dezoito

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Maratona: 3/7.

•••

Luan pegou nossas mochilas e seguiu pra fora de casa enquanto eu me certifiquei de conferir se estava tudo trancado.
Ao trancar a porta de entrada, respirei fundo e fiz uma rápida oração, pedindo pra Deus proteger não só a mim e o Luan, mas todos os outros e que desse tudo certo. Ia dar.

— Tá tudo bem? - Ele pergunta quando entro no carro.
— Sim - Coloco o cinto de segurança - Só tô com um pouco de sono ainda.
— Quando tudo isso acabar, vamos dormir uma semana seguida - Dá partida no carro para sair da garagem.
— Vamos mesmo. Eu achei um Hotel bem perto de Las Grutas, tem poucas vagas, mas a mulher me disse que consegue segurar um, se fizermos um depósito hoje a tarde.
— Então nós vamos fazer - Diz prestando atenção na rua.
— Você quer ir mesmo? Se não quiser ...
— Alana, amanhã fazemos três anos de namoro, o Natal e Ano Novo estão chegando - Me olha rapidamente - Eu vou pra onde você quiser, desde que a gente fique junto.
— Eu te amo - Faço carinho no rosto dele.
— Também te amo - Sorri.

•••

Passamos num posto de gasolina dentro da cidade para completar o tanque. Luan desceu para fazer o pagamento e eu fiquei dentro do carro esperando. Repassava os passos do plano na minha mente enquanto conferia o horário para ver se estávamos no tempo certo, até o celular do Luan começar a tocar. Olhei no visor e o contato com nome do Pablo apareceu.

— Alô?! - Atendo.
— Quem é? - Não era a voz do Escobar.
— Alana.
— Ah, é o Cleytu.
— Oi - Ri da forma que ele falou.
— Cadê o Luanzito?!
— Estamos abastecendo o carro, ele tá lá pagando.
— Ah, deixa eu falar pro'cê mesmo então, o Índio pediu pra avisar que vai deixar uma caixa com o Escobar, é pro Luan entregar nas mãos do Juan Mascarenhas.
— Então, eu não sei se vamos voltar pra Maldonado quando completar a missão.
— Tá, espera aí.

Ouvi ele falar alguma coisa com alguém, mas não consegui entender o que era. Juan Mascarenhas era um ex funcionário do Índio, que abandonou tudo e decidiu se dedicar a Deus e a sua família, mas mesmo assim, Índio sempre mandava algum presente ou até mesmo dinheiro para Juan. Luan me disse que era um dos melhores vendedores e Índio provavelmente era muito grato por tudo.

— Alana?
— Oi?! - Respondo tentando reconhecer a voz, não era mais Cleytin.
— É o Índio, deixa eu te falar - Parecia estar sério - Vocês vão pra onde?
— Rio Negro.
— Argentina?
— Sim, queremos passar o fim de ano em Las Grutas.
— Ah, entendi - Respira fundo.
— Precisa de alguma coisa?
— Eu esqueci de deixar esse presente do Juan e nenhum dos outros caras vai voltar pra Maldonado por agora.
— Ah ... Tá, pode deixar com o Escobar que nós entregamos.
— Mas ...
— Não se preocupa, é minha boa ação de Natal desse ano - Digo e ouço ele rir.
— Então fechou, valeu, Alana.
— Por nada.
— Está tudo certo? Tudo conforme combinamos?
— Sim, mas não vamos falar disso agora, certo?
— Certo - Ri - Boa viagem pra vocês.
— Pra vocês também, tchau, Chefinho.
— Tchau, Alana - Ri.

Encerrei a chamada e voltei minha atenção para Luan, que se aproximava do carro com uma sacola na mão.

— Quem era? - Pergunta ao entrar.
— Índio.
— E o que ele queria? - Me entrega a sacola.
— Pedir um favor - Olho o conteúdo e vejo um chocolate, balas e um energético.
— Que favor? - Da partida no carro.
— Para entregarmos um presente pro Juan Mascarenhas.
— E você disse que nós vamos pra Rio Negro?
— Disse, mas disse também que podíamos entregar.
— Alana, mano! - Diz num tom irritado - Porque? Você sabe que não precisamos passar por aqui pra ir, vai demorar mais.
— Eu sei, mas ...
— Você entende que daqui pra Rio Negro são quase vinte e três horas de viagem? Que temos que cruzar a fronteira de noite porque se pararem a gente, com aquele tanto de dinheiro ...
— Luan, eu sei, mas não se preocupa. Aproveitamos e deixamos parte do dinheiro em casa, simples, ué.
— Não mano - Continua irritado tentando focar na rua - Não tem nem lógica.
— Então você me deixa na rodoviária da primeira cidade na volta - Falo começando a me irritar também - Eu volto, faço o que preciso e te encontro em Rio Negro, saco!
— Não precisa ficar nervosa - Fala diminuindo o tom de voz.
— Agora não precisa, né? Cê quase me jogou do carro agora mano, por pouca coisa.
— Desculpa - Suspira - Tô nervoso.
— Eu também.

O silêncio se instalou. Eu raramente dizia que estava nervosa em alguma missão, mas aquela era a maior que íamos participar e eu sabia que falar que estava nervosa não ia adiantar de nada, ainda mais sabendo que Luan já ficava nervoso suficiente para todos os funcionários do Índio e muito mais.

— Vai dar tudo certo - Fala tentando me passar confiança e pra ele mesmo também.
— Eu sei que vai.
— Eu vou fazer de tudo pra dar certo, não só por mim, na verdade - Me olha rapidamente - Tô fazendo mais por você do que por mim.
— Luan ...
— Alana, eu quero te dar uma vida melhor. Sei que não sou o melhor namorado, nem de longe. Já fiz muita merda nessa vida, não sou hipócrita em dizer que me arrependi de todas, mas - Sorri de canto - Me arrependo de todas que envolviam você, todas que te fizeram mal.
— Eu ...
— O negócio é que eu não sou de falar muito dessas coisas, cê sabe, sou orgulhoso pra porra. Mas você é a maior testemunha de quanto eu melhorei desde que a gente veio pro Uruguai. Eu meti a cara a tapa, assumi todas as responsabilidades porque você sim é uma mina de fé, que merece todo o meu esforço e não se preocupa, vai dar tudo certo e logo você não vai precisar mais se arriscar, vai viver a vida boa que eu sempre quis te dar.
— Você não pode me dizer essas coisas assim - Tento segurar o choro - Vou perder o foco - Rimos.
— Eu sei que não vai. Se tem alguém que sabe esse plano de cabo a rabo, é você. Mais até que o Índio, se bobear.
— Eu te amo - Digo - E se eu estudei esse plano tão bem, é porque quero que dê certo. Quero que a gente saia dessa vida e você tenha o seu próprio Império, que é o seu sonho.
— Nós vamos ter, vai ser tudo nosso - Puxa minha mão e beija.

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora