quatro

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« Índio »

Estava no escritório, revendo mais uma vez os passos do plano quando ouço batidas na porta, provavelmente Luan estava ali.

— Entra - Digo.
— Licença patrão - Coelho diz abrindo a porta - Luan chegou.
— Manda entrar e não quero interrupções.
— Certo - Assente - Knust e Cleytin acabaram de voltar, disseram que foi tudo certo lá.
— Ótimo, uma preocupação a menos.
— Não sei porquê, é sempre certo de que o cara do posto vai desligar as câmeras e fazer vista grossa.
— Não importa se a gente já fez isso uma vez ou dez mil vezes, a preocupação deve ser sempre a mesma.
— É, tá certo - Diz por fim - Vou mandar ele entrar, licença.

Ele saiu e eu me levantei e servi mais um copo de whisky para que Luan me acompanhasse e alguns instantes depois, ele entra na sala um tanto quanto desconfiado.

— Eai Luanzito! - Digo me sentando - Fica a vontade, cara.
— Valeu patrão - Senta-se de frente pra mim - Aconteceu alguma coisa? Porque mandou me chamar?
— Primeiramente, como sua namorada tá?
— Ãn, ela tá bem - Diz encolhendo os ombros - Ainda tá um pouco sonolenta, mas tá bem.
— Se ela precisar de alguma coisa, não hesitem em pedir, certo? Ela teve um atitude um tanto quanto... Louvável - Ergo o copo indicando que deveríamos beber e assim fizemos.
— Te agradeço patrão.
— Mas sabe uma coisa que me intrigou? - Pergunto e ele nega com a cabeça - O fato de você ter visto o que aconteceu e não ter ido interferir na situação.
— Eu só...
— Luan, se você não se meteu na situação com a sua namorada envolvida, quem me garante que você não vai pular fora quando a situação apertar?
— Eu garanto cara, dou minha palavra. Palavra de homem, Índio.
— Não sei Luanzito, isso me preocupou.
— Mas não deveria, sou fiel a você até o fim, sabe disso!
— Tô contando com isso - Sorrio e ele faz o mesmo - Outra coisa, vocês estudaram o plano?
— Estamos estudando - Diz - Com cautela pra entender tudo.
— Ótimo, não podemos ter falhas.
— Lógico, a carga é valiosa, né?
— Todas as cargas são valiosas, não importa a quantidade - Digo simples e vejo seu maxilar travar - Tá tudo bem?
— Aham - Dá um gole no whisky.
— Que mal te pergunte, sobre o que você conversou com o Peréz ontem? - Pergunto e dessa vez ele parece se espantar - Coé Luan, eu não sou cego, vi vocês juntos.
— Não era nada, só fazia algum tempo que não nos víamos e tava trocando uma idéia de boa.
— E ele não te contou nada que pudesse nos interessar?
— Não.
Nada mesmo?
— Nada!
— Entendi, então provavelmente não há nada de interessante acontecendo por aí, né?
— Até onde eu sei, não.
— Então tudo bem - Ergo o copo em sua direção e brindamos.

Um tempo depois ele foi embora, disse que Alana tinha mandado mensagem e precisava dele. Eu estava mais aliviado por saber que ela estava bem e mais uma vez meus pensamentos voltaram pra noite anterior. Desde que acordei, isso voltava na minha mente, a forma como ela lidou com a situação e principalmente como se preocupou em não chamar a polícia, de alguma forma, me passou certa confiança nela e acho que poderia me assegurar de que, enquanto ela e Luan estivessem juntos, ele não me causaria problemas.

•••

— Um casal bonito, a garota que amava o perigo - Chris aparece na varanda cantando e logo Knust e César se juntam a nós também.
— Essa é a minha favorita - César diz se sentando.
— Imaginei que seria mesmo - Respondo antes de beber um gole do whisky - Gabiru falou alguma coisa sobre filmar pra vivência?
— Nós vamos pra Montevideo amanhã de manhã pra gravar o primeiro - Knust esclarece enquanto olha algo no celular.
Estoy no Uruguay con mis hermanos. Del Morro do Quadro al mundo? Yo no estaba bromeando - César cantarola agora - Ainda não acredito que me pararam no aeroporto e deixaram vocês passar.
— Como eu disse, eu tava muito suspeito pra tá errado - Chris fala, fazendo Knust e eu rir alto - Sério, os cara olha pra gente e não para porque nóis tem tanta cara de bandido que não tá com a porra de que a gente ia tá com alguma coisa errada, agora o César? Essa cara de falso beato deixa todo mundo com dúvida.
— É, nisso eu tenho que concordar - Knust diz - Mas e aí Xamã, trocou idéia com o Luan sobre a mina dele?
— Falei mano, ele disse que ela tá bem, graças a Deus - Ergo o copo e sorrio.
— Gostosinha ela - Chris diz - Luan é feio pra porra.
— Já viu algum pesadelo bonito? Eu nunca vi - Knust diz e nós rimos mais.
— Tenho que concordar, é bonita mesmo - Falo encarando o nada - Não deveria, mas fiquei me perguntando o que é que aconteceu pra ela se envolver nessa vida.
— Porquê o interesse repentino? - Chris pergunta e me tira dos meus pensamentos, então noto que os três estão me olhando.
— Não é só por ela. Os caras eu entendo, mas ela e as outras minas que se envolvem com essas coisas, por quê? - Apóio o copo na mesa - Vai dizer que vocês nunca se perguntaram isso? Ou em porque vocês se envolveram com essa vida? Antes era por dinheiro, mas e agora? Ainda é por isso?
— Sim - Knust diz.
— Óbvio - Chris reforça.
— E vocês não se arrependem? Não têm medo? - César é quem pergunta agora.
— Medo todo mundo tem, mas eu confio no mesmo Deus que você - Chris diz rindo.
— Eu confio em Deus, mas confio muito mais em vocês - Digo - Se um de vocês caírem, quem sente a dor sou eu.
— Profundo isso - Knust diz.
— Mas é a verdade - Digo por fim - O que temos pra hoje?
— Por que não uma festinha privê? - Chris sugere - Ainda não tive a chance de beijar uma Uruguaia.
— Então dá pra saber que elas não usam drogas o suficiente - Digo me levantando - Se precisarem de mim pra alguma coisa, peçam ao Pablo - Viro as costas e sigo pra dento da mansão, mas ouço a risada deles.

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora