Nunca duvide!

10:

Meredith

Uma semana depois, alguns desafios, o Ben quase levou uma surra do pai um tempo atrás. Foi tudo leve demais, temos que elevar o nível dos desafios. Mas meu bom humor não durou muito, o som do toque do meu celular já está em um nível totalmente insuportável, com a frequência que toca.

Carol está na nossa mesa, a mesma que sentamos durante o intervalo todo dia. Só consigo pensar em como o barulho é insuperável.

— Aqui — disse ela acendendo para mim.

Cheguei na nossa mesa forçando um sorriso, piscando para afastar qualquer sinal de tristeza. Antes de sentar peguei o aparelho para deliga-lo.

Tocou de novo.

— Não vai atender? — Sua pergunta me deixou hesitante, mas com raiva.

— Vou… — Engoli em seco. Aceitei a chamada aproximando a mão trêmula até o rosto.

"Alô?"

Fiquei em silêncio por um tempo com a respiração pesada.

"Alô, bom dia, sou a secretária, sua mãe me pediu para ligar porque no momento ela não tem tempo. Estou ligando para avisar que o dinheiro foi depositado. Gostaria de deixar algum recado?"

"Vai se foder!"

Meus olhos derramam lágrimas de raiva sem o meu consentimento. Nem pisquei, sinto escorrer pelo meu rosto, o que o Ben disse antes vem na minha mente e tudo só piora, sobre chorar não combinar comigo.

"Desculpe, acho que entendi errado."

— Eu disse: "VAI SE FODER!", esse é o meu recado!

— Quem era? — Indago assustada.

Desliguei. Carol me olha confusa, mas eu não diria que sua mãe perfeita nem ao menos fazia uma ligação, ela mesma, não diria uma palavra, para que minha irmã não tivesse que sofrer tanto quando eu.

Deixei a bandeja com comida para trás, deixei a mesa, que só tinha suas amigas e o seu namorado. Não choraria na frente de ninguém. Corri para longe dos olhares de pena. Corri como se isso fosse o bastante. Corri com os olhos transbordando.

Meredith Stone chorando, nunca, a quem diga que eu nem tenho sentimentos.

Antes que eu chegasse a saída, fui interrompida pelo moreno forte, capitão do time de lacrosse. Brendon está entrando no refeitório enquanto eu apenas quero sair. Ele tem o mesmo olhar dos outros.

Ri sem humor, mas foi sua voz quem saiu primeiro:
— Você é capaz de chorar? Aposto que o inferno está congelando!

Franzi a testa, se isso foi pelo fora que lhe dei da última vez que falei com ele, Brendon não passa de um grande babaca de merda. Foi na sua direção cheia de ódio, achei que sabia o que era, mas na verdade é um sentimento bem desagradável.

Minha mão quase acertou a sua cara, ele segurou meu braço apertando com força.

— Você não passa de uma…

Sua frase foi interrompida bruscamente, o soco acertou seu queixo em cheio lhe fazendo cambalear e me soltar. O loiro alto e forte veio na minha direção me encarando com desespero, segurando meu rosto entre as mãos para ter certeza que estou bem. Desviei o rosto, tentando limpar o rímel que não me deixa mentir sobre estar chorando.

— Quem fez você chorar? — Mordi o lábio deixando algumas lágrimas escaparem, muitas, mais do que eu gostaria. — Se me disser que foi esse idiota, sabe o que vou fazer por mentir!

— N-não, eu quero… ficar sozinha! — minha voz está trêmula, não quero chorar na sua frente.

— Tudo bem, vamos — Ele tirou o casaco  cobrindo minha cabeça e me guiando para fora, longe do centro daquela pequena comoção.

Fomos interrompidos:
— Acho que pode me bater, e sair assim?

— Não acho, eu posso mesmo!

Me virei andando dois passos curtos, minha paciência tinha acabado. Fingi dar um tapa, aceitei um soco de direita lhe fazendo cair assustado e confuso, se não bastasse apanhar, tinha apanhado de uma garota também.

( … )

Vi uma fúria descontrolada em seus olhos, não para mim, por mim:
— Quem.fez.você.chorar?

Quando notei que estávamos a sós, no corredor perto do banheiro, só então pude respirar. Sua insistência em saber não resolveria nada.

— Ninguém, não é da sua conta! — Me encostei na parede esperando que ele apenas fosse embora. Esfreguei as pálpebras com o torço da mão para limpar o rímel borrado. — É um problema meu.

— E você é o meu problema, então por mais que você não goste, seus problemas são os meus também — encarei ele sem saber o que dizer. Seu corpo se aproximou do meu me colocando contra a parede. — Quem foi?

Prendi o fôlego. Pisquei rápido para afastar as lembranças, a mãe perfeita que achei ter até os meus 10 anos, achei que ela voltaria, achei que não precisaria chorar sozinha todas as noites, achei que ela não faria falta. Agora, sofro calada escondendo da minha irmã a verdadeira natureza dela.

— Shi…, não quis fazer você chorar — percebi que meus olhos transbordam quando seu polegar se arrasta na minha bochecha. — Não precisa me dizer agora!

— O que está fazendo? Não preciso da sua pena, e da sua preocupação! — Tentei lhe afastar.

O loiro segurou meus pulsos em cima da cabeça encostando a testa na minha.

— Porra, não faz isso comigo, não sabe o quanto estou louco de odeio — seu nariz esfrego minha bochecha. — Você também me odeia, mas pode me odiar de perto?

Neguei fechando os olhos. Não quero ele perto de mim.

— Não posso, fique longe — sacudi as mãos ficando brava. — Me solta Ben, não preciso que tente cuidar de mim, e nem sei porque está fazendo isso!

Ele riu, como se eu tivesse contado uma piada.

— Não sabe, é claro que não, é segredo, o nosso segredo — sussurrou.

Franzi a testa. Esperei uma explicação, que não veio. O silêncio que tinha tudo para ser constrangedor, não foi. Minha expressão de confusão e a sua de paisagem falam por si só. Parei de lutar contra ele, Ben passo meus braços em volta do seu pescoço me pegando no colo e levando para o banheiro.

Não tinham maldade nas suas ações. Ele me colocou sentada na pia e pegou do papel higiênico que tinha perto. Molhou a mão e esfregou minha pálpebra passando o papel depois. Minha voz está em algum lugar, no momento não sei dizer.

— Diga alguma coisa — ele pediu. — Diga que me odeia, diga!

Não podia dizer, não era verdade. A única coisa que odeio é amor esse idiota com tudo que sou.

— Eu duvido…