com um carro cheio de mercadoria e o caralho a quatro - Knust questiona irritado.
— Eu não posso fazer nada porque ele simplesmente quis abandonar o barco - Digo - Além do mais, o carro era dos Uribes, era responsabilidade deles, então até que eu saiba que eles estão mortos, não posso culpar o Luan por isso. Eu tenho princípios.
— Claro que tem - Knust diz irônico virando as costas.
— Onde você vai?
— Falar com a Alana - Diz indo em direção a porta, mas então para e me olha - Posso? Ou seus princípios não deixam?
— Porque é que você tá falando comigo desse jeito? - Levanto irritado - Você quer que eu faça o que? Mate o cara? Sem um motivo válido, é eu matar ele e alguém vir matar um dos meus, que no caso, são vocês.
— Acho melhor eu falar com a Alana - César diz tentando cortar o clima - Vai tomar uma água, Knust. Depois cê vai lá.
— Também acho melhor - Digo - Você consegue lidar melhor com os sentimentos das mulheres.
— É porque ele é uma - Escobar diz mas só ele ri - Foi mal.
— Knust, vai tomar uma água e se acalmar, depois você e o Chris vão conferir as coisas pra viagem, vamos deixar o carro naquele mesmo lugar de sempre, então vão até lá verificar a área - Digo e os dois fazem que sim com a cabeça - César, você pode falar com ela?
— Sim, pode deixar. Licença.

Esperei até que eles saíssem e então fiz um gesto para que o Escobar fechasse a porta, então se aproximou da minha mesa.

— Vou deixar o dinheiro que você precisa repassar pro Luan, é coisa pouca, mas não quero dever nada a nenhum filho da puta - Digo pegando o caderno onde eu fazia anotações - Você vai combinar com ele de ir até aquela churrascaria perto do aeroporto, na verdade, no estacionamento dela.
— Certo.
— Vai conferir suas coisas, volta aqui em dez minutos.
— Certo - Se vira pra sair, mas logo me olha.
— Fala.
— Eu posso dar um sustinho nele? Só de brincadeira.
— Se isso for te divertir ... Á vontade.
— Ótimo - Sorri.

•••

« Alana »

Estava me encarando no espelho do banheiro. Eu já tinha passado uma água no rosto, na intenção de lavar o que quer que fosse que estava me agonizando, mas nada acontecia.
Eu tinha entendido o que o Índio estava falando, Luan estava mesmo com o Peréz e, provavelmente trabalhando pra ele.
Ele podia ter me avisado que estava bem ou pelo menos ter mandado um recado pro Índio. Eu conhecia bem o Peréz, ele ia adorar esfregar na cara do Índio que tinha um dos dele, ao seu lado.
Luan não falou comigo porque não quis e ponto. Eu deveria estar odiando ele com todas as minhas forças, na verdade estava muito irritada, mas o desapontamento era maior. Não era tristeza, não mesmo. Mas era pior. Era decepção.
Ouvi alguém bater na porta do quarto e quando saí do banheiro na intenção de pedir pra irem embora, o César colocou a cabeça pra dentro do quarto.

— Atrapalho?
— Sim ... Quer dizer, não. Eu só não quero conversar agora, César.
— Eu sei. Posso entrar? - Pergunta e eu ri levemente, fazendo que sim.

Sentei no banco de janela e encarei o jardim lá embaixo. César se aproximou e sentou ali comigo, olhando pro mesmo lugar.

— Eu soube o que aconteceu, já entendi que você não quer conversar agora, mas eu vou embora logo e queria te dizer que pode me mandar uma mensagem ou ligar, quando precisar conversar - Diz.
— Obrigada - Sorrio pra ele, mas logo suspiro - Eu só não entendo... Porque? Ele não me amava mais e achou que assim seria melhor?
— Eu não acho que seja isso, Luan era um tanto quanto ... Bruto - Rimos - Mas eu via como ele te olhava, era sincero. Tinha mesmo amor.
— Então porque ele fez isso?
— Eu não faço idéia, por isso acho que você não deve tomar atitudes precipitadas. Eu entendo a sua raiva e na verdade, não consegui pensar em nenhum motivo bom o suficiente para o que ele fez, mas a gente não sabe o que se passou do lado de lá, então, até que saibamos o que aconteceu, não faça nada por impulso.
— Isso incluí jogar a aliança na privada?

Mostro a mão direita sem o anel e ele ri, balançando a cabeça em sinal de negação. Logo, outra batida na porta e antes que pudéssemos responder, Cleytin e Knust aparecem ali.

— Ela tá bem, tá até rindo - Knust diz.
Os palhaços do circo riem o tempo todo, mas nem sempre estão felizes - Cleytin fala e arranca uma boa risada minha e do César.
— E aí? - Knust me olha enquanto se aproximam.
— Ah, sei lá - Dou de ombros.
— Não precisa fingir que tá tudo bem, a gente sabe que não tá - Cleytin fala parando na minha frente e cruza os braços.
— Não tô fingindo, eu só não entendi o que aconteceu. Tô muito chateada, mas tô confusa - Explico - E eu queria muito dizer que queria ele morto, mas o César me disse algo que me fez pensar.
César tem bons conselhos - Knust diz e César sorri.
— É, ele me disse pra não agir no impulso, pra esperar até saber o que realmente aconteceu, e eu ...
O César nem sempre tem bons conselhos - Knust diz se corrigindo e me faz rir mais - Me desculpa, Alana, mas ele foi um filho da puta com o Índio e muito mais contigo.
— Sim, ele foi - Suspiro - Mas porquê? Entende? Eu quero saber o porquê.
— Luan sempre foi mais ... Como eu posso dizer? - Cleytin pensa - Vou usar cuzão porque não sei o nome certo - Rimos - Eu acho que ele simplesmente não quis falar com ninguém e pronto.
— Mas nem comigo? Porra - Digo.
— E por isso ele foi um filho da puta - Knust diz - Ele podia estar com medo do Índio ou algo assim, mas não falar com você? Isso não tem desculpa.
— Ainda mais porque ele viu o que aconteceu contigo - Cleytin continua - Ele nem se preocupou em saber se cê tava bem, se tava fora da cadeia ou ...
— Tá bom, tá bom. Vocês lidam melhor com sentimentos quando tão cantando - César diz e nós rimos - Eu tenho certeza que o Índio vai descobrir exatamente o que aconteceu e aí vamos entender melhor.
— Sinceramente? - Me levanto - Eu nem sei se quero saber.
— Não quer saber o que?

Índio pergunta entrando no quarto e coloco a mão no peito, por conta do susto, fazendo ele rir e balançar a cabeça em sinal de negação.

— Eu tenho certeza que ela me acha feio - Diz e os três riem.
— E quem não acha? - Knust pergunta.
— Sua mãe - Índio pisca pra ele e eu dou risada - Você me parece bem.
— Eu tô bem.
— Não minta pra mim - Me encara.
— Não tô bem, mas não tô mal. Ou tô. Sei lá - Digo encostando na parede - Porque ele não deu notícias?
— Eu não sei, falei diretamente com o Peréz, ele não estava lá. Escobar vai se encontrar com ele hoje, pra fazer um último pagamento. Talvez ele diga.
— Eu posso ir com o Escobar?
— Não acho que seja uma boa, mas fica a seu critério - Diz.
— Porque não é uma boa?
Não quero perder você pro Peréz - Diz e me parece sincero - Quero dizer, se o Luan está com ele, pode querer te levar pro lado de lá também.
— Eu jamais trabalharia pro Peréz, prefiro passar fome.
— Não vai passar, se continuar comigo - Sorri e eu faço o mesmo - Amigos, está na hora de ir.

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora