Nunca duvide!

01:

Meredith

— Vamos logo, Meredith! — Exclama minha irmã impaciente com a demora.

Passo o dedo indicador no canto da boca limpando o borrado do meu batom vermelho, calmamente. Estou retocando a maquiagem no espelho retrovisor do carro antes de ir para a grande casa iluminada.

— Já vou — me olho uma última vez.

— Não quero perder nem um segundo, essa é a festa do ano! — Ela fala mais para si mesma do que para mim. — Vem — chama indo na frente.

Apresso o passo me afastando do carro. Carol era minha irmã mais nova, mas por ser mais alta era confundida frequentemente com a mais velha — o que ocasiona comigo negando os fatos.

— Espera — digo, quase lhe alcançando.

Essa era para ser a melhor festa do ano, entendo ela não quer perder nada. Courtney é só a garota mais rica de toda cidade, e quando ela resolve organizar um evento praticamente todo mundo quer estar lá. Foram convidados apenas os alunos do último ano, alguns do segundo, eu dei a sorte de ser do terceiro, esse ano.

Meu relógio de pulso marca exatamente 21:15. A noite tem um ar sereno que passa por mim enquanto atravesso a rua em direção a mansão que Courtney chama de casa. Na entrada já havia pessoas no gramado conversando e bebendo.

Quando enfim subimos a escadaria passamos pela porta enorme. Vimos um DJ tocando música em um volume consideravelmente alto. Um bar improvisado na cozinha e vários jogos. É, com certeza vai ser difícil superar essa festa.

— Vocês vieram! — Viro para a dona da casa, ela tem um copo na mão, enquanto sorri para nós com entusiasmo.

— Não perderíamos sua festa por nada. — Digo sorrindo de volta, Carol que está ao meu lado concordo de imediato.

— Claro, fique à vontade, agora eu tenho que ir — Courtney declara arrumando o cabelo volumoso pelos cachos antes de sair e se perder entre as pessoas na pista de dança.

Carol olha ao redor procurando alguém, depois volta sua atenção em mim me olhando como se pedisse permissão para ir alí.

— Vai lá. — Balanço os ombros com um sorriso fechado.

— Assim que eu encontrar o Ken, venho te procurar. — Fala um pouco alto por conta da música que havia sido elevada.

— Ok — faço um aceno de cabeça despreocupada.

— Não beba demais, a tia Vivian não gosta! — Me avisa antes de sair.

— Tá, já sei — resmungo indiferente, mas guardo na memória.

A tia Vivian nunca gosta quando chegamos bêbadas, então sempre evitamos. Observo ela sair atrás do namorado, me forço a andar depois de um tempo parada no mesmo lugar. Vou até uma mesa qualquer me apoiando nela. Tem jogos de todos os tipos, com bebidas ou sem. Organizado por pessoas de uniformes — pagas para estar aqui, supôs.

Ainda não está muito agitada, parece até calma, mas divertida. Fico apenas olhando um garoto jogando sinuca. Ele tenta se concentrar à medida que o taco se desvia, está pálido e não para de piscar rápido.

— Aposto que ele vai vomitar! — Murmuro para ninguém em especial.

— Foi exatamente o que eu disse para o Nick agora pouco — uma voz familiar soou atrás de mim.

Inclino a cabeça na mesma hora encarando o garoto bronzeado. Ben Wright, conheço ele desde de sempre, mas nunca fomos amigos. O termo correto seria “conhecidos que não se suportam”. Na sexta série ele coloco chiclete no meu cabelo, eu posso ter quebrado o nariz dele, acidentalmente é claro.

Depois de irmos para o Ensino Médio ele paro, sem brincadeiras de mal gosto, nada. Sinto falta daquela época, pelo menos minha vida tinha algum entretenimento. Mantenho meu olhar cauteloso no seu rosto, passo por seus cabelos loiros recém cortados e em sua camisa branca aberta — é difícil admitir, mas o filho da mãe era muito sexy.

— Ben, cadê seu relógio? — Faço a nossa piada interna que, aliás, eu sabia que ele odia, fingindo preocupação.

Ben suspiro negando, enquanto apoia os cotovelos na mesa entre nós. Preparada para algum jogo.

— Sabe como é, eu esqueci em casa — responde casualmente, seu amigo ri olhando pro lado.

— Mas sem o relógio o Ben, não é dez! — Resmungo, fazendo uma expressão de lamentação.

Ben revira os olhos.

— E você, Meredith, ainda tem conjuntivite? — Ele prende o riso ao citar a piada interna com o meu nome.

Olho para ele com os olhos semicerrados. Não acredito que ele lembra dessa. Sempre fazíamos piadas com o nome um do outro, não dava para resistir.

— Não adianta, não rima! — Retruco me virando por completo ficando cara a cara. — Vai jogar? — Mudo de assunto apontando para mesa de madeira repleta de bebidas.

O jogo do vira, vira, de quem aguentar beber mais. Eu até jogaria, contudo não quero terminar a noite bêbada e com minha tia me dando sermão no outro dia. Ben coloco a mão na nuca me observando com suas órbitas negras iguais a noite.

— Está me convidando? — Arqueia uma sobrancelha.

— Não, não posso ficar bêbada — respondo esfregando um lábio no outro sentindo meu batom ainda neles.

— Qual é, vamos jogar — pede em um tom neutro.

Ben pega uma mecha do meu cabelo analisando a cor preta, pintei há alguns dias.

— Gostava quando você era ruiva — comenta ainda com meu cabelo entre seus dedos.

— Pois é, ele quase bateu em um garoto por causa disso! — Nick, o garoto que está com Ben, comenta.

Ri do seu comentário, então ele recolhi a mão. Seu amigo nos encara com divertimento.

— Vai jogar? — Insiste mudando de assunto e arrumando a postura.

Afundo os dedos no meu longo cabelo jogando para trás. Por fim nego me preparando para sair em busca da minha irmã.

— Não foi dessa vez... — Assim que me ponho na direção contrária, avisto Carol vindo até mim com seu namorado.

— EU DUVIDO! — O loiro nas minhas costas praticamente grita.

— O que disse? — Forço meus calcanhares a se voltarem para trás outra vez.

— Eu duvido, era isso que você queria ouvir? — Repete calmo dessa vez.

— Não devia ter dito isso — sorri largamente.

Seu grito foi baixo, mas foi alto o bastante para termos a atenção de todos. O garoto da sinuca passo por nós correndo — indo vomitar, provavelmente! Enquanto eu encaro suas íris negras, Ben me olha de volta com uma expressão indecifrável.