vinte e nove

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« Alana »

— Fala sério, o Escobar foi um gênio - Knust balança os pés mais uma vez sob a cama para que eu desse atenção as meias.
— É, ele foi - Ri - Mas eu espero que não tenha uma dessas aqui pra mim.
— Pois eu espero que tenha e seja uma bem mais chamativa que essa - Dá de ombros.

Knust estava sentado na cama enquanto eu tirava mais algumas peças de roupa das quais eles compraram pra mim. Em uma delas estava um vestido vermelho de cetim e quando eu o vi, tive certeza de que eles tinham comprado pensando no Natal.

— E não é que o Índio e o César sabem escolher roupa? - Knust diz quando encosto o vestido sob meu corpo pra ver o cumprimento.
— Com certeza sabem - Sorrio.
— Mas e aí, como cê tá?
— Tô bem - Coloco o vestido sob a cama e sinto os olhos dele em mim - Que foi?
— Você não precisa fingir, pode falar como se sente comigo.
— Você quer a verdade? - Pergunto e ele faz que sim com a cabeça - Eu vi o amor da minha vida sumir no mundo numa fuga da polícia, sem ter a escolha de me esperar, porque ele não podia. Ele não dá sinal de vida e eu nem sei se ele tá vivo.
— Alana - Sua voz soa tão baixa que quase não ouço - Eu sinto muito.
— Tudo bem Knust, não quero que vocês fiquem com pena de mim - Caminho em direção ao banheiro - Vocês não entenderiam.
— Claro que não, eu só tive que escolher entre a mina que eu amo e o meu sonho ... Lógico que não entenderia.

Paralisei. Eu não espera que ele se abrisse assim, tão de repente comigo, ainda mais sobre algo tão delicado e apesar de não ter nada a ver comigo, eu entendia o lado dele. Foi como o Luan, ou ele ficava comigo e iria preso ou ficaria livre e sem mim, mesmo que por pouco tempo. Ele só não sabia disso ainda.

— Knust - Olho pra ele - Eu ...
— Tá tudo bem - Força um sorriso - São escolhas.
— Mas porque? - Caminho de volta até a cama - Porque não o seu sonho e o amor?
— Digamos que ela não aceitava muito bem o meu outro emprego, ela tinha ... Bem ... Ah, é complicado.
— Ela tinha ciúme das suas fãs? - Pergunto e ele me olha espantado - O que? Você achou que eu não tinha acreditado quando o César disse que vocês eram MCs?
— Achei - Rimos - Mas era isso, tá ligada? Muito ciúme e eu tava começando, não tava acostumado com assédio e pá, pra mim eram só fãs, não via maldade e tal.
— E aí? - Sento na cama.
— Ai ela me pediu pra escolher, a música ou ela ... E aqui estou, no Uruguai para gravar um dos maiores projetos da minha carreira musical - Sorri fraco.
— Eu sinto muito. Desculpa se eu fui grossa e ...
— Tá tudo bem, sério - Coloca a mão sob a minha - Já faz um tempo e além do mais, é Natal. Vamo esquecer nossa vida amorosa complicada e se divertir um pouco.
— Não sei se consigo - Suspiro.
— Vai conseguir, vou te ajudar - Sorri - E se não der, a gente finge que tá bem e bebe muito. Fechado?
— Tá, pode ser.

Sorrimos um para o outro mais logo despertamos do transe e então ele saiu do quarto para que eu pudesse me arrumar.
Depois do banho, ajeitei meu cabelo e né vesti. Não passei nenhuma maquiagem e nem coloquei jóias porque não tinha nada ali. Eu só queria que o Luan voltasse logo para voltar pra nossa casa e ter as minhas coisas, a minha vida de volta.
Sai do quarto e caminhei pelo corredor e conforme me aproximava, podia ouvir vozes e risadas vindas lá de baixo e César foi o primeiro a notar minha presença, abrindo um sorriso acolhedor e fazendo com que todos me olhassem.
Desci degrau por degrau com cautela até chegar embaixo e então vi um rosto que não esperava ver ali e que na verdade me fez dar um dos sorrisos mais sinceros daquela noite.

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora