sete

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« Xamã »

— Ô rapaziada - Malak entra no quarto - Nós... Puta que pariu, que carniça.
— É esse arrombado - Jogo um travesseiro no Knust.
— Pode enterrar, morreu por dentro já - César diz e nós rimos.
— Vão se foder, fala tu, Malak.
— Finalizamos mesmo a primeira faixa.
— Júpiter Dayane? - Chris pergunta.
— A própria - Senta no chão, ao lado do César.
— E já podemos ouvir? A gente tem que passar certinho, por causa dos vídeos - César fala.
— Amanhã cêis vão ouvir, mas posso falar? Tá do caralho.
— Lógico que tá - Digo - Não teve uma letra que não ficou boa, todas tão de foder.
— Eu nem consegui escolher a minha favorita nesse projeto - Knust fala.
— Eu tenho a minha - César diz - A poesia acústica.
— Aliás, vai ser poesia acústica o que? - Knust pergunta.
— Uruguay - Malak responde - Não vai entrar na mesma setlist das outras, essa é exclusivamente pra esse projeto e se Deus quiser e der certo ...
— Ele quer - César completa e nós rimos.
— Amém - Malak continua - Vão ter outros projetos, o Uruguay é só o primeiro.
— Tô dentro já - Chris diz.
— Vamos fazer com outros MCs, tá? Não pode ser sempre vocês.
— Lógico que pode - Diz - O povo ama a gente.
— Mas amam os outros também.
— O Xamã, compra logo essa porra desses projetos pra gente entrar em todos - Knust fala rindo.
— Não tenho dinheiro pra isso não - Jogo o corpo pra trás, encostando na cama - Quando eu for rico, quem sabe, né?
Se tu não é rico, eu não tenho nem onde cair morto - Malak diz e nós rimos mais.
— Eu .... Porra Knust, de novo, caralho? - Xingo.
— O cú dessa desgraça tá frouxo - Chris fala - Eu não vou dormir com ele não, César...
— Nem a pau - Diz rindo - A divisão de quartos já foi feita, cê que se vire aí.
— Porra Malak, manda o Paulo arrumar outro quarto pra mim, na moral.
Seu patrão rico é o outro, tá ligado, né? - Diz e nós rimos.
— O patrão rico dele não veio pra essa viagem - Digo - Me mandou no lugar.
— Péssima escolha a dele - César diz e eu o encaro - O que? Tu não é meu patrão, não te devo respeito.
— O que vocês fizeram com ele? - Malak pergunta - O Pastor já não é mais o mesmo.
— Achei que Deus ensinasse que devemos respeitar a todos igualmente - Digo irônico enquanto me sento novamente.
— Deus prega o respeito, mas não tem nada a ver com concordar sempre com outra pessoa, aceitar tudo que a pessoa faz ou a se submeter e participar de coisas erradas.
— Mas cê já falou uma parada de autoridade que eu lembro e eu ...
Você não é meu patrão, lembra? - Sorri e todos os outros riem alto.
— É, acho que deu sua hora, meu amigo - Chris diz.
— Depois dessa, eu vou mesmo - Me levanto - Boa noite pra vocês.
— Boa noite - Respondem.
— Amanhã, às nove lá embaixo - Malak diz enquanto caminho em direção a porta.
— Vai perder a hora não, viu? - Chris diz rindo.
— Não se preocupa - Giro a maçaneta - Vou dormir em um quarto com o ar puro e sem ninguém falando sozinho enquanto dorme, minha noite de sono vai ser boa.
— Porra Knust, esqueci que tu fala dormindo - Chris diz em tom nervoso, fazendo todo mundo rir.

Saí e fechei a porta, mas pude ouvir meu amigo reclamando sobre dividir o quarto com Knust e segui rindo pelo corredor até o o meu quarto.

« Alana »

Luan estacionou o carro não muito longe do bar e logo vejo a Tay me esperando junto do Lorenzo que estava sentado no meio fio enquanto bolava um baseado. Após nós cumprimentarmos, entramos e sentamos na mesma mesa de sempre, onde nos procuravam. Fizemos o pedido das bebidas e então engatamos uma conversa.

