dois

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« Índio »

Ouço alguém bater na porta do meu quarto enquanto termino de vestir a minha camisa.

— Pode entrar - Vejo Pablo entrar e sorrio.
Hermano, quem te ver acha que cê é empresário e não traficante - Caímos na risada e eu arrumo a gola da camisa, antes de me virar para ele.
E tem empresa maior que essa, cara? Olha os empregos que eu giro - Respondo ao apertar os botões das mangas e ele se joga na minha cama sorrindo levemente.
— Se a Lua visse você assim, cê já nem ia na boate, safado - Encolho os ombros dando uma leve risada antes de passar perfume e o Pablo começa a tossir - Se foder mano, elas não ligam pra perfume não, elas ligam pra isso - Ele ergue o braço me mostrando a sua pulseira de ouro.
— Elas ligam é pra isso, viado - Aperto o pau e caímos na risada - Mas no seu caso eu entendo que prefiram olhar pro ice.
— Tô vendo que tem muito moral, ô kid bengala - Joga um travesseiro na minha direção enquanto prendo o relógio no pulso - Eu tenho uma me esperando no quarto, e tu?
— Eu nasci pra não dar certo com ninguém, acha isso ruim? - Pergunto antes de prender o cordão no meu pescoço e ele acena positivamente - Tu volta da noite com uma, eu volto com as que eu quiser.
— Eu também - Ele responde e de novo caímos na risada - Ser fiel é uma perda de oportunidade cara, deixo isso pra quando for velho e doente.
— Tu não vai nem passar dos quarenta, muleque, que velho?
— Com velho eu queria falar da sua idade mano, não levanta a mão que Deus ainda se lembra que estava esquecendo de tu - Dou risada e pego o travesseiro que ele tinha jogado antes, fazendo o mesmo com ele.
— Não fala de Deus não cara, o filho dele ainda passa aqui e tu tá fodido.
—  Vê se desenrola alguma mina pro Pastor, Xamã, dá até dó ver que ele leva vida de padre - De novo caio na risada e ele me encara sério - Dá uma moral pra ele, cara, ele não fuma, não bebe, não fode, faz o quê?
Garante a salvação - Respondo naturalmente - E eu vou ficar perto dele pra ver se me salvo também - Pablo cai na risada antes de se sentar enquanto eu guardo dinheiro na carteira.
— Não vai se arrumar?
— Não vou sair - Olho pra ele surpreso - Tenho assuntos pendentes aí cara, preciso me virar.
— De tanto assunto pendente que tu resolve, um dia o pau cai - Ele dá risada, me fazendo rir também, vendo no espelho se o cabelo continua arrumado.
— Em quem cê já tá de olho? - O encaro confuso - Não fode Xamã, tu não se arruma tanto assim atoa! Explana.
— Ainda ninguém, por enquanto, porque o assunto que cê tá resolvendo demais, eu não tô tendo.
— A crise chega a todos, filho, ainda pra mais nessa idade, ninguém quer ficar com idoso não - Dou risada, mostrando o dedo do meio em seguida.
— É dos idosos que as novinhas gostam, não dão trabalho e têm dinheiro, paraíso delas.
— Falando em paraíso - Ele fica sério e eu acabo ficando também - Já foi depositado o dinheiro na conta da Suiça.
— Eu sabia que precisava comemorar hoje - Digo aliviado – Faz as contas deles e separa o dinheiro pra pagar o carregamento da Colômbia, quero que o Felipe leve já o dinheiro na mão porque não quero o nosso nome perto do Quintero.
— Porquê?
— Não tá sabendo? A polícia tá quase fodendo com aquele cartel, ele tá tentando brincar com as famílias dos policiais, mas tá ficando apertado.
— Aí, que foda! Tá doido, imagino a aflição...
— A gente já sabe que andando na chuva pode se molhar - Suspiro - Mas ele tá achando que foi entregue por algum dos dele - Pablo arregala os olhos, ainda mais surpreso e eu aceno com a cabeça - Se fosse comigo, eu ia me foder, mas eu matava o filho da puta.
— A gente também não sabe o porque eles entregaram o Quintera, não podemos tirar conclusões precipitadas.
— Foda-se Escobar, que se foda o motivo, se eu tiver uma mínima desconfiança que seja, eu mando matar. Eu trato cada um de vocês que nem família, não mereço isso.
— Nenhum de nós seria capaz, irmão - Ele vem na minha direção e me abraça - Continuando, amanhã o dinheiro já deve estar disponível pra pagar.
— Ainda bem, hoje precisei pagar o Luan e tô vendo muito dinheiro saindo.
— Luan já vejo aqui? - Aceno positivamente - Não vejo o Luan desde Março ou Abril, eu acho. Veio pro Uruguai e desapareceu do mapa.
— Com uma mulher como a dele eu não saía nem pra trabalhar, cê é louco - Comento rindo.
— Você acha? Não me lembro de ter achado que a namorada dele era boa.
— Mó bonita cara, nada a ver com ele - Rimos.
— A necessidade é foda - Ele responde - Vou voltar pro meu cantinho antes que a minha mulher decida sair pra procurar um Uruguaio por aí.
— A necessidade é foda, hein Pablo?

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora