Me desfaço do abraço de Philipe, mesmo desejando ficar ali pra sempre. Já estava anoitecendo, então fui acender as lamparinas pela casa, quando me deparo com Rafael chegando pela porta. Vejo Philipe indo ao encontro do irmão, e os dois se abraçam. No fundo eu tenho uma certa inveja da relação dos dois, apesar de saber sobre Rafael e Laura e Philipe nunca saber o que houve.Eu nunca tive irmãos, quase não consegui viver com meus pais, passei a maior parte da minha vida com minha avó e a outra parte com Eliot. Agora estou tentando uma nova vida com Philipe. Não sei como isso irá acabar, mas sinto que nosso final será perfeito, como aqueles romances que tinham na biblioteca do palácio.
Escuto Rafael falar meu nome e me aproximo deles. As próximas palavras que ele diz são absurdas, algo como ter sido sequestrada pela minha avó durando o parto da minha mãe no palácio, o que fazia de mim...
— É Kallice, você é irmã gêmea de Laura. — ele repete.
Eu mal sinto as palavras saírem da minha boca, quando tenho uma tontura enorme e sinto meu corpo cair no chão.
***
Aos poucos minha consciência vai voltando, primeiro escuto vozes distorcidas, depois sinto que estou deitada em minha cama. Tento abrir os olhos, mas não consigo, então foco em escutar o que estão falando. Aparentemente, Philipe e Rafael discutem fora do quarto.— Desculpe, eu não sabia como dizer, você sabe como sou complicado com as palavras.
— É, mas pelo menos dessa vez você poderia ao menos ter falado comigo antes e arrumaríamos um jeito de contar a ela.
Escuto suspiros e finalmente consigo abrir os olhos. As velas iluminam o quarto, pisco os olhos para me acostumar com a luz e vou me levantando aos poucos, me sentando na cama começo a chamar por Philipe. Ele entra no quarto acompanhado de Rafael.
— Você está bem? — pergunta preocupado.
— Estou sim, só foi muita coisa pra digerir. Do nada meus pais não são meus pais, minha avó foi uma sequestradora e eu sou filha do rei de Alcans, irmã de Laura. — Falo, fazendo gestos com minhas mãos para eu mesma tentar entender toda situação.
— Kallice, desculpe, não sabia como contar...
— Não precisa de desculpar, você investigou tudo isso sozinho, se não fosse por você, nunca saberíamos de nada. — Falo segurando a mão de Rafael por um tempo. — Mas a questão agora é, o que vamos fazer? Vocês vão contar a verdade para o rei de Alcans?
Eu não conseguia me imaginar sendo a rainha de Belvedere e agora não consigo me imaginar sendo princesa de Alcans. O rei acha que Philipe matou Laura, mas e agora quando ele souber que a outra filha dele, que todos achavam que tinha morrido só nascer, está casada com Filipe? Será que ele vai acreditar nessa história? Será que ele vai me aceitar como filha?
Eu não quero pensar nisso, pelo menos não agora. Minha vida estava tão boa, eu e Philipe juntos, vivendo em paz, eu achava que agora íamos ter harmonia nas nossas vidas, mas tudo se embolou novamente, como uma avalanche.
— Seria o certo a se fazer, mas se eu chegar perto de Alcans, sou morto na hora, e também não vou deixar você ir lá sem mim. — Philipe se sentou do meu lado, bufando.
— E se eu o chamar pra um banquete no palácio? Eu não te falei, mas depois que a notícia que você havia deixado o trono se espalhou, ele me mandou uma carta querendo promover a paz entre os reinos e obviamente aceitei. O baquete será para selar a paz e lá nos arrumaríamos um jeito de falar com ele. — Rafael me pareceu bem animado com a ideia, mas eu tenho minhas dúvidas se daria certo.
— É uma ideia deveras interessante, irmão — Philipe também me pareceu animado — o que você acha Kallice?
— Pra ser sincera eu não tenho certeza, mas se vocês quiserem assim, eu concordo.
— Perfeito então, amanhã mesmo vou mandar um mensageiro, agora é torcer pra ele aceitar o convite.
Eu já estava me me sentindo melhor então resolvi ir preparar o jantar. Philipe e Rafael discutiam o plano enquanto eu servia a comida, estava planejando tudo nos mínimos detalhes. Rafael foi embora logo após o jantar e fiquei conversando com Philipe sobre essa revira-volta que deu a minha vida; e agora esperar para amanhã que o rei, vulgo meu pai, aceite o convite para o banquete e assim contaremos toda a verdade.
Eu só espero sinceramente que tudo dê certo e que ele acredite na gente, senão eu não sei o que poderá acontecer.
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Kallice
Historical FictionEm meados do século XVI, fazia 8 anos que Kallice se viu perdida, sem qualquer resquício de sua memória. Seu marido, Eliot, havia lhe dito que a queda de um penhasco fora o que resultou naquele incidente. Apesar dos males ambos construíram uma...