— O Javier fechou hoje por alma de que santo?
— O filho do seu Esteban casou - Tay responde e eu encaro-a chocada.
— Não...
— Sim - Lorenzo me olha e faz olhos de cachorrinho - O milionário...
— O Raúl alegrava as minhas vistas sempre que passava lá - Faço bico.
— Ai amiga, até dava motivação pra trabalhar sempre que ele ia lá, sabe? - Lorenzo continua.
— Me dá duas de coca - Tay estende o dinheiro e o Luan para de beber.
— Duas? - Pergunto surpresa - Tay, cê sabe que duas é muito pra você, não sabe? - Ela acena positivamente como se fosse muito óbvio - Então...
— Ai Alana, não questiona.
— Não questiono, só alerto Tayla, cê que sabe.
— Eu sei o que faço, amiga, prometo - Aceno positivamente e eles fazem a troca abertamente.

Sempre íamos naquele bar traficar. O dono é só mais um bem comprado pelo poder do Índio, então ele fecha os olhos pelos benefícios que isso lhe traz, bem como a polícia tinha coisas mais interessantes para fazer durante a noite do que vigiar bares.
Três moços sentaram na nossa mesa, um deles familiar de um jogador da seleção uruguaia, então gera bom lucro.

— Olha só quem vem aí.

Ouvindo o Luan falar, viro o rosto para a minha direita e vejo o Ismael se aproximar. Ele já sorria de canto, esse é dos que mais compra com a gente, pensando que não sabemos que ele vende também... Ninguém compraria tanto para consumo próprio em tão poucos dias, mas tem vezes que é bom pagar de idiota.
Tay e Lore avisam que vão se ausentar e seguem para o lugar do banheiro conforme Ismael chega na nossa mesa.

— Fala tu - Luan se levanta e apertam a mão um do outro.
— Boa noite, senhorita - Me cumprimenta ao apertar a minha mão - O que têm pra mim?
— Tudo o que você quiser, tô aqui pra vender, não olho a quem.
— Bom saber - Ele ri - Quanto de ecstasy?
— Quer mais que isso? - Mostra um saco com uma boa quantidade dela - A playboyzada toda procura MD, aproveita enquanto eles não chegaram ainda.
— LSD?
— Pra ti eu disponibilizo três cartelas.
— Tenho cara de quem curte tanto doce assim, Luanzito?
— Fala tu, Ismael, só tenho ao seu dispor - Volta a encostar na cadeira.
— O que a senhorita aconselharia? - Me encara e eu ri.
— Na honestidade mesmo? - Olho para dentro da bolsa e vejo o mais caro, puxando uma quantidade pequena de cocaína - Isso. Tô sem dormir tem mais de um dia, essa ainda é da Bolívia - Ele ri.

Viro e formo uma carreira em cima do celular dele, passando um pouco na minha própria boca em seguida para passar confiança.
Ele cheira e sorri pra nós, acenando positivamente.

— Essa da Bolívia... Vai ser sempre assim?
— Não - Luan fala, fazendo-o encará-lo - Em duas semanas vai passar a ser da Colômbia, muito melhor que essa.
— Ainda melhor? - Questiona surpreso e acenamos positivamente.
— Me dê o combinado até agora e vê o que tem de haxixe.
— Não trouxe haxixe, essa boate não é de quem consome haxixe, Ismael - Diz ao passar a droga para a bolsa dele - Amanhã passa lá em casa, fechou?
— Então não quero haxixe, quero maconha.
— Não tenho da minha, vai consumir a do Uruguai - Ele suspira - Sabe que essa vai bem rápido, eu consumo pra caralho também.
— Fechou então - Passa o dinheiro pra mão do Luan que, após contar, me entrega - Tá sabendo? - Pergunta antes de acender um cigarro e o encaramos à espera de uma resposta - Os cana tão reforçando a fronteira com o Paraguai.
— Só com o Paraguai? - Pergunto antes de dar um gole no whisky e ele encolhe os ombros.
— É mais que óbvio que também vão reforçar a do Brasil, tá foda comprar os cana com esse governo.
— Mas você acha ou tem certeza? - Luan pergunta tão naturalmente que parece neutro.
— Sobre o Paraguai tenho certeza, sobre o Brasil... Eu não faria carregamentos antes da virada do ano - Levanta as mãos e se encosta na cadeira.
— Devíamos falar pro Índio Luan, o nosso carregamento é em poucos dias - Falo baixo e ele acena positivamente, encarando o nada - Luan, tô falando sério, se der merda pra um, vai dar pra todos! A gente depende...
— A gente não tem certezas de nada - Me interrompe e encara.
— Avisar pra tomar cuidado não tem mal nenhum - Ele acena positivamente, levantando o copo para beber ao mesmo tempo que o Ismael.
— Logo se vê.

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora