quarenta e três

936 101 41
                                    

« Alana »

Acordei mas não abri os olhos. Minha cabeça estava doendo tanto que eu sentia que, se abrisse olhos rapidamente, era capaz de explodir.
Me espreguicei e fui abrindo os olhos devagar enquanto tentava lembrar o que eu fiz na noite anterior pra ficar naquele estado. Sentei na cama e ao colocar o pé no chão, sinto algo mais macio, então forço um pouco mais o pé, tentando identificar o que era aquilo.

— Pisa na mãe - Ouço a voz do Lore a automaticamente começo a rir - Idiota.
— Desculpa, amigo.

Ele murmura algo que não consigo entender e logo vejo que já dormiu de novo. Mais a frente, no sofá de dois lugares estava a Tay, num sono tão profundo que era capaz de não acordar nem se explodisse uma bomba ao lado da casa.
Nós aproveitamos como merecíamos a noite anterior. Talvez até demais. Tive um estalo na memória e tive a impressão de que tinha mandado alguma merda por mensagem pra alguém. Procurei pela cama o meu celular e quando o encontrei, vi que haviam mais duas chamadas perdidas do Felipe.

— Merda! - Digo enquanto tento retornar a ligação mas devido aos danos na tela, eu mal conseguia selecionar nada.

Depois de muito custo, consegui ligar mas chamou até cair. Tentei mais algumas vezes, mas não tive sucesso e aí eu já comecei a pensar no pior. Só podia ter dado alguma merda, pra que ele ia me ligar numa noite como aquela se não pra avisar que algo tinha dado errado? Senti uma tremenda agonia no peito e fechei os olhos tentando regular minha respiração, eu tinha ficado mais ansiosa desde a merda toda, isso era um fato.
Coloquei a mão no peito e senti o colar que o César havia me dado. Passei os dedos delicadamente sobre a cruz e tentei pensar positivo, era o que o César iria me dizer pra fazer. E aí meu telefone tocou.

— Felipe?! - Digo rapidamente ao atender.
— Até ontem, era César, agora você me deixou na dúvida - Diz rindo e eu acabo por rir também.
— Desculpa, eu achei que fosse o Felipe - Digo enquanto me levanto para sair do quarto.
— E não está aparecendo o nome na tela?
— Então, é que eu tive um probleminha com meu celular, ele deu uma trincadinha e aí ficou com aquela mancha preta em algumas partes.
— Deu uma trincadinha? Pelo jeito que ce tá falando, no mínimo teu celular caiu de um prédio - Fala me fazendo rir.
— Não de um prédio, mas caiu.
— Caiu ou você jogou?
— Caiu quando eu joguei na parede - Digo e ele ri levemente e logo solta um suspiro.
— O que aconteceu?
— Não foi nada - Caminho devagar pelo corredor em direção às escadas.
— Alana, eu já te disse que pode conversar sobre tudo comigo.

Sinto um nó se formar na minha garganta e logo me veio a vontade de chorar. Não de tristeza, eu não era mais capaz de ficar triste por causa dele. Era raiva, muita raiva.

— Alana?
— An... Oi, foi mal - Ri - O Luan apareceu.
— Ah - Percebi que ele ficou surpreso - E vocês conversaram?
— Ele não é homem o suficiente pra isso - Rio irônica - Ele curtiu uma foto nossa que eu tinha postado.
— Espera. Ele não falou com você?
— Não - Sentei em um dos degraus da escada.
— Ele só curtiu a foto?
— Uhum.
— Alana, eu sinto muito por isso. Sei como você ficou mal e eu quem te aconselhou a ter paciência quando soube que ele estava bem.
— É César, mas ...
— Mas eu acho que é hora de seguir em frente. Ele podia muito bem ter mandado uma mensagem, feito uma ligação ou aparecido, não sei, falar com o Xam... Índio, com o Índio, pedir pra te dizer algo. Dessa vez nem eu consigo defender ou te pedir pra ter calma, você tá no seu direito de ficar chateada.
— Você sempre me entende, incrível - Sorrio - Tô sentindo tanto sua falta e dos outros.
— Seu patrão me prometeu que logo vai trazer você pra ficar uns dias aqui com a gente.
— Espero que seja logo - Sorrio - E como foi a noite?
— Muito boa. Fiquei com a minha família e uns amigos, fizemos um churrasco. Queria ficar mais com eles.
— E porque não fica?
— Tenho um show hoje à noite, na verdade eu tô indo pro Rio daqui a pouco.
— Acho que essa deve ser a parte foda da vida de artista.
— Com certeza é, mas é tudo por um propósito maior - Diz e eu sorrio mais uma vez. A forma que ele levava a vida era algo admirável - Mas e a sua noite? Foi boa?
— Até onde eu lembro, sim - Rimos - Trouxe dois amigos aqui pra mansão e nós ficamos por aqui.
— E fora essa situação com o Luan, tá tudo certo?
— Sim. Quer dizer, não sei. O Felipe me ligou algumas vezes e eu não atendi, agora tô meio assim, com medo de ter acontecido alguma coisa.
— Não deve ter acontecido nada, se não você já estaria sabendo de uma forma ou de outra. Mas logo vou estar com meu amigo, posso perguntar, se quiser.
— A gente não pode envolver o Pastor nessas coisas - Digo tentando imitar o Índio e nós dois rimos.
— Não se preocupa, só vou dizer que você pediu pra perguntar se ta tudo bem, ele vai entender. Sempre entende.
— É, ele sempre entende tudo - Digo e minha mente viaja pensando no Índio.
— E esse tom de voz, hein? - Ri.
— Tá doido? Eu hein - Me levanto.
— Às vezes eu também entendo tudo, sabe? - Continua rindo - Acho que ... Alana, tenho que desligar, tá na hora de ir.
— Tudo bem. Se você mandar mensagem e eu não responder, é porque tá meio complicado com meu celular, mas me liga quando der.
— Eu ligo. E você também, qualquer coisa que precisar, ou se não precisar de nada mas quiser ligar, fica a vontade.
— Obrigada - Sorrio - Boa viagem, bom show.
— Valeu. Fica com Deus.
— Amém.

A chamada foi encerrada mas eu permaneci sentada ali. Era incrível a forma como o César fazia tudo parecer calmo, ele sempre me dava esperança de que as coisas podiam da certo. E eu acreditava nisso. Uma hora ou outra as coisas iam dar certo pra mim, talvez fosse demorar, eu ia passar umas poucas e boa, mas ia dar certo. Tinha que dar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 28, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

𝙰𝚖𝚘𝚛 𝚎 𝙲𝚘𝚌𝚊𝚒𝚗𝚎.Onde histórias criam vida. Descubra agora