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Meredith

Acordei assustada, quase caindo da cama com um som estrondoso, que por falar é na minha própria casa. Me virei cobrindo o rosto.

Odeio isso!

Hoje é domingo, o dia onde às pessoas dormem até a hora do almoço. Mas para variar minha tia está de implicância com a vizinha de novo. Quem sou eu para falar da rixa alheia?

Remexo meu corpo no colchão sonolenta e sem consegui dormi com o barulho. Esse som só pode ter sido amaldiçoado por um cantor de ópera. Desisto de dormir, sendo enfim vencida. Em qualquer outra rua se espera que os vizinhos chamassem a polícia, no entanto nossa "vizinhança" não liga, é capaz deles pedirem para aumentar o som ou chamar para um churrasco.

Levantei com o humor péssimo, não falo com ninguém até escovar os dentes. Vou para o meu banheiro sonolenta e encarei meu reflexo percebendo estar usando a mesma roupa de ontem. Não lembro de quase nada, fecho os olhos sentindo uma dor incômodo na cabeça.

— Nunca mais eu bebo — jogo água na cara.

— MEREDITH? — Minha tia chama batendo na porta do quarto com urgência. — ABRA ESSA PORTA! — Manda gritando.

— Nunca mais eu bebo! — Repito reforçando minhas palavras.

Sai do banheiro me apoiando na porta, respiro fundo antes de enfrentar a fera.

— Bom dia para senhora também — saldo abrindo a porta para ela.

— O que foi que eu falei sobre chegar bêbada? — Arquei uma sobrancelha, mostra no semblante as rugas de preocupação.

— Não dirigir bebendo? — Chutei a resposta tentando buscar na memória, só que não vinham.

A senhora minha tia levanto um dedo indicador denunciando que o sermão iria começar.

— Por favor, tia — pedi me sentada no colchão com as mãos na cabeça que lateja. — Minha cabeça vai explodir — resmungo.

— Não venha com essa, eu avisei — diz andando de um lado a outro. — Se não fosse o menino Ben, você poderia estar não sei a onde, vai agradecê-lo e espero que faça pelo menos isso — declara por fim saindo em passos silenciosos.

Mas o som continua tocando e agora com a porta aberta parece mais alto. Cubro o rosto com uma almofada grunhindo.
Não vou agradecê-lo coisa nem uma!
Fechei os olhos querendo dormir só mais um pouquinho. Sobressaltei com um estrondo do som, tia Vivian, fez de propósito. Me arrastei até o banheiro de novo xingando o Ben por fazer aquele jogo idiota.

Depois de um banho melhorei a minha aparência, contudo a dor na cabeça continua. Foi até a cozinha comer alguma coisa e tomar um remédio.

— Será que a senhora pode baixar esse som? — Peso mesmo sabendo que minha credibilidade caiu bastante após essa noite.

— E perde a oportunidade de infernizar a vida daquela santa do pau oco? Sem chances! — Paro de limpar os móveis colocando uma mão na cintura fina.

— Argh! — Praguejei baixo.

Será que eu e o Wright também somos irritantes assim? O que eu estou pensando? É claro que sim. Comi uma maçã procurando a Carol com os olhos. Ela deve estar no quarto dela pintado as unhas.

— Já vou — aviso passando na sala, enquanto a tia Vivian usa o aspirador no tapete.

— Tchau querida, juízo, tome cuidado e olhe pros dois lados antes de atravessar a rua... — Ela instrui.

Apenas acenei em concordância abrindo a porta de madeira na cor branca, combina com as paredes verde-claro. A vizinha espera do lado de fora alguém sair, cuidando do jardim de forma atrapalhada.

Aprecei o passa, descendo os degraus da varanda. Ela foi mais rápido vindo na minha direção com pressa.

— Ei, calma garota — vem se chegando.

Penso em ignorar e sair correndo. A saia dela cobra até os pés, mas o decote é tão grande que os peitos caem pra fora — e ainda diz que é evangélica.

— Senhora Griffin — profiro seu sobrenome com desânimo.

— Madalena, pode pedir para sua tia baixar esse som… O meu bebê está assustado. — Abri a boca indignada por ela sempre esquecer meu nome.

— Aquele pulguento? — o bebê que ela se referia era o cachorro. — Nem se eu quisesse, e olha que a um segundo atrás eu queria!

— Ora, sua garota... Detestável! — Aponto o dedo fazendo careta.

— Tem quem goste, olha o seu exemplo tem gosto prá tudo mesmo — faço pouco caso com um sorriso de canto diabólico. — Passar mal, e um mau dia para senhora! — Finalizei me afastando pela calçada.

[ ... ]

Toc, toc.

Bate na porta esperando a Emily abrir para mim ou baby ly como chamamos às vezes. Para meu completo azar quem atende a porta é o irmão dela.

— Meredith? — Ben arqueia uma sobrancelha.

— Não, o papa! — passei pelo mesmo esbarrando no seu braço. — Emily, garotas? — chamei por ela e às irmãs ao pé da escada.

Não é como daqueles clichês em que a garota e o garoto são vizinhos, eu moro no começo da rua e ele no final. Venho na casa ao lado do Ben, porque molho às plantas da senhora que vivi lá aos finais de semana, ela me paga 250,00 dólares.

Sempre chamo as irmãs do Wright para me ajudar. A mais velha é a Emily de catorze, cabelo escuro ruivo, e sardas, Mia tem onze anos, ama esportes e a minha pequeninha é a Gigi de seis anos. Todas se parecem mais com a mãe, já o Ben puxo o pai.

— Já vamos descer. — Mia avisa.

O Ben passa por trás de mim esfregando a mão na minha bunda e se jogando no sofá como se não tivesse feito nada de mais.

— Não sei porque eu já namorei você! — Encaro seu peito desnudo, bronzeado além da conta.

— Como não? Você me arranhava todo e... — Ele foi interrompido pela Emily que descia as escadas com a Gigi no colo.

— Ninguém quer saber os detalhes da vida amorosa de vocês — afirma rindo sem humor.

— Ex-vida — eu e ele falamos ao mesmo tempo. Nós olhamos com intensidade travando uma guerra interna. Desviei dele indo pegar a Gigi dos braços da Emily.

— Sei que não faço isso muito, mas obrigada por me levar em casa ontem — solto o ar que estou prendendo, fiz isso por um único motivo e tive que engolir o orgulho.

— Pode repetir isso mais devagar? — Pergunta esperançoso.

Revirei os olhos em resposta, ajeitando a pequena Gigi no meu colo.

— Vamos logo, quero ganhar dinheiro — Mia pede colocando o boné para trás.

— Corrompeu elas tão rápido — fala com pesar. — Não tive nem chance de me despedir! — lamenta fechado os olhos.

— Mas a gente não moleu — Gigi nega fazendo biquinho e falando um pouco errado.

Minha expressão convencida fez ele mostrar a língua sem ter o que dizer, o mesmo ligo a TV. Foi em direção a porta chamando elas com um movimento de cabeça.

— Tchau, te odeio! — Me despeço dele.

— Te odeio mais — escutei mesmo ele falando baixo.

— O amor não é lindo? — Emily questiona, enquanto passamos pela porta.

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